Calcinha de bolinhas, by Roberto Costa
- Alô.
- Sim.
- É Suzana?
- Ela.
- Vi o o seu anúncio no jornal. Estou em casa sozinho. Minha mulher viajou e...
- E não está suportando a solidão?
- Mais ou menos isso. E quanto é que você cobra?
- Trezentos, mais a corrida, se eu tiver que me deslocar até sua casa.
- Trezentos?
- Acha caro?
- Não, na verdade não sei, é que não tenho base de cálculo. Nunca contratei esse tipo de serviço.
- Não vai se arrepender.
- Por corrida você quer dizer o táxi?
- Não. Eu tenho um Fiat Uno. Apenas mais vinte reais, pra ajudar no combustível.
- Trezentos e vinte então; é o preço?
- Pra me deslocar até sua casa, sim. Fechamos?
- Fechamos.
- Onde é que eu acho você?
- Rua das Magnólias, 118. A casa é branca, tem jardim, uma ampla varanda com arcos à frente e detalhes em granito bruto, incrustados, fácil de achar.
- Em vinte minutos estarei aí.
XXX
- Ah, mas é uma bela jovem!
- Bondade sua.
- Entre, fique à vontade.
- O senhor é um cliente dos que normalmente eu costumo encontrar.
- Como assim?
- Recebeu-me com um beijo suave no rosto, ninguém faz isso hoje em dia.
- E isso lhe agradou?
- Me encantou, sinceramente. A maioria sai apalpando, beijando, amassando, já na entrada.
- Fiz cursos no exterior, sabe. Convivi com gente fina. Uns anos que passei em Londres, principalmente, acrescentaram muito à minha educação.
- Com toda certeza. O senhor tem classe, é fácil notar.
- Bom ouvir isso.
- Tem uma bela casa também, muito rica, senhor... Senhor...
- Ismael.
- Muito bela mesmo, senhor Ismael.
- Sente-se, fique à vontade. Vamos tomar um chocolate quente. Nestas noite de inverno é coisa que eu não dispenso.
- Por mim não precisa se incomodar.
- Já está pronto, preparei enquanto esperava você. Eu bebo batizado, com uma dose de rum. Quer também?
- Pode ser.
- Me conte como foi que entrou nesse lance de fazer programas.
- Gosta muito de trocar conversa, pelo jeito.
- Ah, gosto mesmo, é inegável. Mas como foi que entrou nessa?
- Foi quando cismei em cursar uma faculdade paga. A grana que já era curta encurtou mais e uma amigas do curso me deram a dica. No princípio relutei, mas sabe como é, a necessidade é que move a gente. Com isso consegui sair do sufoco e até desfrutar alguma folga. Depois, engravidei de um namorado, de quem tenho uma filha e larguei a faculdade. Mas senhor, as mulheres não gostam muito de falar de seus pontos fracos. O problema é que não encontrei emprego nenhum que remunerasse o tanto que fazer programa remunera.
- Entendo. Não me surpreende que consiga uma boa grana com esse corpão que você tem!
- Obrigada. Mas fale-me do senhor. Tem uma existência muito mais rica que a minha; certamente. Muitas coisas encantadores para contar.
- Ora, sou engenheiro aposentado. Tenho pós-graduação em estruturas, doutorado e mestrado no exterior. Tenho obras assinadas em todas as regiões deste País. Ouso dizer, sem melindres, que se alguns trabalhos meus que publiquei em revistas de prestígio internacional, veja bem, tivessem chegado às mãos dos projetistas das Torres Gêmeas, aqueles aviões teriam se espatifado em vão, as torres estariam firmes no seu lugar e muitas vidas teriam sido poupadas.
- Verdade?
- Absoluta.
- Um pena, senhor. Que infelicidade daquelas pessoas todas, por um detalhe não se salvaram.
- A vida tem dessas coisas, sabe. Eu lhe digo, esteja sempre preparada.
- Ufa! O seu chocolate com rum está me deixando alegre.
