Uma Granja Melancólica, by Alexandre Carlos Aguiar

Os bichos-cricri da famosa granja Comigo Boi Não Dança, ou mais conhecida pelas iniciais CBN-D, a Raposa Felpuda, maledicente e ardilosa, o Sapo Duende, encrenqueiro e eterno inconformado, o Gambá Pretibranqui, liso e ensaboado, que substitui o Bode Espanhol enquanto ele vai polindo umas castanholas,  o Ratão do Banhado, que não deu certo em lugar algum e acabou dando na Granja e o Morcego Moicano, que posa de intelectual para fazer gênero, estavam inconsoláveis com a colheita maldita na Granja do Vizinho.

- Ô, Gambá Pretibranqui, por que essa cara? – quis saber a Raposa Felpuda, ajeitando o cachecol.

- Estou aqui com a cara pintada de raiva pelo que estão fazendo na Granja do Vizinho.

- Mas o que é houve, rapaz? – perguntou o Sapo Duende, sempre arrumando a dentadura que insistia em cair.

- É que os pés de brócolis bicharam. E não tem nenhum Anjo com competência pra arrumar isso. Estão tudo murchinho, caidinhos.

- Chegou aqui a informação que o salto alto do dono da Granja quebrou. – informou o Ratão do Banhado. – A gente não queria informar antes, mas a coisa tá feia. Como bem disse o Sapo, a gente tem sempre que dizer que está tudo bem, que é pra não tumultuar o ambiente.

- Eu não queria dizer nada, não, mas me disse alguém que tá todo mundo loko por lá. Até a pinguela que nunca dão jeito está prestes a cair. – sacramentou o Sapo.

- Mas como? A colheita de brócolis deles era das melhores. – lamentava a Raposa Felpuda.

- Olha, se continuar assim, não sei, não hein. Em casa de ferreiro, tanto bate até que fura. Cão que muito late, caça com rato. Eu tenho uma informação que o Cavalo que comia o brócolis pela raiz tá voltando. – filosofava o Sapo Duende e polindo seus sapatos brancos.

- Pois é, mas uma coisa me chama a atenção. – conjecturava o Morcego Moicano. – Por que será que eles pedem pra gente esconder tanto assim a situação?

- Pxxiiiu! Fala baixo! – recomendou a Raposa Felpuda.

- É, rapaz, tás querendo ficar sem café da tarde nas segundas-feiras? – advertiu o Gambá Pretibranqui.

- Mas o melhor é que por lá eles nem precisam gastar com luz elétrica à noite. – comentou o Sapo.

- Por que, meu caro? – perguntou a Raposa.

- Tem uma porção de lanterna acesa. No meu tempo chamavam de pomboca, mas agora é lanterna elétrica mesmo. – respondeu o Sapo. – O bom é que essa luz dá sempre uma pontinha de esperança.

- Como assim, Sapo? – desentendeu-se a Raposa. – Do que estás falando?

- Talvez seja uma iniciativa do dono da Granja do Vizinho, oras? – continuou, enigmático, o Sapo.

- Esclareça, homem! – impôs o Gambá Pretibranqui.

- É que não tem cara que gosta mais de aparecer do que o Bobetti, o dono da Granja do Vizinho. Assim, com uma porção de pombocas acesas, quem sabe assim ele esteja mais iluminado.

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e colaborador do portal Todo Esporte SC