Uma questão Ética, by Alexandre C. Aguiar
Este ano que passou nos colocou diante de amargas realidades do
futebol brasileiro. E ela nos confrontou, sobretudo, com questões
éticas, com a postura dos indivíduos dentro da Ressacada, de jogadores,
dirigentes e até torcedores (conselheiros), com o ter antes do ser,
esses princípios que norteiam o cidadão na condução de seus ideais.
Vivemos, durante os anos passados, acusando nosso maior rival de
obter suas conquistas sob o manto da indecência. Há evidências,
certamente, embora não haja provas, de que coisas obscuras os levaram
aonde chegaram, tanto que há dois anos a derrocada do grupo que os
conduziu foi rodeada de mistérios e senões assombrosos. Eles mesmos
diziam que havia uma ponta negra de um iceberg, que se viesse à tona
levaria muitos ao calabouço da iniqüidade. Porém, ninguém quis falar
mais no assunto e todos começaram a sofrer de uma amnésia absoluta de lá
para cá.
O povo avaiano, por sua vez, via aquele bolo crescer com um fermento
infecto e bolorento, e sendo alijado das conquistas por decisões escusas
e espúrias, como se quem decidisse não quisesse a retidão metida no
pântano das improbidades. Os que sabiam e viram aquilo ocorrer não
puderam acusar quando deviam, porque não quiseram quando podiam.
Enquanto isso, saíamos da infância para a vida adulta no futebol
brasileiro muito rapidamente, sem tempo para respirar uma avalanche de
condutas e conquistas. E os choques éticos nos assombravam.
Repentinamente, as acusações, especulações, hipóteses e devaneios de má
conduta administrativa dentro da Ressacada foi o mote principal nas
conversas e encontro entre os avaianos. Suspeitava-se que estávamos
jogando o jogo deles.
Parecia que, para conseguir um lugar ao sol, deveríamos, a partir
daquele momento, jogar o jogo da falta de ética, um aprendizado difícil e
inimaginável a quem sempre quis as boas práticas no futebol, e que
parecia ser do jeito que eles faziam. Não é por nada que a Concentração
com o Leão, ritmos de festas feitas na Ressacada há dois anos para
receber os adversários e demonstrar nossa boa fé, foi um sucesso de
política de boa vizinhança, talvez nunca vista no Brasil. Era a conduta
habitual dos avaianos. Mas, mudamos. Ficamos carrancudos, amargos e
infelizes. Viramos falsos torcedores, posto que não somos os verdadeiros
já definidos pela Direção. Nos tornamos vagabundos, bobalhões.
Nos últimos cinco anos passamos de um grupo extraordinariamente
vencedor para meros perdedores. Juntos, diretoria, comissão técnica,
jogadores e torcedores, que já nos exultamos em conjunto, nos afastamos
com raiva plena e absurda. Ficamos sabendo que o que determinou o
sucesso não foi a capacidade de escolher os vencedores, mas a
necessidade de fazer os perdedores sobressaírem. A que preço?
Os perdedores, parece-nos, foram aqueles que conquistaram as batalhas
pela porta dos fundos, mesmo que tenham colecionado títulos. Podemos
conquistar as nossas batalhas com a implosão da ética e usando o veneno
dos impuros, na medida certa e no momento adequado, deixando de ser
trouxas, sem ingenuidades, entrando pela porta da frente, ou dos fundos,
com a cara e com a coragem. Mas isso, ao que parece, não é a nossa
conduta natural. Um avaiano não é assim.
Por essa razão, vamos moldando nossas necessidades de acordo com as
angustias que nos oprime. Atravessamos um mar tenebroso dos choques
éticos, que nos mostrou ser impossível chegar a algum lugar assim. O
começo de 2012, ou mesmo no finalzinho de 2011, estão nos apresentando
uma realidade de adultos. A partir de agora as bobagens e vaidades devem
ser deixadas de lado. Estamos crescendo, estamos ficando maduros e
estamos decidindo o que queremos e o que nos dá prazer.
A nossa hora está chegando. A hora dos avaianos.
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Força Azurra. (http://forcaazurra.wordpress.com/)
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