O Avaí que eu quero é..., by Felipe Matos
Dia desses, nosso bravo treinador, Hémerson Maria, declarou que determinada partida seria “um jogo com a cara do avaí”, o que me fez questionar, qual era, afinal, a cara do atual Avaí.
Seja qual for a cara do Avai de hoje, resolvi elencar algumas características que eu gostaria de ver como marcas do clube. Elementos de distinção, que justificasse a fidelidade de seus torcedores e a escolha pelo Avaí por aquela parcela anual de novos torcedores de futebol que ainda não optaram por um time para chamar de seu.
Algumas das características aqui elencadas por mim, o Avaí de hoje já possui. Outras, ainda não.
Mas, como nada é impossível de mudar, convido a todos para, num simples exercício de reflexão, elencarem aquilo que gostariam de ver no Avaí de todos nós.
E se criássemos um clube dos sonhos, uma utopia alviceleste, que cara ele teria? E se pensássemos sobre o que aconteceria se pudéssemos criar um modelo de gestão ideal de clube para ser aplicado aqui, em nosso jardim?
Para começar, o Avaí que eu quero é...
- Um clube transparente: é um clube que procura entender que compartilhar informações é relevante para um bom relacionamento entre clube e torcedor.
As informações devem ser divulgadas de forma responsável, sem factoides, sem “fatos novos” artificiais.
Um Conselho Deliberativo forte, atuante e independente é sinônimo de um clube forte, atuante e independente. Mas, o Conselho não deve ser privilegiado na divulgação de informações. O Conselho é uma das instituições mais importantes do clube por suas atribuições fiscalizadoras e representativas, mas o Conselho não deve ser visto como órgão superior aos torcedores.
O Conselheiro não é um torcedor especial, mais importante ou notável. Ele apenas é um torcedor que acumula uma função representativa. Paga um preço por isso e deve ser cobrado por isso. Se uma hierarquia se fizer necessária, o torcedor estará sempre no topo. É ao torcedor que dirigentes e conselheiros devem prestar contas e eles DEVEM prestar contas.
Cláusulas de confidencialidade são instrumentos legais e ferramentas estratégicas de negociações e não manto para esconder negociatas. Se o seu negócio e os nomes nele envolvidos não podem ser divulgados ou se a divulgação dos nomes e dos métodos da negociação gerariam desconfortos, então este negócio provavelmente sequer deveria estar sendo realizado.
Seja transparente também nas contratações e renovações, pois elas devem obedecer uma política de clube, com a substituição das contratações para “compor o grupo” – método usualmente utilizado para enriquecer sanguessugas atrelados ao clube, que ganham porcentagem dos salários dos atletas – pela utilização de jogadores formados nas categorias de base.
- Um clube ético: que procura tratar os outros - torcedores, atletas, funcionários, imprensa, patrocinadores, entidades esportivas, empresários – como gostaria de ser tratado. A ética e a transparência minimizam polêmicas, fofocas, mal-entendidos, constrangimentos, situações delicadas e promovem a autoestima e a confiança da torcida no clube e em seus gestores.
Embora não seja um órgão público, por sua dimensão popular e por ser patrimônio cultural de seus torcedores, o clube não deve misturar interesses pessoais de seus gestores, funcionários, parceiros e conselheiros, com os interesses da instituição. A maior parte da montoeira do novo Neymar é da instituição,
- Um clube que cumpre direitos e deveres: O Estatuto é uma das principais instituições do clube, deve ser defendido e seguido, não é letra morta.
- Um clube que promova o diálogo: ouve o que o outro – e principalmente a sua torcida - está dizendo. Um clube que pede e concede esclarecimentos, registra o que foi dito e responde quando questionado. Que seja responsável, mas também rápido, pois num mundo conectado, opiniões e informações se disseminam rapidamente.
Um clube sempre aberto a sugestões e que procura tomar conhecimento da opinião dos torcedores através de ferramentas interativas, como as redes sociais.
