sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A zona de conforto da rede famosa, by Alexandre C. Aguiar


Não queria me pronunciar sobre as histórias da Ressacada neste período ao qual me dei férias, mas é impossível ficar calado diante de argumentos energúmenos de uns tantos. É, redundei nos vocábulos de propósito. Se sou violento e polêmico, então vou manter a escrita.
Há, evidentemente, um erro de origem. Safar o lado da rede que transmite os jogos do catarinense, alegando que não há retorno financeiro para o futebol local, é de um conforto hipócrita. Como é que é, não temos público? A freqüência não permite mais investimentos? E o pior é que sai dos dedos de (pseudo) publicitários, paus mandados da rede famosa e acompanhado por jornalistas medíocres, ou blogueiros preguiçosos.
Em primeiro lugar, é bom que se diga, a rede gaúcha habita nossos quintais há alguns anos. Bons longos anos, desde os fins da década de 1970. Já foi possível formar uma geração e meia de pessoas que os assiste. Isso significa que retém massa cultural inercial há muito tempo. Formaram cabeças, ditaram regras, conquistaram contratos e venderam produtos. E resguardam um patamar de audiência incontestável. Todos os aparatos de mídia estão em suas mãos, com um share-of-mind dignamente apreciável. Claro que eu contesto o conteúdo, o discurso embutido, a aplicação de ferramentas culturais, a discussão rasteira sobre política e formação intelectual, porém, não há como negar, são formadores de opinião absolutos.
Do outro lado temos as redes que se propõem alternativas. Seus picos de audiência sequer fazem cócegas na rede gaúcha, mesmo fora dos chamados horários nobres. O investimento tecnológico está num platô, sem sair do trivial. Dessa forma, mesmo que façam investimentos vultuosos num campeonato catarinense, o retorno é limitado para eles, pois os patrocinadores dos eventos não sentem a massificação proporcionada pela programação agregada a uma partida de futebol. Os espaços em sua programação, entre uma partida e outra, são vazios ou ocupados pela rede gaúcha. Ou seja, são fatores limitantes para um investimento desse porte.
Os clubes catarinenses, por sua vez, mantém a massa falida da FCF administrando o campeonato por décadas de maneira ineficiente e sem um retorno apreciável. Além disso, dependem da divulgação de seus jogos para agregar público nos estádios e vender sua marca. São coisas que para as quais torço o nariz, mas é assim que funciona o mercado da bola. Por isso, os presidentes dos clubes se omitem na maioria das vezes em pautar os investimentos das redes, seja ela qual for, e acabam aceitando as migalhas que lhes oferecem, uma vez que, “se não tem tu, vai tu mesmo”, é o discurso comum em suas reuniões. Como a rede gaúcha sabe de tudo isso, prefere deixar a maré levar a onda.
Caberia então à rede famosa, se quisesse mesmo alavancar a propalada qualidade de nosso campeonato, antecipar-se às dificuldades e investir pesado na capacidade agregadora e formadora de opinião que possui. Tem cacife para isso. Poderia estabelecer uma agenda para o produto e incentivar os clubes a evoluírem do ponto de vista técnico e empresarial. Ela já provou que conhece o mercado e como trabalhar com os diversos cenários.
Mas não faz!
Ela sabe que as alternativas são ineficazes e aposta no desgaste. Promove o vento, mas guarda o agasalho, para que os incautos gripados corram atrás de sua proteção. Mefistófeles sempre vem cobrar alguma coisa do imprudente que quer crescer sem dar algo em troca.
O que me chama a atenção são as desculpas esfarrapadas de que não temos público e que, proporcionalmente ao estado vizinho, estamos longe de oferecer massa consumidora para um investimento mais robusto. No fundo, na mensagem subliminar, a ideia inaparente é culpar o presidente Zunino de alguma forma. Foucault já dizia isso, que as mensagens estão ocultas.
O presidente do Avaí tem que ser o culpado por não ter peitado a rede, por ter arriado as calças quando do show do Paul, por permitir que os repórteres da rede famosa saibam de tudo antes que todos e por confundir os negócios de propaganda da sua empresa com os do Avaí.
E nem coradas essa gente fica mais.
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e um dos colaboradores do site TodoEsporteSC.

1 Comentário:

Anônimo disse...

AGUIAR. VOCÊ APONTA OS PECADOS DA REDE, SUA NEGATIVA EM ALAVANCAR O NOSSO FUTEBOL, MESMO PODENDO FAZER, COMO DIZES.
É PROVÁVEL QUE OS CLUBES NÃO ESTEJAM SE VALORIZANDO COMO DEVIAM, NA HORA DE NEGOCIAR.
NO FIM, CONDENAS AQUELES QUE ENTENDEM QUE O ZUNINO DEVIA PEITAR A REDE. ORA, NO QUE TOCA À QUESTÃO DOS INVESTIMENTOS PARCOS DA REDE NO FUTEBOL CATARINENSE, CABERIA MESMO AO ZUNINO DESDE ALGUNS ANOS, TALVEZ NÃO PEITAR, MAS TER NEGOCIADO DE FORMA MAIS CATEGÓRICA OS VALORES, NÃO COMO PRESIDENTE DO AVAÍ, MAS COMO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CLUBES, CARGO QUE OCUPOU ATÉ AGORA. EVIDENTEMENTE, COMO TITULAR DO CARGO DE PRESIDENTE, ISSO ERA ATRIBUIÇÃO DELE, ZUNINO, E SE ALGUÉM TEM DE SER CRITICADO POR FRACA GERÊNCIA NESSA QUESTÃO SÓ PODERIA SER ELE, ZUNINO. - Roberto Costa

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