domingo, 12 de janeiro de 2014

MEMÓRIA DOS CLÁSSICOS CIVILIZADO​S, by Roberto Costa

Dependendo da idade, muitos jovens torcedores não tiveram a experiência de viver o tempo dos clássicos civilizados. Os clássicos civilizados tiveram a sua fase áurea muito especialmente nos tempos do Campo da Liga, oficialmente Estádio Adolfo Konder, estendendo-se um pouco além.

Imagine-se esta dimensão poética, em que torcedores azurras e alvinegros, depois da domingueira galinha assada com maionese saíam para o Estádio misturados, em ônibus superlotados, cada qual com suas camisas e bandeiras muito respeitadas, o diálogo fácil entre adversários dividindo o mesmo banco, porque na província todos se conheciam, as gozações trocadas no âmbito restrito do puro humor. 

Era sempre festa ir para o estádio, é claro que o ânimo da volta dependia do resultado do jogo, mas o apedrejamento, as pauladas, essas demonstrações de barbárie dos dias de hoje não existiam. Evidente que entreveros ocorriam, mas eram raros e, sem o turbinamento nefasto das drogas, esse mal dos tempos ditos modernos, a turma do deixa-disso apartava e facilmente resolvia. Hoje, só os loucos ousam apartar uma briga em clima de jogo.

Com o advento do Remendão do Estreito o bom clima se estendeu ainda por um bom tempo. Aficionado que sou do futebol, prezo muito um bom lugar nos estádios, com bom ângulo de visão, por isso habituei-me a assistir aos clássicos no Remendão exatamente diante da linha divisória do meio campo, ou seja, no meio da torcida do rival. Subia as arquibancadas e conhecidos meus me apontavam, chamavam-me de secador, apontavam para a torcida do Leão dizendo, o teu lugar é lá, vai pra lá, mas tudo acabava em risos, quando muito com alguns olhares enviesados.

Certa vez, cheguei ao Remendão com atraso, exatos 6 minutos, entrando pelo portão que fica à direita das cabines de rádio e a primeira visão que tive do campo foi do atacante Toninho Quintino chegando próximo à área e desfechando um tiro mortal, abrindo o placar no clássico em favor do Avaí.

Quando, enfim, sentei-me no lugar onde assistiria ao restante do jogo, perguntei à pessoa do lado: "Como foi o lance do gol?" E a resposta desse alguém que me julgava um barbye, em tom de desabafo: "A jogada de sempre, né, o Zenon lançou pro Toninho..." O reconhecimento desavisado e doce de ouvir, do adversário, a dois craques que fizeram época na história dos clássicos.

Com a aberração toda que veio depois, com essa desagregação social fruto da competição fria e desmedida que vemos hoje em dia e que equivocadamente muitos ainda chamam de progresso, as torcidas se transformaram em turbas, em ambiente seleto para psicopatas e drogados e a frequência aos estádios é cada dia mais uma aventura inóspita, muitas vezes perigosa.

Enfim, ficam aqui memórias de um tempo muito valioso, não há como não morrer de saudades. 

* Roberto Costa é associado do Avaí FC

2 Comentários:

Damian disse...

Saudades, de quando garoto, assistir treinos do Avaí dentro do campo, buscando as bolas em treino s do Zenon, conversando com eles, Balduíno, Juti, Lica, Maneca e então,em dias de jogos, subir o muro a assistir aos jogos atras da placas de publicidade, que a cada gol do Avaí, descarregamos a alegria dando tapas na mesma, fazendo um barulho infernal .... a torcida deles, passava na nossa frente, frente ao prédio das cabines de rádio, e nunca vi fechar o pau entre as torcidas...era uma outra cidade...

Anônimo disse...

Hoje a mesma imprensa que fala da violência, e' a mesma que fomenta a violência através de seus "passionais", que só se prestam a gerar ódio na capital e no interior.

Beto

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