sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dossiê Avaí (2), by Alexandre Carlos Aguiar

Dossiê Avaí - as presumíveis razões de nossa queda (2) 

Continuando a explanação dos motivos que nos levaram à queda, na segunda parte desse tema que eu preferi chamar de dossiê Avaí, quero me ocupar dos preços dos ingressos. Matéria badalada e batida, falada pela maioria da torcida, ocupou o espaço de discussão entre todos os torcedores desde que foi implantada.

No começo desse processo, lá em 2010, blogueiros e torcedores foram convocados pela direção, cujo intento era divulgar a majoração que aconteceria a partir daquele momento. O projeto foi elaborado pela empresa paranaense MidiaWeb, cujos conhecimentos da realidade de Florianópolis eram parcos e limitados, conforme o desenrolar da situação demonstrou depois, com o aval do senhor Nerto Machado e da senhora Otilia Pagani, ambos presentes naquela reunião. Além do mais, como todo bom estrangeiro que não conhece um local e puxa nomes estranhos para os nativos, fomos chamados de
AZULÃO pelos moços. Não foi deboche, pois eles se achavam sérios e acreditaram naquilo veementemente. Dá-se a isso outro nome, que a educação que minha mãe me deu me impede de dizer.

O projeto de majoração, ainda que com divergências fortes na referida reunião, foi empurrado goela abaixo pelo presidente e por alguns acessores, que resultou numa desarrumação e indisposição entre torcida e clube. Nunca mais a nossa relação foi a mesma. Se a intenção era dividir compromissos e custos, foi feita de maneira amadora e intempestiva, com desdobramentos assombrosos.


Um time de futebol profissional existe em razão de sua torcida, de seus aficcionados, de seus simpatizantes, de quem o segue. Não há time no mundo que sobreviva sem torcida, mesmo que seus cofres estejam abarrotados e se faça um super-time. Jogaria para quem, este time milionário e poderoso? Cadê a sua torcida? Algum investidor botaria dinheiro num deserto? Ela, a torcida, é quem mede o seu calor, testa seu entusiasmo e vibra com seu desempenho e sua recuperação, quando estiver a perigo. E o empenho de uma torcida para com o seu time é a vibração que sai das arquibancadas. Dependendo destas motivações, o time se torna implacável.


Ocorre que dez dentre dez clubes de futebol no mundo exigem que se pague para assistir a um espetáculo. Obviamente que isso é necessário. Só que o preço, na maioria das vezes, tem se tornado caro. O preço dos ingressos é muito alto o que inviabiliza a ida dos torcedores aos estádios como uma prática comum. E, o que é curioso, o futebol é feito para torcedores, o que nos faz pensar que alguém rodou em matemática na escola.


No Avaí sofremos do mesmo mal, a majoração dos preços de ingressos, mas em doses maiores do que o normal praticado por aí, graças àquele projeto que eu apontei acima. Chega a ser patética a cobrança de preços tão altos em nosso estádio, para uma cidade com poderes de mercado limitados e população pequena.
Somos vítimas, ao invés de torcedores, sequer parceiros. Mesmo que deixe metade de seus salários nos guiches da Ressacada para acompanhar o seu time, o torcedor não consegue ir a duas ou três partidas seguidas. E ai de quem não for, pois ainda pode ser acusado de não colaborar com o clube.

A respeito da frase (
A maior e mais apaixonada torcida de Santa Catarina), postada na cobertura da Ressacada, é preciso entender o que ela significa. E para quem foi escrita. Ao dispô-la naquele local, quem a fez e quer torcida apaixonada no estádio não pode dificultar a sua entrada. De uma vez por todas se acabe com isso. Soa como algo mentiroso, com desonestidade intelectual. Até porque, quando o calo aperta, o primeiro a ser chamado para “ajudar” é justamente o torcedor que já foi escorraçado. Aquele mesmo que não ajuda, lembra? Talvez, por essa razão, em muitos jogos neste ano teve-se que recorrer à torcida eletrônica. Foi colocado no sistema de som do estádio o grito gravado da torcida, algo que eu nunca imaginei que um dia pudesse presenciar na Ressacada.

A política de preços praticada na Ressacada, essa que seleciona e segrega, nos afasta e deixa claro que a Direção do Avaí quis entrar no mundo dos negócios na marra, penalizando o seu torcedor. Nenhuma justificativa é válida, pois a prática se contrapõe ao discurso. Além do mais é hipócrita, pois se a sua razão era "socializar custos", o clube proporciona gastos acima do racional compreensivo, comprovando que há falhas adminstrativas severas.


De uma vez por todas deve-se ter em mente que o futebol tem que ser financiado por empresas e não pelos torcedores. É difícil obter empresas que queiram embarcar num projeto conjunto com o clube? Sim, todos nós sabemos, mas cadê o marketing? Cadê o planejamento? Cadê o pessoal que possa tratar de
vender bem a nossa marca? O mais fácil é tirar do bolso de quem tem menos? Valorizar a marca é isso, encher o estádio, ou aumentar os ingressos? As questões são diversas, uma vez que ninguém consegue entender essa matemática.

Referindo-se estritamente às
Mensalidades, ninguém é sócio por obrigação. Mas mensalidades devem estar com valores correspondentes à média dos proventos da região, pois acabam caindo na mesma vala comum dos preços dos ingressos. Além do mais, ser sócio significa algo diferenciado. O sujeto deve ser tratado como parceiro, a categoria de sócio deve refletir algo participativo, o tratamento torna-se, então, único e personalizado. Customiza-se a paixão. Todas as benesses e regalias pertinentes e procedentes devem ser canalizadas para o sócio. Ele deve se sentir querido pelo clube. O retorno será óbvio e mais apaixonado ainda.

Hoje, ser torcedor, sócio ou simpatizante do Avaí Futebol Clube é um favor. E essa situação foi também uma de nossas mazelas nesse período. Ajudou na queda, uma vez que faltou torcida no estádio.

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