SALA DE ESPERA - Parte 3, by RC
O telefone volta a tocar. Ela atende:
- Escritório do doutor Seixas.
- Rosalba?
- Ah, é a senhora, mãe?
- Rosalba, você continua fumando? Eu soube que você anda fumando demais.
- Não me diga que a senhora ligou só pra isso, mamãe? Eu estou cheia de trabalho.
- Rosalba, você já esteve internada por causa dos pulmões, não foi brincadeira e
agora está grávida. Você tem que pensar na sua saúde e nessa filha que você vai ter.
Será que esqueceu as advertências do médico?
- Eu já consegui diminuir bastante, mamãe. Hoje, por exemplo, o dia todo eu só
fumei três cigarros, e com filtro.
- Eu me preocupo demais com isso. O médico disse que você deveria parar de vez,
minha filha. Vai ser bom para a criança, vai ser bom para você.
- Eu sei mãe, mas é uma das poucas distrações que eu tenho...
- É dinheiro jogado fora, além de tudo.
- Eu estou parando, mãe, aos poucos eu estou parando.
- O Sérgio não briga com você por causa disso?
- O Sérgio? Nem sei onde anda o Sérgio. Ele não quer mais saber de mim, mãe,
desde que eu engravidei. Ele queria que eu tirasse; como eu me neguei ele disse que vai
contestar a paternidade da filha na justiça, então a senhora acha que ele vai se preocupar
se eu fumo, ou não? Eu estou é fuzilada, pra não dizer outra coisa.
- E você, o que é que diz disso?
- Disso o quê?
- De a filha ser dele ou não?
- Eu tenho quase certeza que é.
- Quase?...
- É, quase. Mas é muito difícil que não seja.
- Dois desmiolados, é o que vocês são.
- Mãe, me fale do pai. Como é que ele está?
Silêncio.
- Mãe?
- O quê, minha filha?
- A senhora parou de falar. A senhora está chorando?
- Não. Não estou, não.
- Está. Eu não sou boba. Estou ouvindo a senhora fungar.
- Não se preocupe comigo.
- Está chorando por causa do pai, não é? Diz logo, como é que está o pai?
- Ele sim, tem chorado muito.
- O pai tem chorado?
- Sim. O Nestor da farmácia diz que o que ele tem é depressão.
- Coitado do pai. E o sangramento? Continua?
- Continua. Parece que vão cortar um pedacinho lá nele, pra examinar, pra ver se não
é maligno.
- Uma biópsia.
- Isso aí.
- E ele tem se alimentado bem?
- Ah, isso tem. Tá magrinho, mas o apetite não perdeu. Continua gabando o meu
feijão.
- Sempre foi bom o feijão da senhora, só de falar já me deu água na boca.
Um cliente ergue-se do sofá, aproxima-se do balcão.
- Senhorita... – Ele diz, mas vendo a gravidez, corrige-se. – Desculpe, senhora.
- Um minutinho, mãe. É senhorita, senhor.
- Ah, a senhorita tem certeza que o doutor ainda vem aqui hoje?
- Que ele vem é de certeza. Só não posso precisar a hora. O senhor sabe como são as
audiências, não têm hora pra acabar.
- Não vou esperar mais, volto amanhã. Obrigado.
- Fala, mãe.
- Pois é, minha filha, liguei pra saber de você, mas principalmente por essa questão
do cigarro. Não se esqueça, por você e pelo bem dessa criança.
- Vou ver o que posso fazer.
- Deus te abençoe, minha filha. Ah, já quase me esquecia, ontem o Pedro, teu irmão,
voltou pra casa, se juntou de novo com a mulher.
- Ah, que bom! Enfim, uma notícia boa. Será que vai durar dessa vez? Será que criou
juízo? Ele não merece aquela mulher, mãe. O Pedro não merece.
- Vamos botar fé, minha filha, que Deus ajude. Ele já fez aquela moça sofrer muito.
- Vou ter que desligar; mãe. Um beijo. Dá um beijão no pai.
- Um beijo pra você, minha filha.
Rosalba volta-se para o livro, já em sua última página.
- Vamos fazer uma coisa formal, meu bem? Uma grande festa, vestido branco,
grinalda, buquê e um bolo enorme?
- Não sei...
- Não sei? Mas o que é isso? É claro que sabe, sim, menina. Vai ser o seu grande
dia. – Disse dona Lucy. – No meu tempo mulher nenhuma dispensava essas coisas.
- Sobre isso gostaria que John também opinasse.
- Acho que mamãe tem razão, Helen. E depois, sempre que me imaginei casando a
noiva vestia branco, usava véu, grinalda, arremessava o buquê às encalhadas e partia
o bolo. Então...
- Então, seja feita a vossa vontade. Mas, é claro que eu estava só brincando, é claro
que a festa tem que ser completa. Eu não seria louca de dispensar essas coisas. – Disse
Helen, exultante.
- E a lua de mel? Já escolheram o local? – Pergunta dona Lucy.
- Paris, é claro. – Disse John.
- Escritório do doutor Seixas.
