segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Vida, esporte e trabalho: a história do guerreiro João Nilson Zunino

O presidente do Avaí recebeu o Diário Catarinense e falou sobre sua vida: 'Sou um otimista incorrigível'


by Marcos Castiel, Roberto Alves e Tiago Pereira 


Para falar de João Nilson Zunino, empresário de sucesso, médico respeitado e presidente que marcou a história do Avaí é preciso entrar no túnel do tempo e recuar 40 anos: voltar a 1973 e desembarcar numa esquina qualquer da então pacata e provinciana Florianópolis. 

Ali, o jovem médico recém-formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), certo dia, aguardava a chegada de seu pai, vindo do interior de São João Batista, para morar também na Capital. 

Zunino não esperava seu pai à bordo de um Opala 6 cilindros, objeto de desejo da época. Sequer poderia sonhar com o Corcel GT, carro que encantava a juventude. Não tinha dinheiro para isso nem para um Fusca, muito popular à época. 

Mas naquele momento sacramentou sua programação mental - na medicina e no futebol -, que ajudaria a construir seu destino de forma a inscrever o nome na história da cidade. Seu Walmor Zunino foi recebido por um filho que já limpava o chão de um laboratório médico para pagar os estudos e rumar à Capital, caminho que os jovens nascidos no interior trilhavam com frequência. 

Naquele ano, o Avaí voltaria a ser campeão catarinense, título que não conquistava desde 1945. Foi paixão à primeira vista. Pai e filho, reunidos na mesma cidade, morando no Morro do Céu, no Centro de Florianópolis, encantados com o azul, frequentavam o Campo da Liga e vibravam juntos. 

Paralelamente, Zunino começava a usar seu conhecimento médico para fundar o laboratório Médico Santa Luzia. 

1973, então, foi o ano: o sangue azul, misturado com amor à medicina e o espírito empreendedor amalgamados num jovem de 27 anos foram o combustível que adubou uma história de sucesso profissional na área médica, e de paixão, recheada de polêmicas, quando o assunto é futebol. 

De volta ao presente e de olho no futuro, chegamos a este mês de novembro de 2013. Marcante para Zunino e para todos que sua trajetória de alguma forma influiu. Zunino esteve adoentado, foi submetido a uma cirurgia no pulmão e outra para retirada de tumores no cérebro. Passou maus bocados mas, lutador e vencedor, encarou mais este desafio. Tanto que recebeu a reportagem do Diário Catarinense para uma entrevista exclusiva. 

Nos últimos meses, a cidade foi tomada por boatos de que Zunino teria morrido. A família teve que desmentir várias vezes, mesmo sabendo que ele estava em recuperação de cirurgias delicadas. Agora a conversa com o Diário Catarinense mostra que o sucesso também traz, além de admiradores, adversários. Principalmente na área do futebol. 

Não são poucos que têm interesse em saber como Zunino está, principalmente pelo afastamento da mídia no período de recuperação: ainda mais se levado em consideração que seu complexo médico, o grupo Santa Luzia, um dos quatro maiores do país, realiza mais de 4 milhões de exames por ano, e que o clube que preside mexe com a emoção de uma nação azul superior a meio milhão de torcedores. 

Zunino vai deixar a presidência do Avaí. Torcedores do Figueirense em determinado período estendiam faixas brincando com o melhor momento em relação ao adversário: "Fica Zunino". Zunino ficou, mudou o Avaí administrativamente, ajudou a construir um complexo moderno no Estádio da Ressacada e levou o time à Série A do Brasileiro em 2008, sem contar o fato de recolocar o time como campeão catarinense em 2009. 

Pronto, o sucesso de 1973, vivenciado ao lado de seu Walmor, agora se reproduzia como presidente. Na década de 1970 viu encerrar como torcedor um jejum de 28 anos do seu time; no novo milênio comandou como presidente o fim de um período de 11 anos sem o Leão comemorar uma taça. 

A vida tranquila em São João Batista, na lavoura ao lado do seu Walmor, não combinava com a explosão característica dos italianos, que dominavam a região. A comunidade de Tigipió, onde se criou, não tinha o tamanho das ambições de Zunino. Era preciso mais, e seu caminho cresceu, prosperou e chegou num momento ímpar. 

Afastar-se do Avaí para cuidar da saúde e do bem-estar ao lado dos familiares. E passar a ser reconhecido pelo seu legado é o futuro. 

Há 40 anos, Zunino recebia o pai e rumava para uma trilha de desafios movidos a conhecimento e paixão. Este mundo complexo e recheado de uma história rica é que foi compartilhado por ele com o colunista Roberto Alves, o repórter e setorista do Avaí Tiago Pereira e o editor de Esportes do DC, Marcos Castiel. Estes foram recebidos por Zunino em sua casa, um recanto acolhedor no bairro de Coqueiros, na Capital. Local em que, de sua sacada, é possível avistar o Estádio da Ressacada. 

