quinta-feira, 23 de abril de 2020

SALA DE ESPERA - Parte 3, by RC

O telefone volta a tocar. Ela atende:

     - Escritório do doutor Seixas.

     - Rosalba?

     - Ah, é a senhora, mãe?

     - Rosalba, você continua fumando? Eu soube que você anda fumando demais.

     - Não me diga que a senhora ligou só pra isso, mamãe? Eu estou cheia de trabalho.

     - Rosalba, você já esteve internada por causa dos pulmões, não foi brincadeira e
agora está grávida. Você tem que pensar na sua saúde e nessa filha que você vai ter.
Será que esqueceu as advertências do médico?

     - Eu já consegui diminuir bastante, mamãe. Hoje, por exemplo, o dia todo eu só
fumei três cigarros, e com filtro.

     - Eu me preocupo demais com isso. O médico disse que você deveria parar de vez,
minha filha. Vai ser bom para a criança, vai ser bom para você.

     - Eu sei mãe, mas é uma das poucas distrações que eu tenho...

     - É dinheiro jogado fora, além de tudo.

     - Eu estou parando, mãe, aos poucos eu estou parando.

     - O Sérgio não briga com você por causa disso?

     - O Sérgio? Nem sei onde anda o Sérgio. Ele não quer mais saber de mim, mãe,
desde que eu engravidei. Ele queria que eu tirasse; como eu me neguei ele disse que vai
contestar a paternidade da filha na justiça, então a senhora acha que ele vai se preocupar
se eu fumo, ou não? Eu estou é fuzilada, pra não dizer outra coisa.

     - E você, o que é que diz disso?

     - Disso o quê?

     - De a filha ser dele ou não?

     - Eu tenho quase certeza que é.

     - Quase?...

     - É, quase. Mas é muito difícil que não seja.

     - Dois desmiolados, é o que vocês são.

     - Mãe, me fale do pai. Como é que ele está?

     Silêncio.

     - Mãe?

     - O quê, minha filha?

     - A senhora parou de falar. A senhora está chorando?

     - Não. Não estou, não.

     - Está. Eu não sou boba. Estou ouvindo a senhora fungar.

     - Não se preocupe comigo.

     - Está chorando por causa do pai, não é? Diz logo, como é que está o pai?

     - Ele sim, tem chorado muito.

     - O pai tem chorado?

     - Sim. O Nestor da farmácia diz que o que ele tem é depressão.

     - Coitado do pai. E o sangramento? Continua?

     - Continua. Parece que vão cortar um pedacinho lá nele, pra examinar, pra ver se não
é maligno.

     - Uma biópsia.

     - Isso aí.

     - E ele tem se alimentado bem?

     - Ah, isso tem. Tá magrinho, mas o apetite não perdeu. Continua gabando o meu
feijão.

     - Sempre foi bom o feijão da senhora, só de falar já me deu água na boca.

     Um cliente ergue-se do sofá, aproxima-se do balcão.

     - Senhorita... – Ele diz, mas vendo a gravidez, corrige-se. – Desculpe, senhora.

     - Um minutinho, mãe. É senhorita, senhor.

     - Ah, a senhorita tem certeza que o doutor ainda vem aqui hoje?

     - Que ele vem é de certeza. Só não posso precisar a hora. O senhor sabe como são as
audiências, não têm hora pra acabar.

     - Não vou esperar mais, volto amanhã. Obrigado.

     - Fala, mãe.

     - Pois é, minha filha, liguei pra saber de você, mas principalmente por essa questão
do cigarro. Não se esqueça, por você e pelo bem dessa criança.

     - Vou ver o que posso fazer.

     - Deus te abençoe, minha filha. Ah, já quase me esquecia, ontem o Pedro, teu irmão,
voltou pra casa, se juntou de novo com a mulher.

     - Ah, que bom! Enfim, uma notícia boa. Será que vai durar dessa vez? Será que criou
juízo? Ele não merece aquela mulher, mãe. O Pedro não merece.

     - Vamos botar fé, minha filha, que Deus ajude. Ele já fez aquela moça sofrer muito.

     - Vou ter que desligar; mãe. Um beijo. Dá um beijão no pai.

     - Um beijo pra você, minha filha.

Rosalba volta-se para o livro, já em sua última página.


- Vamos fazer uma coisa formal, meu bem? Uma grande festa, vestido branco,
grinalda, buquê e um bolo enorme?

- Não sei...

- Não sei? Mas o que é isso? É claro que sabe, sim, menina. Vai ser o seu grande
dia. – Disse dona Lucy. – No meu tempo mulher nenhuma dispensava essas coisas.

- Sobre isso gostaria que John também opinasse.

- Acho que mamãe tem razão, Helen. E depois, sempre que me imaginei casando a
noiva vestia branco, usava véu, grinalda, arremessava o buquê às encalhadas e partia
o bolo. Então...

- Então, seja feita a vossa vontade. Mas, é claro que eu estava só brincando, é claro
que a festa tem que ser completa. Eu não seria louca de dispensar essas coisas. – Disse
Helen, exultante.

- E a lua de mel? Já escolheram o local? – Pergunta dona Lucy.

- Paris, é claro. – Disse John.


SALA DE ESPERA - Parte 1, clique e confira.

- SALA DE ESPERA - Parte 2, clique e confira.


* Roberto Costa, o "RC", é associado do Avaí FC


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