quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Futebol que vale à pena, by Alexandre C. Aguiar

Às vezes é preciso dizer que o futebol que a gente jogava no campinho da rua, aquele onde nem grama tinha, em que a bola, se chutada com mais força acabava por cair no terreno vizinho é muito, mas muito diferente do futebol dos campeonatos promovidos pela FIFA ao redor do mundo, incluindo este no qual o time da Catalunha deu uma traulitada no Santos. É necessário dizer isso?

De certa forma é preciso ressaltar, sim, pois há ainda quem pense que se tratam de coisas iguais. Naquele campinho, depois das peladas, íamos cada qual para nossas casas, viver as vidas cada um e, se adultos, nos reuníamos e tomávamos aquela cevadinha gelada após o encontro. E tudo acabava em samba, suor e piadas. Acompanhado de uma porção de batatinhas frita ou aquele contra-file na grela. O grau de comprometimento para aquele futebol era quase zero, era uma tremenda diversão.

No campeonato de futebol em que nos tornamos a sensação em 2009, e que até agora, para desespero da mídia local nenhum outro clube da cidade conseguiu, todos têm os seus compromissos e cada profissional ali trata este evento como o seu sustento. É dali que muita gente tira algum para pagar contas ou constituir família. Ou mesmo para comprar o carro da moda, ou freqüentar as baladas mais alucinadas. E ainda me lembro de uma frase do Silas, lá no começo de 2008, quando aquele time mágico estava tomando corpo e jeito, e os curiosos e empresários de fora já nos queriam levar nossos recém ídolos, de que era preciso ganhar 500 mirréis agora para poder ganhar 1.000 lá na frente.

Os atletas que ganharam 500 lá, naquele tempo, suportaram tudo. Um campeonato longo, uma campanha estafante, mas triunfal, os humores de uma torcida exigente, a parcialidade de uma imprensa medíocre e as incertezas da profissão. E tudo isso por 500 contos. Mas, ao surgirem os contratos de 1.000, quando foram para outros clubes levados pelos empresários, eles admitem que ainda vale à pena a profissão que abraçaram.

Mas, o que sobra para quem fica? Para os torcedores que acalentam sonhos e para os clubes que empregam estes saltimbancos? Qual é o prosseguimento disso tudo em suas vidas?

No futebol de resultados e de negócios que se transformou este que é jogado por aqui, não há mais espaço para bons times e campanhas memoráveis. Isso é cada vez mais raro. O romantismo cedeu lugar ao pragmatismo. A negociação de atletas e os contratos vultuosos são mais importantes do que uma discussão de esquema tático, uma jogada ou a condição física dos times. Gastamos horas e teclados a decidir quem vai e quem vem, ao invés de se saber como se jogará.

Cada vez mais eu me convenço de como vale à pena continuarmos jogando o nosso futebolzinho de fim de semana, encontrando os amigos, tomando a cevadinha gelada e nos divertindo. O bom e verdadeiro futebol.

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Força Azurra  (http://forcaazurra.wordpress.com/)

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