Dossiê Avaí - as presumíveis razões de nossa queda (2)
Continuando a explanação dos motivos que nos levaram à queda, na segunda parte desse tema que eu preferi chamar de dossiê Avaí, quero me ocupar dos preços dos ingressos.
Matéria badalada e batida, falada pela maioria da torcida, ocupou o
espaço de discussão entre todos os torcedores desde que foi implantada.
No começo desse processo, lá em 2010, blogueiros e torcedores foram
convocados pela direção, cujo intento era divulgar a majoração que
aconteceria a partir daquele momento. O projeto foi elaborado pela
empresa paranaense MidiaWeb, cujos conhecimentos da realidade de
Florianópolis eram parcos e limitados, conforme o desenrolar da situação
demonstrou depois, com o aval do senhor Nerto Machado e da senhora
Otilia Pagani, ambos presentes naquela reunião. Além do mais, como todo
bom estrangeiro que não conhece um local e puxa nomes estranhos para os
nativos, fomos chamados de AZULÃO pelos moços. Não foi deboche,
pois eles se achavam sérios e acreditaram naquilo veementemente. Dá-se a
isso outro nome, que a educação que minha mãe me deu me impede de
dizer.
O projeto de majoração, ainda que com divergências fortes na referida
reunião, foi empurrado goela abaixo pelo presidente e por alguns
acessores, que resultou numa desarrumação e indisposição entre torcida e
clube. Nunca mais a nossa relação foi a mesma. Se a intenção era
dividir compromissos e custos, foi feita de maneira amadora e
intempestiva, com desdobramentos assombrosos.
Um time de futebol profissional existe em razão de sua torcida, de seus
aficcionados, de seus simpatizantes, de quem o segue. Não há time no
mundo que sobreviva sem torcida, mesmo que seus cofres estejam
abarrotados e se faça um super-time. Jogaria para quem, este time
milionário e poderoso? Cadê a sua torcida? Algum investidor botaria
dinheiro num deserto? Ela, a torcida, é quem mede o seu calor, testa seu
entusiasmo e vibra com seu desempenho e sua recuperação, quando estiver
a perigo. E o empenho de uma torcida para com o seu time é a vibração
que sai das arquibancadas. Dependendo destas motivações, o time se torna
implacável.
Ocorre que dez dentre dez clubes de futebol no mundo exigem que se pague
para assistir a um espetáculo. Obviamente que isso é necessário. Só que
o preço, na maioria das vezes, tem se tornado caro. O preço dos
ingressos é muito alto o que inviabiliza a ida dos torcedores aos
estádios como uma prática comum. E, o que é curioso, o futebol é feito
para torcedores, o que nos faz pensar que alguém rodou em matemática na
escola.
No Avaí sofremos do mesmo mal, a majoração dos preços de ingressos, mas
em doses maiores do que o normal praticado por aí, graças àquele projeto
que eu apontei acima. Chega a ser patética a cobrança de preços tão
altos em nosso estádio, para uma cidade com poderes de mercado limitados
e população pequena. Somos vítimas, ao invés de torcedores, sequer parceiros.
Mesmo que deixe metade de seus salários nos guiches da Ressacada para
acompanhar o seu time, o torcedor não consegue ir a duas ou três
partidas seguidas. E ai de quem não for, pois ainda pode ser acusado de
não colaborar com o clube.
A respeito da frase (A maior e mais apaixonada torcida de Santa Catarina),
postada na cobertura da Ressacada, é preciso entender o que ela
significa. E para quem foi escrita. Ao dispô-la naquele local, quem a
fez e quer torcida apaixonada no estádio não pode dificultar a sua
entrada. De uma vez por todas se acabe com isso. Soa como algo
mentiroso, com desonestidade intelectual. Até porque, quando o calo
aperta, o primeiro a ser chamado para “ajudar” é justamente o torcedor
que já foi escorraçado. Aquele mesmo que não ajuda, lembra? Talvez, por
essa razão, em muitos jogos neste ano teve-se que recorrer à torcida
eletrônica. Foi colocado no sistema de som do estádio o grito gravado da
torcida, algo que eu nunca imaginei que um dia pudesse presenciar na
Ressacada.
A política de preços praticada na Ressacada, essa que seleciona e
segrega, nos afasta e deixa claro que a Direção do Avaí quis entrar no
mundo dos negócios na marra, penalizando o seu torcedor. Nenhuma
justificativa é válida, pois a prática se contrapõe ao discurso. Além do
mais é hipócrita, pois se a sua razão era "socializar custos", o clube
proporciona gastos acima do racional compreensivo, comprovando que há
falhas adminstrativas severas.
De uma vez por todas deve-se ter em mente que o futebol tem que ser
financiado por empresas e não pelos torcedores. É difícil obter empresas
que queiram embarcar num projeto conjunto com o clube? Sim, todos nós
sabemos, mas cadê o marketing? Cadê o planejamento? Cadê o pessoal que
possa tratar de vender bem a nossa marca? O mais fácil é tirar do
bolso de quem tem menos? Valorizar a marca é isso, encher o estádio, ou
aumentar os ingressos? As questões são diversas, uma vez que ninguém
consegue entender essa matemática.
Referindo-se estritamente às Mensalidades, ninguém é sócio por
obrigação. Mas mensalidades devem estar com valores correspondentes à
média dos proventos da região, pois acabam caindo na mesma vala comum
dos preços dos ingressos. Além do mais, ser sócio significa algo
diferenciado. O sujeto deve ser tratado como parceiro, a categoria de
sócio deve refletir algo participativo, o tratamento torna-se, então,
único e personalizado. Customiza-se a paixão. Todas as benesses e
regalias pertinentes e procedentes devem ser canalizadas para o sócio.
Ele deve se sentir querido pelo clube. O retorno será óbvio e mais
apaixonado ainda.
Hoje, ser torcedor, sócio ou simpatizante do Avaí Futebol Clube é um
favor. E essa situação foi também uma de nossas mazelas nesse período.
Ajudou na queda, uma vez que faltou torcida no estádio.
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