O clube precisa de um projeto que permita sua longevidade, by Marcos Santos

Olá André,

Historicamente nosso clube tem um vínculo com a tradição beneficente, característica esta que atrasa muitos clubes brasileiros.

Não temos um gestor, um CEO, temos tradicionalmente um patrono. Isto não se resume a atual gestão, esclarecendo desde já, antes que os muito afoitos a proteger imagens sacras insinuem que eu esteja tomando partido deste ou daquele.

Vem desde o tempo do Dr. Aderbal, e por aí foi. Quem assumia, via de regra, botava do bolso. Quase sempre na maior das boas intenções. Amealhava meia dúzia de amigos para levar o clube adiante, mas a falta de um projeto sustentável, fazia a turma ir saindo de fininho (tirar do bolso uma ou duas vezes vá lá, mas a coisa ia ficando na casa do sem jeito e o pessoal deixava o patrono sozinho). Este então fazia do clube a sua gestão individual. Eu boto, eu mando e, eu assumo a culpa (que também não adianta nada, até porque não aprendem, parecem desaprender a cada ano). Mas boas intenções funcionavam bem em outras épocas, hoje não levam um clube a se modernizar e se tornar uma referência.

Neste aspecto, acredito que um projeto maior, que una e integre os avaianos, com objetivos claros poderia nos dar um impulso o qual hoje não temos, ou não percebemos. As nossas metas conhecidas hoje, são as palavras do presidente do clube de que quer o título estadual e subir para a série A. Que bom, eu também quero...

Mas qual o posicionamento estratégico do clube? O que queremos ser? Um clube médio do futebol brasileiro, que tem estabilidade para ficar longos períodos na serie A e disputar competições de maior valor como Copa do Brasil, Sul Americana, Libertadores, ampliando o valor da marca?

Seremos um clube io-io? Onde o impulso desequilibrado para subir pode fazer cair nos anos seguintes simultaneamente 2 ou 3 séries?

Qual, por exemplo, é o modelo de negócio para o futebol? Queremos ser um clube vitrine, que empresários utilizam para veicular seus atletas para mercados maiores (com os lucros...bem...não vamos entrar nesta moita). Ou seremos um clube formador, que investirá fortemente na base, tirando dela parte de seu sustento financeiro mantendo-se conscientemente, com alguma margem de segurança, num longo tempo na série B?

Há outros modelos melhores que podemos seguir? Algum deles é exequivel?

Falo também no projeto de relacionamento do clube com seu torcedor, de buscá-lo de volta. 

Qual é a meta de sócios do AVAI? Em quanto tempo? Quais são as estratégias para conseguí-la? Quem cobra isto? E se não atingir a meta, qual a consequencia pelo insucesso?

Falo ainda do sistema de comunicacao, um dos calos que se agravou muito nos últimos anos. A Ressacada hoje parece um queijo suiço, onde tudo vaza para alguns ratos privilegiados da mídia. É preciso dar-se ao respeito e fazer valer o respeito ao clube.

Uma ação que mobilize a torcida pouco ou nada é divulgada, mas se o jogador perdeu o brinco no vestiario, chega logo mensagem no celular das raposas de plantão.

É necessario sobretudo um projeto de ampliacão de receitas, de parcerias, que dê sustentabilidade a médio e longo para agregar valor a marca, expandir mercado.

Podemos ter investidores no clube? Não só podemos, como devemos. Não se faz nada sem dinheiro. Mas isto tem de estar dentro do projeto, embaixo do guarda chuva. Investidores virão desde que o projeto seja bom.

E o modelo de governança? Quem cobra hoje a gestão do clube?

São hipóteses possíveis e válidas. Mas nós temos este norte?

Bom, se temos um projeto ele está muito bem guardado para que a concorrência não copie. Mas tão bem guardado que nem mesmo os avaianos mais chegados (aqueles tais verdadeiros) conhecem.

Mas fato é que, se temos mesmo um projeto desta magnitude, ele não está suficientemente divulgado e compreendido pela comunidade avaiana, que no atual momento ve pouca luz no fim do túnel, para sermos brandos nas palavras.

Não, eu não tenho algo pronto, nem acredito que algum avaiano tenha hoje. Mas há muitos cérebros na nação azul, e também há a possibilidade de consultorias especializadas. Ninguém sabe tudo, e muito pode ser feito por gente do ramo, desde que os princípios básicos sejam priorizados: O AVAI FC existe única e exclusivamente para gerar valor para sua torcida.

Sem este princípio, todo o resto poderia ser desmontado e remontado em qualquer cidade. Como fazem hoje alguns esportes/clubes cujas franquias pertencem a um dono.

Temos isso? Se temos ótimo, mas eu não conheço, espero que o conselho conheça, aprove e participe.

Os tempos são outros, o discurso da gestão moderna tem de sair do papel e ir para a prática.

Falar de um CT ou novo estadio, em época de crise soa como cortina de fumaça. Um anacronismo desnecessário que só gera mais desconfiança.

Hoje temos a alta liderança do clube com pouca ou nenhuma margem de crédito junto à torcida. Esta por sua vez se sente escanteada e portanto, naturalmente, mais cobra do que apoia. Um Conselho que tambem caiu em grande descrédito por sua inação. Enfim, sem um organismo que tenha reconhecida liderança e que provoque esta sinergia na busca de algo que abrace a todos.

Que projeto, que legado esta gestão que esta a mais de uma década no clube irá deixar para as próximas geraçoes?

O clube, seus sócios e torcedores, a comunidade simpática ao azul e branco (e temos muitos espalhados pelo mundo todo), precisam de um projeto em que acreditem, senão o risco de todas estas partes ficarem aprisionadas ao patrono da hora é altissimo. Perpetuaremos desta maneira um clube que só deixou no Adolfo Konder a casca, pois o modelo, na essência, pouco mudou.

E continuaremos sendo muito menos do que poderíamos ser.

Desculpe alongar-me no texto. São apenas reflexões de um avaiano preocupado com o futuro pelos erros sistematicos do presente.

Um abraço AZUL!

Marcos A. Santos

* Marcos Antônio Santos é associado do Avaí Futebol Clube.