"ONDE ESTAVAS, QUANDO AS LUZES SE APAGARAM?", by Roberto Costa

Tenho uma certa alergia ao visgo que emana de toda e qualquer eleição. Mas concordo que alguma eleição é sempre melhor que nenhuma... Mesmo com a alergia, fui à Ressacada votar.

Há uma efusividade no ar pelo simples fato da eleição, como se fora este o troféu visado. A eleição, postada como maquiagem, de um ano em que a caducidade tomou conta das coisas na Ressacada, na reta final do caminho para a glória almejada. Uma efusividade que parece nos dizer, a nós fedelhos imberbes e tansos, o seguinte, "é certo, que a gente perdeu feio, cinco jogos mediocremente entregues de enfiada, sob nosso olhar inerte ou ausente, é certo que a gente não tentou nenhum remédio heroico para salvar o ano, mas aí está esta eleição democrática e maravilhosa, fartem-se de alegria, corram para a Beira-Mar a festejar".

Sim, a eleição servida em bandeja é desvio de atenção da tragédia, espécie de bom-bom dado à criança para que esqueça o brinquedo mais caro e negado que por todo o ano almejou.

É claro que o comprometimento da saúde do presidente Zunino influiu pesado sobre o desfecho de todas as coisas. Mas apesar dos pesares, apesar da dívida, com Zunino comandando a banda estou certo de que seguiríamos marchando céleres para o acesso, que estava praticamente ganho. Com Zunino no comando alguma medida seria tomada antes que completássemos as cinco ridículas derrotas, e possibilitássemos entre tantas coisas o ressuscitamento dos barbyes. 

Com o afastamento de Zunino vimos a incúria tomar conta do que era caro ao torcedor, do que era caro inclusive aos atletas, não falo agora do salário em atraso, mas do reconhecimento, do apoio moral, da mensagem de que ainda que difíceis as coisas, aqui estou, presente de corpo e alma, no mesmo barco junto de vocês. Qual comandante, no meio do fervor da batalha, sai pela tangente para ir à praia distante, quando dispõe de 42 a escolher?

Pra mim, foi crucial, foi emblemática e foi determinante a insencibilidade de nosso vice, ausentando-se sem um motivo sério do caldeirão, exatamente quando as coisas ferviam, quando todas as energias tinham de agir de forma sinérgica e ninguém poderia dar-se por dispensável. Coloquemo-nos na pele dos jogadores, que após correrem com denodo na vitória inconteste sobre o Bragantino, souberam que o comandante sumiu, que abandonara o barco, que não estava acessível, que não os podia ouvir a respeito de um pacto quebrado sobre um "bicho" a ser pago, que não estava tão ligadaço quanto eles na conquista do acesso?

O vice, que há de ser eleito e que terá o comando do clube nas mãos por mais quatro anos, onde estava, quando as luzes se apagaram?
*Roberto Costa é associado do Avaí FC