Política e futebol, by Samira Muratti
Após um hiato de quase três anos, cá estou novamente. E decidi retomar o blog com um tema tratado recentemente em meu perfil no Twitter (e que indiretamente muita gente comenta por ai):
Mas antes imagine a seguinte cena, na qual duas crianças discutem sobre seus times de futebol:
Mas antes imagine a seguinte cena, na qual duas crianças discutem sobre seus times de futebol:
***
- O meu time é melhor que o seu!!! – grita, vencedor, uma delas.
- Ah é? E por quê? – retruca a outra.
- Porque papai disse que sim.
- O meu que é o melhor – rebate, então, a pequena contrariada.
- Né nada!
- É sim, burra!
- Ah é? E por quê? – retruca a outra.
- Porque papai disse que sim.
- O meu que é o melhor – rebate, então, a pequena contrariada.
- Né nada!
- É sim, burra!
E por ai vai a conversa, partindo para ofensas pessoais. É claro, para uma criança, a falta de argumento ou seu embasamento devem ser mais complicados, não impossível, porém. Mas para um adulto? Pois é. Imagino essa cena quando vejo pessoas, que se consideram adultas, discutindo nas redes sociais ou em outros locais sobre política. Isso mesmo. Comecei com futebol e parti para a política. E nem política como ela deveria ser discutida, afinal de contas entendo o partido como uma parte integrante de todo o processo.
Só que infelizmente há quem reduza a política a rótulos, muitos dos quais restritos aos partidos. E, particularmente no atual cenário, há dois mais citados: PT versus PSDB. Não tem essa conversa de qual é o estatuto de cada um, suas metas, o que seus representantes pensam, desenvolvem, executam/executaram ou deixam/deixaram de fazê-lo. Na maior parte dos casos – pelo menos que vejo e leio por ai – o negócio é “vestir a camisa” de um dos “partimes” (ou “timetidos”) e partir para cima. De preferência com muito ódio, espumando pela boca, deixando qualquer ser canino, felino ou outro “ino” perplexos.
E ai daquele pobre diabo que resolver falar dos problemas do país. Ou elogiar o que foi feito na antepenúltima gestão ou quiçá em uma mais distante, quando o país ainda gozava de sua recém conquistada democracia (aliás, muito questionável se de fato é exercida).
Os anseios do povo? Que nada! A vibe é se munir de qualquer argumento – ou outros impropérios, preferencialmente se ferir a moral com quem se discute – e falar em alto e bom som que se é um ser político, que sabe discutir política. Por favor?
Nem eu sei falar a respeito. Há um tempo, muito provavelmente já tenha até me enquadrado na horda onde muitos partem para a agressão virtual e me arrependo disso (se pudéssemos passar uma borracha no passado, não?), no entanto tento aprender; mas, graças ao bom destino, a vida muda e a gente vai aprendendo com o tempo. Hoje até prefiro ou tento me eximir de um muito e restringir meus poucos comentários no meu círculo – principalmente o físico e real – de amigos e conhecidos. Hoje não curto esse UFC virtual que muitos transformam nas redes.
A moral disso tudo? Não há. Provavelmente nunca haverá, porque um assunto tão vasto, com inúmeros pontos de vista e possibilidades, é impossível de ser colocado em um quadrado e pronto. Enquanto isso, os diversos seres politizados se proliferam na web, cada qual com sua verdade absoluta repleta de muito ódio. Quem ousar discordar, muito provavelmente será apedrejado na praça pública virtual, inclusive a coitada da mãe e gerações passadas que não têm nada a ver com isso.
É um assunto dificilmente encerrado. Opiniões são sempre bem-vindas. O problema é aceitar as discussões, ir além dos rótulos, partidos ou bipolarizações. Esquecer o maniqueísmo implícito por muitos atrás de cada sigla e/ou discussão e pensar no que realmente os cidadãos precisam, independente de sua etnia, classe social, religião (estado deveria ser laico, mas há controvérsias), estilo de vida, enfim, e em como cada candidato – e seus partidos, ai sim – poderão conciliar anseios com o seu jeito de governar que, afinal de contas, deve ser do todo e não apenas de um.
Partido não é time de futebol. Política não se resume a partido. Ao invés de agredir verbalmente, vamos dedicar esse tempo para pesquisar mais os candidatos, sua vida pessoal, suas administrações anteriores e atuais, os problemas, os benefícios, e dar nossa principal contribuição pelo voto. Cada um com seu conceito, com sua verdade, com o que pensa como bom, SOBRETUDO E MUITO IMPORTANTE: não só para si, mas pensando na coletividade. É pedir muito? Acho que é, mas valeu a tentativa.
Em tempo: um bom livro sobre história e política e que merece leitura é o escrito pelo historiador francês René Rémond, “Por uma história política”. Nele há certamente muitas pistas históricas acerca da temática (que também podem ser pensadas em um contexto brasileiro) e de tudo que a integra. Fica a dica de leitura!

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