sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma questão Ética, by Alexandre C. Aguiar

Este ano que passou nos colocou diante de amargas realidades do futebol brasileiro. E ela nos confrontou, sobretudo, com questões éticas, com a postura dos indivíduos dentro da Ressacada, de jogadores, dirigentes e até torcedores (conselheiros), com o ter antes do ser, esses princípios que norteiam o cidadão na condução de seus ideais. 

Vivemos, durante os anos passados, acusando nosso maior rival de obter suas conquistas sob o manto da indecência. Há evidências, certamente, embora não haja provas, de que coisas obscuras os levaram aonde chegaram, tanto que há dois anos a derrocada do grupo que os conduziu foi rodeada de mistérios e senões assombrosos. Eles mesmos diziam que havia uma ponta negra de um iceberg, que se viesse à tona levaria muitos ao calabouço da iniqüidade. Porém, ninguém quis falar mais no assunto e todos começaram a sofrer de uma amnésia absoluta de lá para cá. 

O povo avaiano, por sua vez, via aquele bolo crescer com um fermento infecto e bolorento, e sendo alijado das conquistas por decisões escusas e espúrias, como se quem decidisse não quisesse a retidão metida no pântano das improbidades. Os que sabiam e viram aquilo ocorrer não puderam acusar quando deviam, porque não quiseram quando podiam. 

Enquanto isso, saíamos da infância para a vida adulta no futebol brasileiro muito rapidamente, sem tempo para respirar uma avalanche de condutas e conquistas. E os choques éticos nos assombravam. Repentinamente, as acusações, especulações, hipóteses e devaneios de má conduta administrativa dentro da Ressacada foi o mote principal nas conversas e encontro entre os avaianos. Suspeitava-se que estávamos jogando o jogo deles. 

Parecia que, para conseguir um lugar ao sol, deveríamos, a partir daquele momento, jogar o jogo da falta de ética, um aprendizado difícil e inimaginável a quem sempre quis as boas práticas no futebol, e que parecia ser do jeito que eles faziam. Não é por nada que a Concentração com o Leão, ritmos de festas feitas na Ressacada há dois anos para receber os adversários e demonstrar nossa boa fé, foi um sucesso de política de boa vizinhança, talvez nunca vista no Brasil. Era a conduta habitual dos avaianos. Mas, mudamos. Ficamos carrancudos, amargos e infelizes. Viramos falsos torcedores, posto que não somos os verdadeiros já definidos pela Direção. Nos tornamos vagabundos, bobalhões. 

Nos últimos cinco anos passamos de um grupo extraordinariamente vencedor para meros perdedores. Juntos, diretoria, comissão técnica, jogadores e torcedores, que já nos exultamos em conjunto, nos afastamos com raiva plena e absurda. Ficamos sabendo que o que determinou o sucesso não foi a capacidade de escolher os vencedores, mas a necessidade de fazer os perdedores sobressaírem. A que preço? 

Os perdedores, parece-nos, foram aqueles que conquistaram as batalhas pela porta dos fundos, mesmo que tenham colecionado títulos. Podemos conquistar as nossas batalhas com a implosão da ética e usando o veneno dos impuros, na medida certa e no momento adequado, deixando de ser trouxas, sem ingenuidades, entrando pela porta da frente, ou dos fundos, com a cara e com a coragem. Mas isso, ao que parece, não é a nossa conduta natural. Um avaiano não é assim. 

Por essa razão, vamos moldando nossas necessidades de acordo com as angustias que nos oprime. Atravessamos um mar tenebroso dos choques éticos, que nos mostrou ser impossível chegar a algum lugar assim. O começo de 2012, ou mesmo no finalzinho de 2011, estão nos apresentando uma realidade de adultos. A partir de agora as bobagens e vaidades devem ser deixadas de lado. Estamos crescendo, estamos ficando maduros e estamos decidindo o que queremos e o que nos dá prazer. 

A nossa hora está chegando. A hora dos avaianos.

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Força Azurra. (http://forcaazurra.wordpress.com/)

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