As palavras a seguir de Zunino não serão lidas por seu Walmor, já falecido. Mas o legado dele misturado ao do filho está na entrevista a seguir: 

• Confira a entrevista completa com Zunino 

Diário Catarinense — Como está esse processo de recuperação? 
João Nilson Zunino —
 Está indo muito bem, depois de uma série de cacetadas. A recuperação tem sido muito rápida, graças a Deus. 

DC — Soubemos que o senhor, inclusive, já está fazendo expediente no laboratório? 
Zunino —
 Claro que estou, faço de tudo. Só não dirijo porque a família não deixa. Estou levando uma vida normal. 

DC — Você nasceu em Tigipió, mas tem uma grande sintonia com Florianópolis. Como foi sua chegada à Capital? 
Zunino —
 Eu vim para cá em 1965, antes de terminar o ginásio. Acabei ficando, me formei na UFSC e construí tudo o que tenho aqui. Posso dizer que me sinto um manezinho. 

DC — Entre 1968 e 1973 o senhor cursou a faculdade de medicina. Foi aí que começou a aprimorar o lado empresário?
Zunino —
 Na realidade essa coisa de empresário eu já tinha há mais tempo. Até por necessidade, eu precisava trabalhar para me sustentar. Como eu gostava de laboratórios, arrumei um emprego na área e me especializei. Aí resolvi me apaixonar, casar, e então houve a necessidade de aumentar os negócios. 

DC — Hoje em dia, o seu laboratório realiza mais de 4 milhões de exames por ano. São milhões de pessoas que dependem da sua obra, mas a maioria não sabe que o seu começo não foi em berço esplendido. Com 13 anos, você trabalhava em um laboratório, mas não era o chefe. Conte um pouco dessa história. 
Zunino —
 Na verdade, eu fiz todas as funções e participei dessa evolução na área. Os laboratórios cresceram muito porque a medicina também se desenvolveu bastante. E para quem gostava e conhecia um pouco de tudo, não foi difícil implantar algumas novidades. 

DC — E como foi que o Avaí surgiu na sua vida? 
Zunino —
 Paixão não se explica. Quando vim para a Capital, o meu pai veio junto e foi morar perto do estádio Adolfo Konder (onde hoje é o Beiramar Shopping). Então ele passou a viver a realidade do Avaí, e eu abracei o clube por causa dele. 

DC — E o seu pai era tão fanático como você? 
Zunino —
 É engraçado, o meu pai era daqueles que não aceitava que o outro time fizesse um gol. Quando perdia, era sempre culpa do juiz (risos). 

DC — Mas bem antes de ser presidente, o senhor já vivia dentro do clube, ajudando de uma forma ou de outra? 
Zunino —
 Claro, sempre. Poucos sabem, mas eu sou um dos mais antigos conselheiros do Avaí. Não sei precisar, mas desde a década de 70 faço parte deste clube. 

DC — Você sabe conviver bem com os opostos. É muito difícil ser um administrador e lidar com a paixão? 
Zunino —
 O principal é respeitar a opinião do outro. Eu fui presidente da Unimed, da Associação Catarinense de Medicina e da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica na minha especialidade, e em todas as instituições tive que lidar com correntes divergentes. Às vezes você tem que se controlar, evitar atritos e aceitar. 

DC — O senhor nunca pensou em seguir os passos de Aderbal Ramos e ingressar na política? 
Zunino —
 Nunca foi uma meta. Eu já recebi convites. Certa vez, cheguei a me manifestar com vontade de pertencer a um partido para dar a minha contribuição. Até participei de reuniões a convite de amigos, mas de repente fui surpreendido por uma pressão deles todos, que queriam que eu saísse candidato para prefeito. Foi quando pulei fora e nunca mais me envolvi. 

DC — Houve durante um tempo uma incompreensão em relação aos seus interesses para com o Avaí. Hoje fica claro quais eram os seus propósitos, mas deve ter sido difícil passar por tudo isso... 
Zunino —
 Com certeza, algumas pessoas duvidaram das minhas intenções, mas a consciência sempre esteve tranquila.

DC — E esse é um recado para os futuros presidentes: que presidam o clube sem levar em conta interesses pessoais? 
Zunino —
 Com certeza. Se não for assim, vai ser muito difícil para o clube alcançar seus objetivos. 

