O jogo que eu gosto, mas que eles desprezam, by Alexandre C. Aguiar

No clássico sem história jogado no pasto de capim esburacado da Ressacada, o excelente time do Real Madrid do Estreito obteve um empate contra o time de série Z do futebol de Santa Catarina. Entre os destaques da partida estavam o insuperável volante França, candidato à Bola de Ouro da Liga dos Campeões, e ídolo histórico da torcida, trajando as majestosas cores preto e branco, e do lado do time que veste azul e preto (!!), mas que também pode ser branco e dourado dependendo da luz em que você olha, nenhum jogador se destacou. Havia um estreante do lado do time da casa, que até fez gol, mas não representa muita coisa para o futebol da Capital.

Ressalte-se a fragilidade com que são construídas as edificações daquele estádio, haja vista que valorosos e inocentes torcedores alvinegrados mal encostavam nas paredes, catracas e vasos sanitários e tudo despencava.

Bom, é assim que a miopia poderia comentar este jogo de domingo à tarde. Miopia e insanidade, haja vista que torcedores honestos e inteligentes, mesmo sendo alvinegros, dificilmente opinariam com tal pacto de mediocridade.

Mas você acha que isso não é possível? Sinceramente, a própria rede que financia o campeonato pode não expor completamente dessa forma, mas ajudou a construir este discurso psicótico.

Não vou entrar nos detalhes técnicos, táticos ou de desempenho dos times que jogaram mais um clássico em Florianópolis. Os jornalistas e articulistas envolvidos e bem pagos da mídia local já esmiuçaram o que devia.

Vou me ater à perda de tempo em desmerecer algo que nos é rico, o nosso clássico. Ora, qualquer pessoa que tenha ao menos dois neurônios, e que esteja em sintonia com a realidade, sabe que só há um clássico em nosso Estado. É Avaí e Figueirense e não se fala mais nisso. Tentar construir rivalidades por aí é insignificância de mentalidade. Temos que voltar a falar disso sempre? Sim, temos. Até porque percebe-se que não compreenderam isso ainda. E o curioso é que os próprios torcedores caem facilmente nesta provocação leviana.

Só para saber, o jogo não acabou. Oficialmente, a partida se encerrou por volta das 6 horas da tarde deste domingo, mas o jogo continua, a pilha tá acesa e a chapa não esfriou.

Buscam-se os lances decisivos, as jogadas duvidosas, as armações de jogada, os gols sofridos e perdidos, um olhar, um bate-boca, um meneio de cabeça e se repetem ad nauseum as declarações de lado a lado.

Isso é clássico! Isso é rivalidade caseira. Isso é a disputa por espaços e marcação de territórios. Há dois grupos rivais em Florianópolis, do ponto de vista do futebol, mas que nunca devem ser inimigos. Adversários de gostos diferentes, sim, mas somos da mesma laia. Somos irmãos, colegas, amigos, vizinhos com opiniões diferentes. Não estamos numa guerra.

Não houve vencedores no campo, por circunstâncias e por causa daquele sujeito que tem uma enorme sobrancelha debaixo do queixo. Mas fora do gramado perfeito da Ressacada (que não é de alfafa, é capim importado, porque parece que alguém não apreciou o sabor!) o clássico encerrou mais uma etapa vitoriosa. Pena que a rede que financia isso não saiba promover devidamente um dos aspectos mais pitorescos e lúdicos de nossa cultura. Perderam eles, porque ganhamos todos nós.

Eu adoro clássicos!

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC e proprietário do blog Força Azurra. Foto acima: Jamira Furlani / Avaí FC