Por que Cléber Santana?, by Alexandre C. Aguiar

Foto: Manoel Bento/Avaí FC

Corre por todos os cantos da torcida avaiana a orfandade escrachada pelo jogador Cléber Santana. Às vezes, as manifestações chegam a ser doentias. Como crianças de berço, quando a mamãe retira-lhes a chupeta, os avaianos vivem de beicinhos, soluços e lágrimas emotivas atrás do ídolo do campeonato do ano passado. Em alguns momentos chega a ser chato o assédio a quem tenha informações, como se uma palavra de alento servisse como bálsamo a uma dor irrecuperável. Chegam a chamar o presidente avaiano ou alguém envolvido na direção de mentiroso por ter afirmando que havia acordo, mas não havia contrato, ora, ora, ora. É certo que há menção de se contratar até carpideiras, aquelas moças que choram teatralmente em velórios, para, em passeata contornar o estádio da Ressacada aos prantos pelo famoso jogador, haja vista que muitos torcedores já secaram suas glândulas lacrimais.

Evidentemente que ter um jogador desse quilate num time de futebol, atualmente infestado por brucutus e lutadores de MMA, é algo a ser reverenciado. Se eu fosse religioso diria que era uma benção. Cléber Santana é um oásis nesse deserto de bayerns da vida, comandado por felipões do vamolá, vamolá. Sua capacidade de arrumar jogo e compor meios de campo é fabulosa. Tem um poder de decisão e finalização como poucos no futebol mundial. E, vindo para o nosso Avaí, seria como andar num carro popular com combustível de foguete. Já provamos desse tempero e vimos que era muito bom. E os adversários que o digam.

Cléber Santana, de volta para o Avaí, pode ser garantia de um bom campeonato na série B, acesso mais do que garantido e certeza de bons jogos onde o Avaí for jogar. Já há, inclusive, escalações prontas, Cléber ao lado de Marquinhos, Cléber à frente com Higor, Cléber jogando de atacante, Cléber jogando. Olhos brilham antevendo o espetáculo que se avizinha.

... A gente sabe que a dependência por jogadores embota o cérebro de torcedores mais emotivos, mas é preciso, ainda assim, manter os pés nos chãos. Pois se tem um troço que amarga nossas vidas é a frustração. A expectativa não cumprida pode deixar-nos apáticos, sombrios, depressivos e arrasados por um longo tempo. E isso não é saudável.

Claro que irão ocorrer os tais protestos pelo PUDA, Partido Único pela Divisão Avaiana. Naturalmente, se a contratação não se realizar, algo perfeitamente plausível, os protestos feitos por uma imensa população de dez torcedores vão se iniciar lá pelos lados dos Carianos. Primeiro virá o arroz de festa básico, um monte de desocupados batendo latas. Outros lançarão dezenas de palavras de ordem de FORA ZUNINO, alguns vão fazer pizza e outros colocarão pipoca na panela. E tudo terminará ao sabor de uma loira gelada. Logo depois, a tuitadas, feicebucadas e orkutadas. E mais tarde ainda, pra finalizar, as blogadas numa língua muito próxima do português, com frases de efeitos e ofensas triviais, esquentando os bumbuns nos sofás. Como não tenho obrigação e nem mais elasticidade sacal para atuar isso, apenas lamento.

Prefiro reverenciar Cléber Santana quando ele voltar a envergar nosso manto sagrado. Prefiro ir ao estádio e vê-lo jogar quando realmente estiver aqui. Os planos escalafobéticos deixo para os sonhadores e desiludidos. Vou ver Cléber Santana, sim, seja no Flamengo, no Avaí, ou em qualquer outro clube, mas verei quando for a hora, porque, se tem um troço que nos atrapalha, em qualquer situação da vida, é atropelar prioridades.

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí Futebol Clube e um dos colaboradores do portal Todo Esporte SC. Texto publicado em 02/05/2013, e reproduzido hoje sem a frase que comentava sobre o Campeonato Catarinense.