DC — Nesses 11 anos na presidência você fez grandes amigos. Tanto que jogadores que viraram ídolos, como Evando, Marquinhos e Cleber Santana, costumam dizer que o senhor é como um pai. Fale um pouco dessa relação de afeto.
Zunino —
 Eu sempre dei liberdade aos atletas e, sabendo das dificuldades, procurei ajudá-los também na vida pessoal. Esses que você citou, por exemplo, levavam muito a sério meus conselhos e por isso criamos essa relação. Nesse aspecto, posso dizer que fui mais que um presidente. 

DC — Todos sabem dos recursos e dos investimentos que você fez nesses 11 anos. É comum algumas pessoas dizerem que no dia em que o Zunino saísse, o Avaí fecharia as portas. Você concorda? 
Zunino —
 Não. A dívida que o Avaí tem hoje não é pequena, mas as coisas mudam rápido. Por exemplo, se o Avaí chegasse à Série A, a receita passaria de R$ 60 milhões. Já resolveria muitos problemas. 

DC — Do ponto de vista empresarial, como o senhor vê o futuro da nossa Florianópolis?
Zunino —
 Eu sou um otimista incorrigível. Vejo a cidade deixando de lado algumas mesquinharias e se abrindo para novos investimentos. Além disso, a nossa cidade é linda como nenhuma outra. 

DC — Na sua gestão, houve uma maturidade e evolução na questão do relacionamento com o rival. Isso reflete um pouco o seu pensamento? 
Zunino —
 Eu sempre pensei que tínhamos que ter uma forma de administrar e pensar juntos. Um exemplo, que inclusive foi muito bem repercutido por vocês, é a ideia da arena conjunta, uma praça esportiva para ser usada também no futsal, no vôlei. Seria uma forma de os clubes, e o esporte em geral, não dependerem tanto do Governo do Estado. O Wilfredo Brillinger (atual presidente do Figueirense) também pensa dessa forma, por isso estamos trilhando esse caminho. O Nilton Macedo Machado, candidato que tem o meu apoio, pensa como eu. Os dois clubes podem crescer juntos, a rivalidade tem que existir apenas dentro de campo. 

DC — Por falar nisso, o senhor está preocupado com as eleições para o Conselho Deliberativo, que acontecem no próximo dia 20? 
Zunino —
 De forma alguma. Quero o melhor para o Avaí sempre. A minha ideia não era me perpetuar no comando do clube, mas acabei ficando um bom tempo e tenho certeza que o Dr. Nilton, se for eleito, dará continuidade ao trabalho que começamos com muita competência. 

DC — E mesmo após a saída da presidência, o senhor pretende se manter ligado ao clube? 
Zunino —
 Com certeza. Não é que eu pretenda, eu me disponho. Se disser que pretendo, já vai ter alguém dizendo que não vai querer. Precisa ver se o pessoal ainda quer a minha presença (risos). 

DC — Após a aposentadoria, então, como pretende aproveitar o tempo livre? 
Zunino —
 Quero passar mais tempo com a minha família e viajar. Nos últimos tempos trabalhei muito e não passei o tempo que queria com os meus filhos. Mas essa história de aposentadoria não é bem assim: ainda estou trabalhando no laboratório. Um pouco menos, é verdade, mas não parei de trabalhar. 

DC — Você se considera um pai coruja? 
Zunino —
 Um pouco, faço tudo pelos meus filhos. Hoje, tenho o compromisso de, pelo menos uma vez ao ano, sair do país com todos eles. Em julho, passamos pela Grécia e pela Itália. É nas viagens que consigo estar mais próximo e juntar todos. É um momento de grande felicidade. 

DC — Há algo que você gostaria de feito pelo Avaí e não conseguiu? 
Zunino —
 Eu gostaria de ver a Ressacada com ainda mais gente, talvez 25 mil pessoas. Gostaria de ver o clube com mais sócios também, pois hoje os sócios vão e voltam de acordo com o momento do time. Antigamente não era assim. 

DC — Para encerrar, gostaríamos de saber quais são os seus maiores orgulhos e o que pensa do futuro? 
Zunino —
 Muita coisa me orgulha. Ter aumentado a capacidade da Ressacada em quase 10 mil lugares, ter construído um centro de treinamentos moderno. O laboratório também, porque construí do nada e hoje ajuda milhares de pessoas.

Fonte: DIÁRIO CATARINENSE

3 Comentários:

JAISON EDUARDO disse...

Odiado for alguns elogiados por muitos ele ficará marcado como o mais importante presidente da história do Avaí,podem anotar.PARABÉNS E OBRIGADO JOÃO!!!

Unknown disse...

Isto mesmoooo.......agora ajudem a pagar os R$ 40.000.000, (QUARENTA MILHOES DE REAIS) que ele ta deixando lá dentro tá !!
Porq ele nao vai pagar........entao paguem voces !! Pode ser ??

Marcelo Alves

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