- Se quiser se expandir, a casa é sua, fique à vontade.
- Disse que sua esposa viajou.
- Viajou; a megera. Foi visitar um dos nossos filhos. Duzentos quilômetros daqui, graças a Deus.
- Por que a trata assim?
- Porque é realmente uma megera. Reclama de tudo. Nunca está contente e ainda por cima morre de ciúmes, desse ciúme doentio, sabe como é? Não posso dar um passinho que seja fora do prumo, que ela vem cobrar satisfações e se uma mulher me olha na rua está feito o pandemônio. Só quando está longe, como agora, é que consigo relaxar. Um suplício conviver com esse tipo de gente.
- Por que não se separa?
- É só no que tenho pensado ultimamente, mas não foi para lhe aborrecer falando da megera que eu lhe chamei. Venha, sente-se aqui.
- Assim?
- Mais perto um pouco... Assim.
- Puxa, sua mão é forte e tão quente.
- Suas pernas também são quentes, e sedosas; muito bom acariciá-las.
- Sua mão me deixou arrepiada, veja.
- Então, vamos tirar essa sua roupa.
- Calma. Forçando assim vai me estragar o zíper da saia.
- Desculpe.
- Emperrou, espere, eu ajudo. Pronto.
- Ah!... Calcinha de bolinhas!... Sou vidrado em calcinhas de bolinhas.
- Gosta mesmo?
- Oh, sim. Acho especialmente excitantes.
- Que bom que gostou. O senhor vai preferir que eu fique por baixo, ou por cima?
- Pra mim, não faz diferença, meu bem, Ismael faz de qualquer jeito...
- De novo falando sozinho, Ismael! Saia desse sofá, home de Deus! Não sei como aguenta esse frio, depois não me vem reclamar de dor nas juntas. Hoje nem a lata de lixo na rua você botou...
* Roberto Costa é associado do Avaí Futebol Clube. Conto escrito em 18 de maio de 2010.
- Sim.
- É Suzana?
- Ela.
- Vi o o seu anúncio no jornal. Estou em casa sozinho. Minha mulher viajou e...
- E não está suportando a solidão?
- Mais ou menos isso. E quanto é que você cobra?
- Trezentos, mais a corrida, se eu tiver que me deslocar até sua casa.
- Trezentos?
- Acha caro?
- Não, na verdade não sei, é que não tenho base de cálculo. Nunca contratei esse tipo de serviço.
- Não vai se arrepender.
- Por corrida você quer dizer o táxi?
- Não. Eu tenho um Fiat Uno. Apenas mais vinte reais, pra ajudar no combustível.
- Trezentos e vinte então; é o preço?
- Pra me deslocar até sua casa, sim. Fechamos?
- Fechamos.
- Onde é que eu acho você?
- Rua das Magnólias, 118. A casa é branca, tem jardim, uma ampla varanda com arcos à frente e detalhes em granito bruto, incrustados, fácil de achar.
- Em vinte minutos estarei aí.
XXX
- Ah, mas é uma bela jovem!
- Bondade sua.
- Entre, fique à vontade.
- O senhor é um cliente dos que normalmente eu costumo encontrar.
- Como assim?
- Recebeu-me com um beijo suave no rosto, ninguém faz isso hoje em dia.
- E isso lhe agradou?
- Me encantou, sinceramente. A maioria sai apalpando, beijando, amassando, já na entrada.
- Fiz cursos no exterior, sabe. Convivi com gente fina. Uns anos que passei em Londres, principalmente, acrescentaram muito à minha educação.
- Com toda certeza. O senhor tem classe, é fácil notar.
- Bom ouvir isso.
- Tem uma bela casa também, muito rica, senhor... Senhor...
- Ismael.
- Muito bela mesmo, senhor Ismael.
- Sente-se, fique à vontade. Vamos tomar um chocolate quente. Nestas noite de inverno é coisa que eu não dispenso.
- Por mim não precisa se incomodar.