- Um clube que veja além de sua área, seja engajado com causas sociais e atitudes políticas. Um clube que adota causas, sejam elas ecológicas, de mobilidade urbana, de proteção aos animais, campanhas assistenciais... Que defina princípios, os defenda e utilize a dimensão do futebol para popularizá-los. O St. Pauli, da Alemanha, é um belo exemplo.
- Um clube que conheça a dimensão popular do futebol: respeita o direito de livre associação, fomentando políticas associativas que reverenciem a diversidade social dos torcedores e suas diferenças econômicas.
No Século XXI, não é admissível a adoção de políticas elitistas de preço como solução para as finanças do clube. Preços altos são sinais de incompetência administrativa das potencialidades econômicas geradas pelo futebol.
- Um clube que combata abusos: O Estatuto do Torcedor deve reger direitos e deveres da torcida e não a vontade de cartolas ou da Polícia Militar. Treinadores não são generais e não dominam a arte da guerra. Jogadores são profissionais e merecem respeito, precisam ser ouvidos. A filosofia do “tem que calar a boca e jogar bola” é herança de um pensamento autoritário e retrógrada. Apenas uma hierarquia importa: o torcedor é o topo da pirâmide.
- Um clube que promova a qualidade de vida de seus atletas e funcionários e contribua para o desenvolvimento local, trazendo a comunidade para dentro do clube e levando o clube para interagir com a comunidade. As ações da atual direção social do Avaí são exemplos a serem louvados e prestigiados, assim como o intercambio com a escola Anisio Teixeira, na Costeira.
- Um clube que tenha um planejamento real: que esse planejamento não seja discurso vazio de cartolas incompetentes, mas fruto de uma ampla discussão com todos os setores da instituição. É preciso conhecer as melhores práticas de sua área e promove-las em seu planejamento.
O modelo alemão de pensar o futebol é um bom exemplo. Orçamentos são para serem cumpridos. As contas devem ser abertas e fiscalizadas. Cartolas precisam ter responsabilidade e serem responsabilizados. O clube é propriedade de sua torcida, os ganhos não podem ser pessoais.
(Foto: filme Muito além do jardim, de Hal Ashby.)
* Felipe "Melo" Matos é proprietário do blog Memória Avaiana e o texto acima foi publicado em 1º de julho de 2012
Que torcedor, dirigente, simpatizante, patrocinador, parceiro, funcionário,.... não quer um clube assim?
Não quero entrar no embate, mas o que fazemos para mudar?
Meu sonho é ligar ou mandar um email e ser prontamente respondido.
Ter um link onde o torcedor coloque idéias e que as mesmas sejam pelo menos avaliadas e respondidas.
Ver um CD atuante e não esse que deixa as decisões para 10% do grupo.
Ver uma oposição com idéias claras e não um PSTU que só toca o sarrafo sem apresentar alternativas.
Eu gostaria de um clube com 90 anos de existência ter essa maturidade.
Abraço
O FELIPE MATOS DEU TODA A INSPIRAÇÃO PARA CRIAR-SE UM NOVO E INTERESSANTE ESTATUTO PARA O CLUBE. ESTABELECEU AS BASES IDEAIS PARA ISSO. MATÉRIA IMPORTANTE, LEITURA RECOMENDÁVEL PARA TODOS OS CONSELHEIROS.
INFELIZMENTE, NESSA ESPÉCIE DE RELAÇÕES HUMANAS O REAL FICA SEMPRE MUITO AQUÉM DO IDEAL, SEJA POR FORÇA DE INTERESSES PESSOAIS CONCORRENTES, OU PARALELOS, SEJA POR INÉRCIA DE QUEM DEVIA AGIR.
MAS VALE A PENA A GENTE INSISTIR, ACREDITANDO QUE UM DIA OS RESPONSÁVEIS VÃO SE TOCAR DA NECESSIDADE DE EXERCER SUAS RESPONSABILIDADES, E VÃO EXERCER PARA VALER AS SUAS FUNÇÕES. - Roberto Costa
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