- Rosalba?
- Ah, é a senhora, mãe?
- Rosalba, você continua fumando? Eu soube que você anda fumando demais.
- Não me diga que a senhora ligou só pra isso, mamãe? Eu estou cheia de trabalho.
- Rosalba, você já esteve internada por causa dos pulmões, não foi brincadeira e
agora está grávida. Você tem que pensar na sua saúde e nessa filha que você vai ter.
Será que esqueceu as advertências do médico?
- Eu já consegui diminuir bastante, mamãe. Hoje, por exemplo, o dia todo eu só
fumei três cigarros, e com filtro.
- Eu me preocupo demais com isso. O médico disse que você deveria parar de vez,
minha filha. Vai ser bom para a criança, vai ser bom para você.
- Eu sei mãe, mas é uma das poucas distrações que eu tenho...
- É dinheiro jogado fora, além de tudo.
- Eu estou parando, mãe, aos poucos eu estou parando.
- O Sérgio não briga com você por causa disso?
- O Sérgio? Nem sei onde anda o Sérgio. Ele não quer mais saber de mim, mãe,
desde que eu engravidei. Ele queria que eu tirasse; como eu me neguei ele disse que vai
contestar a paternidade da filha na justiça, então a senhora acha que ele vai se preocupar
se eu fumo, ou não? Eu estou é fuzilada, pra não dizer outra coisa.
- E você, o que é que diz disso?
- Disso o quê?
- De a filha ser dele ou não?
- Eu tenho quase certeza que é.
- Quase?...
- É, quase. Mas é muito difícil que não seja.
- Dois desmiolados, é o que vocês são.
- Mãe, me fale do pai. Como é que ele está?
Silêncio.
- Mãe?
- O quê, minha filha?
- A senhora parou de falar. A senhora está chorando?
- Não. Não estou, não.
- Está. Eu não sou boba. Estou ouvindo a senhora fungar.
- Não se preocupe comigo.
- Está chorando por causa do pai, não é? Diz logo, como é que está o pai?
- Ele sim, tem chorado muito.
- O pai tem chorado?
- Sim. O Nestor da farmácia diz que o que ele tem é depressão.
- Coitado do pai. E o sangramento? Continua?
- Continua. Parece que vão cortar um pedacinho lá nele, pra examinar, pra ver se não
é maligno.
- Uma biópsia.
- Isso aí.
- E ele tem se alimentado bem?
- Ah, isso tem. Tá magrinho, mas o apetite não perdeu. Continua gabando o meu
feijão.
- Sempre foi bom o feijão da senhora, só de falar já me deu água na boca.
Um cliente ergue-se do sofá, aproxima-se do balcão.
- Senhorita... – Ele diz, mas vendo a gravidez, corrige-se. – Desculpe, senhora.
- Um minutinho, mãe. É senhorita, senhor.
- Ah, a senhorita tem certeza que o doutor ainda vem aqui hoje?
- Que ele vem é de certeza. Só não posso precisar a hora. O senhor sabe como são as
audiências, não têm hora pra acabar.
- Não vou esperar mais, volto amanhã. Obrigado.
- Fala, mãe.
- Pois é, minha filha, liguei pra saber de você, mas principalmente por essa questão
do cigarro. Não se esqueça, por você e pelo bem dessa criança.
- Vou ver o que posso fazer.
- Deus te abençoe, minha filha. Ah, já quase me esquecia, ontem o Pedro, teu irmão,
voltou pra casa, se juntou de novo com a mulher.
- Ah, que bom! Enfim, uma notícia boa. Será que vai durar dessa vez? Será que criou
juízo? Ele não merece aquela mulher, mãe. O Pedro não merece.
- Vamos botar fé, minha filha, que Deus ajude. Ele já fez aquela moça sofrer muito.
- Vou ter que desligar; mãe. Um beijo. Dá um beijão no pai.
- Um beijo pra você, minha filha.
Rosalba volta-se para o livro, já em sua última página.
- Vamos fazer uma coisa formal, meu bem? Uma grande festa, vestido branco,
grinalda, buquê e um bolo enorme?
- Não sei...
- Não sei? Mas o que é isso? É claro que sabe, sim, menina. Vai ser o seu grande
dia. – Disse dona Lucy. – No meu tempo mulher nenhuma dispensava essas coisas.
- Sobre isso gostaria que John também opinasse.
- Acho que mamãe tem razão, Helen. E depois, sempre que me imaginei casando a
noiva vestia branco, usava véu, grinalda, arremessava o buquê às encalhadas e partia
o bolo. Então...
- Então, seja feita a vossa vontade. Mas, é claro que eu estava só brincando, é claro
que a festa tem que ser completa. Eu não seria louca de dispensar essas coisas. – Disse
Helen, exultante.
- E a lua de mel? Já escolheram o local? – Pergunta dona Lucy.
- Paris, é claro. – Disse John.
- SALA DE ESPERA - Parte 1, clique e confira.
- SALA DE ESPERA - Parte 2, clique e confira.
* Roberto Costa, o "RC", é associado do Avaí FC
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