quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O CLÁSSICO DA MINHA VIDA, by Alexandre C. Aguiar

Não vou entrar na celeuma pueril de que o jogo entre Avaí e Figueirense seja o maior clássico de Santa Catarina. São dois clubes que jogam há anos e não se precisa de teses e teorias para provar A ou B. O fato é que é um clássico, e dos bons.
Meu primeiro clássico nunca esquecerei. Foi, simplesmente, a decisão do catarinense de 1975. Aquela partida me marcou. Eu tinha 14 anos e era a primeira vez num estádio, num jogo importante, numa decisão, e estava agoniado por aquilo, pois o time para o qual eu torcia era um daqueles ali em campo.
Segundo os historiadores, o “clássico” conhecido como clássico mesmo começou em 1924, numa partida onde o Avaí vencia e o Figueirense virou. Depois, em 1938, houve o famoso 11 a 2, onde sobressaiu o talento de um jovem atacante avaiano e que viraria lenda, o Saulzinho.
Houve ainda um jogo inusitado, o clássico de 1971, no qual, depois de um briga generalizada entre os 22 jogadores, o árbitro Gilberto Nahas decidiu expulsar a todos e a partida foi encerrada em 0 x 0.
Poderia contar aqui os diversos clássicos e as diversas situações e aspectos pitorescos de cada um deles, mas um bom leitor pode, efetivamente, consultar a internet ou os livros de história sobre o futebol catarinense e se deliciar com isso.
Entretanto, eu fico, exatamente, com este de 1975, que foi a primeira decisão entre os dois clubes. Era o terceiro jogo da final. Eu ainda não era um acompanhante ferrenho de futebol, mas sabia, pelo que contavam ali perto nas arquibancadas, que o Figueirense tinha a vantagem de jogar pelo empate. Ou seja, só a vitória interessava ao Avaí.
Era o mês de agosto, ainda fazia um pouquinho de frio, mas o sol nas nossas cabeças incomodava um pouco. Confesso que me senti nervoso, mesmo ainda não tendo uma sensação de torcedor de estádio vivenciada em minha mente. Olhei para tudo, para todo o estádio, para as pessoas, para aquela movimentação, para os times enterrando em campo, para a comoção que tomava conta dos torcedores e, quando observei minhas pernas, elas tremiam.
Então, o jogo começou. Acompanhei as jogadas, os lances, sem nenhum que houvesse me chamado a atenção. O Avaí fazia algumas boas jogadas, o Figueirense respondia, mas nada que incomodasse a ninguém. Houve, sim, algumas confusões, com entradas mais duras dos dois lados. O tal de Zenon, um cabeludo com a camisa 10, para quem todos os olhos se voltavam e que eu só havia visto por fotos de jornal, era o jogador mais caçado. O primeiro tempo terminou em 0 x 0, e já se dizia que o título era do Figueirense. Alguns caras pareciam rir, de nervoso, talvez.
Veio o segundo tempo. O nervosismo havia aumentado. O clima de festa que existiu antes da partida e em boa parte do primeiro tempo, havia acabado. O estádio socado de gente ficou em silêncio em alguns momentos. O tal de Zenon, e que talvez tenha me ensinado a compreender o que é ser ídolo, marcou um gol, mas que foi anulado pelo bandeirinha. Confesso que não vi o lance, pois estava observando dois sujeitos, um do Avaí e outro do Figueirense, se xingando cada qual de um lado da arquibancada. Aquilo não ia acabar bem. Depois do gol anulado, houve uma confusão com o bandeirinha, que recebeu o que parecia ser uma pedrada na cabeça e teve que sair de campo, sangrando. Um sujeito do meu lado confirmou que tinha sido uma pilha de rádio.
A partida reiniciou e as confusões em campo já se estendiam pelas torcidas. Tinha um clima estranho no ar, que só aumentava. E aí, numa jogada pela lateral do campo, o tal de Zenon, que agora era o Zenon, craque e ídolo, driblou dois jogadores do Figueirense e cruzou para a área, encontrando a cabeça de um galego grandalhão chamado Juti. Era o gol do Avaí. Não sei se chorei. Acho que sim. Mas uma explosão muito forte se somou a de todos os torcedores ao meu lado. Abraçava e cumprimentava pessoas que não conhecia, mas que pareciam ser amigos de longa data, irmãos, ou parentes muito próximos.
Houve uma sensação de alívio e de festa no local destinado à torcida do Avaí. A alegria contagiou a todos. Muitos choravam mesmo, com lágrimas derramadas. O Avaí vencia o jogo e se tornava campeão. E fui para casa com a sensação de que aquilo ali, aquele evento era, verdadeiramente, um clássico e já ansiava por outros. Queria voltar ao estádio em outras vezes.
Era e é algo muito bom.
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC

12 Comentários:

Roberto disse...

Gostei do texto. Eu também estava lá.
Ainda tenho na memória o drible do Zenon, fazendo dois zagueiros barbies caírem amontoados na linha de fundo, antes de cruzar a bola milimetricamente na cabeça de Juti, para o gol do título.
Bons tempos, os seres humanos eram bem mais humanos. - RC

Unknown disse...

Olá!Alguém teria fotos das torcidas nestes três jogos?

André Tarnowsky Filho disse...

RC,

Eu também estava lá, mas só para lembrar: foram 3 jogos memoráveis; 3 a 2 para os barbies; Avaí 3 a 0 e esse último, Avaí 1 a 0.
Bons tempos!

André Tarnowsky Filho disse...

Unknown,

Meu amigo Fernando Luiz Pinheiro Guimarães posa com o time naquela tradicional foto antes do jogo, como mascote, com o irmão dele Fabiano e outro amigo, o saudoso Angelo Bez Júnior.

Carlos avaiano disse...

Estive nesse jogo, e vi algo voando em direção a cabeça de Dalmo Bozzano,em seguida ele leva a mão á cabeça e mancha de sangue.
Dai desencadeou o ódio pelo avai, pois alegaram que foi nossa torcida quem arremessou, mas na minha ótica veio das sociais.

Roberto disse...

MANDRIÃO, estive nos três, é claro. - RC

Unknown disse...

Obrigado e parabéns pelo blog. Sempre a meia noite vejo ele. Eu queria saber como foi feita a divisão das torcidas nesse dia. Por isso queria ver as fotos antigas.
Grato. Ricardo Ullrich

André Tarnowsky Filho disse...

Ricardo Ullrich,

Obrigado pelos elogios ao blog!
Nos mesmos moldes de hoje, mas ainda era arquibancada metálica. A torcida do Avaí, porém, dominou toda aquela área atrás do gol. Além disso, não havia esse problema de hoje de apenas entrar por um portão: era um ambiente mais "civilizado"...

Abraço!

André Tarnowsky Filho disse...

Ricardo Ullrich,

Não por isso.
És sempre bem vindo!

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