- Já está pronto, preparei enquanto esperava você. Eu bebo batizado, com uma dose de rum. Quer também?
- Pode ser.
- Me conte como foi que entrou nesse lance de fazer programas.
- Gosta muito de trocar conversa, pelo jeito.
- Ah, gosto mesmo, é inegável. Mas como foi que entrou nessa?
- Foi quando cismei em cursar uma faculdade paga. A grana que já era curta encurtou mais e uma amigas do curso me deram a dica. No princípio relutei, mas sabe como é, a necessidade é que move a gente. Com isso consegui sair do sufoco e até desfrutar alguma folga. Depois, engravidei de um namorado, de quem tenho uma filha e larguei a faculdade. Mas senhor, as mulheres não gostam muito de falar de seus pontos fracos. O problema é que não encontrei emprego nenhum que remunerasse o tanto que fazer programa remunera.
- Entendo. Não me surpreende que consiga uma boa grana com esse corpão que você tem!
- Obrigada. Mas fale-me do senhor. Tem uma existência muito mais rica que a minha; certamente. Muitas coisas encantadores para contar.
- Ora, sou engenheiro aposentado. Tenho pós-graduação em estruturas, doutorado e mestrado no exterior. Tenho obras assinadas em todas as regiões deste País. Ouso dizer, sem melindres, que se alguns trabalhos meus que publiquei em revistas de prestígio internacional, veja bem, tivessem chegado às mãos dos projetistas das Torres Gêmeas, aqueles aviões teriam se espatifado em vão, as torres estariam firmes no seu lugar e muitas vidas teriam sido poupadas.
- Verdade?
- Absoluta.
- Um pena, senhor. Que infelicidade daquelas pessoas todas, por um detalhe não se salvaram.
- A vida tem dessas coisas, sabe. Eu lhe digo, esteja sempre preparada.
- Ufa! O seu chocolate com rum está me deixando alegre.
- Se quiser se expandir, a casa é sua, fique à vontade.
- Disse que sua esposa viajou.
- Viajou; a megera. Foi visitar um dos nossos filhos. Duzentos quilômetros daqui, graças a Deus.
- Por que a trata assim?
- Porque é realmente uma megera. Reclama de tudo. Nunca está contente e ainda por cima morre de ciúmes, desse ciúme doentio, sabe como é? Não posso dar um passinho que seja fora do prumo, que ela vem cobrar satisfações e se uma mulher me olha na rua está feito o pandemônio. Só quando está longe, como agora, é que consigo relaxar. Um suplício conviver com esse tipo de gente.
- Por que não se separa?
- É só no que tenho pensado ultimamente, mas não foi para lhe aborrecer falando da megera que eu lhe chamei. Venha, sente-se aqui.
- Assim?
- Mais perto um pouco... Assim.
- Puxa, sua mão é forte e tão quente.
- Suas pernas também são quentes, e sedosas; muito bom acariciá-las.
- Sua mão me deixou arrepiada, veja.
- Então, vamos tirar essa sua roupa.
- Calma. Forçando assim vai me estragar o zíper da saia.
- Desculpe.
- Emperrou, espere, eu ajudo. Pronto.
- Ah!... Calcinha de bolinhas!... Sou vidrado em calcinhas de bolinhas.
- Gosta mesmo?
- Oh, sim. Acho especialmente excitantes.
- Que bom que gostou. O senhor vai preferir que eu fique por baixo, ou por cima?
- Pra mim, não faz diferença, meu bem, Ismael faz de qualquer jeito...
- De novo falando sozinho, Ismael! Saia desse sofá, home de Deus! Não sei como aguenta esse frio, depois não me vem reclamar de dor nas juntas. Hoje nem a lata de lixo na rua você botou...
* Roberto Costa é associado do Avaí Futebol Clube. Conto escrito em 18 de maio de 2010.
Eu já tinha lido esse conto, e foi muito bom ler de novo. Mostra muito bem a intimidade do meu irmão com a caneta, mais ou menos como o Pelé tinha com a bola.
Bighal.
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