A SÍNDROME, by Roberto Costa

Quem encontrou o pai caído junto ao sofá da sala foi a mãe. Apresentava uma espécie de convulsão que acometia todo o corpo. A mãe gritou desesperada pelo filho mais velho e ele veio correndo, secundado pelo filho mais moço.

- O que será isso, meu Deus? Epilepsia? - Perguntou a mãe, mesmo sabendo que não teria ali uma resposta.

- Vamos levar ele prum hospital - disse o filho mais velho erguendo o pai pelos ombros, e acrescentando para o mais moço: - Juninho, pega ele pelos pés.

- Vão saindo. Vou lá dentro pegar a bolsa com a carteira do convênio disse a mãe, as mãos trêmulas.

Logo estavam no carro e seguindo acelerados. A mãe ia abanando o marido, com dificuldades respiratórias. Tão logo se viram diante do guichê da emergência gritaram por urgência e dois atendentes vieram rápidos em socorro. O estado do homem assustava e por isso levaram-no de imediato para o atendimento.

Foram minutos de ansiedade e angústia, a mãe sentada entre muitas outras pessoas preocupadas, algumas muito carentes, cruzava e descruzava os dedos, pedindo a Deus que não fosse grave. Os filhos iam de um lado para o outro, inquietos. 

Passados trinta minutos a atendente chamou a mãe, dizendo: - Olha, vocês podem ir ter com ele, o médico autorizou, entrem por ali, consultório número três.

No consultório o médico disse: Ele já está medicado. Ficou no oxigênio por uns minutos, e aplicamos-lhe um sedativo. 

- O que foi que ele teve, doutor? Epilepsia?

- Seu marido teve uma síndrome de IPTU.

-  De IPTU, doutor? E é grave?

-  De certa forma, sim, e não há remédio. O agente causador é muito voraz, perverso e essa doença costuma apresentar lesões e seus efeitos deletérios ao longo do tempo. Não há nada que a medicina possa fazer, infelizmente. Seu marido vai precisar de muito apoio e compreensão da família. Nos próximos dias, principalmente, evitem falar em assuntos financeiros na presença dele.

 

* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Foto acima: Daniel Queiroz / ND