O REGULAMENTO, by Roberto Costa

     Cansado, o sujeito largou do serviço às oito e meia da noite.

     Correu para o ônibus, tinha de chegar em casa rapidamente. Corria contra o tempo, era quarta-feira e queria ver o seu time na TV, jogando pelo Catarinão.

     O ônibus parou e ele desceu. Enveredou pela rua singela, o sapato batendo contra as lajotas, a camisa em listas de código de barras fundindo-se com a escuridão, emprestando um ar de coisa sombria e
perigosa à noite.

     Em passos rápidos chegou em casa, entrou e gritou para a mulher:
 

     - Benhêêê, isquenta a janta.

      Foi para a sala da TV, ligou, sintonizou. Maravilha, bem na hora.

      O "sorteado" Bráulio já apitava o início do jogo. Ele então, primeirão na tabela, sentindo-se um rei, lançou-se no espaço, projetando-se de bunda sobre o sofá, caindo sobre uma coisa dura.

     - Aaaaiiiii ! - Gritou de dor, de forma tão sofrida que assustou a mulher na cozinha.
 

     - Meu Deus, marido, o que foi que houve? - Ela pergunta.

     Entre irado e dolorido ele responde:
    

     - Quem foi que deixou essa porra desse regulamento em cima do sofá?
 

     - Cruzes, bem, - ela diz - tanto estardalhaço assim, só por causa de um regulamento?

* Roberto Costa é associado do Avaí Futebol Clube.