Futebol que vale à pena, by Alexandre C. Aguiar
Às vezes é preciso dizer que o futebol que a gente jogava no campinho
da rua, aquele onde nem grama tinha, em que a bola, se chutada com mais
força acabava por cair no terreno vizinho é muito, mas muito diferente
do futebol dos campeonatos promovidos pela FIFA ao redor do mundo,
incluindo este no qual o time da Catalunha deu uma traulitada no Santos.
É necessário dizer isso?
De certa forma é preciso ressaltar, sim, pois há ainda quem pense que
se tratam de coisas iguais. Naquele campinho, depois das peladas, íamos
cada qual para nossas casas, viver as vidas cada um e, se adultos, nos
reuníamos e tomávamos aquela cevadinha gelada após o encontro. E tudo
acabava em samba, suor e piadas. Acompanhado de uma porção de batatinhas
frita ou aquele contra-file na grela. O grau de comprometimento para
aquele futebol era quase zero, era uma tremenda diversão.
No campeonato de futebol em que nos tornamos a sensação em 2009, e
que até agora, para desespero da mídia local nenhum outro clube da
cidade conseguiu, todos têm os seus compromissos e cada profissional ali
trata este evento como o seu sustento. É dali que muita gente tira
algum para pagar contas ou constituir família. Ou mesmo para comprar o
carro da moda, ou freqüentar as baladas mais alucinadas. E ainda me
lembro de uma frase do Silas, lá no começo de 2008, quando aquele time
mágico estava tomando corpo e jeito, e os curiosos e empresários de fora
já nos queriam levar nossos recém ídolos, de que era preciso ganhar 500
mirréis agora para poder ganhar 1.000 lá na frente.
Os atletas que ganharam 500 lá, naquele tempo, suportaram tudo. Um
campeonato longo, uma campanha estafante, mas triunfal, os humores de
uma torcida exigente, a parcialidade de uma imprensa medíocre e as
incertezas da profissão. E tudo isso por 500 contos. Mas, ao surgirem os
contratos de 1.000, quando foram para outros clubes levados pelos
empresários, eles admitem que ainda vale à pena a profissão que
abraçaram.
Mas, o que sobra para quem fica? Para os torcedores que acalentam
sonhos e para os clubes que empregam estes saltimbancos? Qual é o
prosseguimento disso tudo em suas vidas?
No futebol de resultados e de negócios que se transformou este que é
jogado por aqui, não há mais espaço para bons times e campanhas
memoráveis. Isso é cada vez mais raro. O romantismo cedeu lugar ao
pragmatismo. A negociação de atletas e os contratos vultuosos são mais
importantes do que uma discussão de esquema tático, uma jogada ou a
condição física dos times. Gastamos horas e teclados a decidir quem vai e
quem vem, ao invés de se saber como se jogará.
Cada vez mais eu me convenço de como vale à pena continuarmos jogando
o nosso futebolzinho de fim de semana, encontrando os amigos, tomando a
cevadinha gelada e nos divertindo. O bom e verdadeiro futebol.
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Força Azurra (http://forcaazurra.wordpress.com/)
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