A DITADURA DO APITO, by Roberto Costa

As novas normas da CBF, destinadas a dar mais força aos árbitros de futebol parecem ser dessas ingerências cheias de boas intenções, mas que na prática se revelam fator complicante. Sempre foram totalmente ditatoriais os poderes outorgados ao árbitro de futebol no seu desempenho em campo, tanto, que uma frase antiga ganhou espaço na cultura do futebol, segundo a qual "o árbitro dentro de campo tem mais poderes que o presidente da República."

Ninguém ignora que os jogadores de futebol têm lá as suas malandragens, as suas simulações, as suas capacidades de colocar uma torcida contra o árbitro, de complicar seu trabalho. Mas este profissional, também chamado mediador, sempre teve a seu dispor todos os meios necessários para contornar os prováveis problemas num jogo de futebol. Pode, desde determinar a expulsão de campo de qualquer atleta, dirigente, ou torcedor até, com um simples aceno, a qualquer tempo e a seu pessoal critério, determinar que o comandante de um pelotão policial de choque entre em ação com seus comandados, ou seja, a lei do futebol consegue transferir alguma parcela da competência funcionai do militar a um civil.

Com o advento dos cartões amarelos e vermelhos, desde a Copa de 70, a administração dos conflitos pelos árbitros ficou mais simples e efetiva, pois a comunicação é feita a todos pelo visual. O amarelo comunica a todo o mundo circundante que o atleta infrator foi advertido e que na reincidência ganhará novo amarelo, entenda-se nova advertência, seguida de inexorável cartão vermelho, o qual comunicará que o referido atleta está fora do jogo, é persona non grata e deve retirar-se de campo, ou ser conduzido manu militari, ou seja pela polícia, na marra em caso de recusa. 

 

O percentual de jogos que não terminam por conta de conflitos sempre foi reduzido em relação ao número de jogos disputados no País. Então parece-me abusiva essa norma nova, que vem deixando jogadores sem direito à palavra, sem direito de contemporizarem, de explicarem-se educadamente. Os árbitros estão sendo radicais, aplicando cartões de forma ditatorial e robotizada a qualquer manifestação de desagrado dos atletas. "Se queres conhecer alguém, concede-lhe uma parcela de poder." Não lembro o autor dessa sábia expressão.

As facilidades para a política da CBF, de preservação na série A dos times dos grandes centros, ou dos privilegiados segundo os interesses de cada federação, ficaram aumentadas com essas normas, mais fácil pressionar atletas, mais fácil, mais seguro e mais cômodo aos árbitros cometerem "erros". 

Embora pertinente, não é somente por causa da arbitragem tendenciosa de domingo, no jogo Avaí versus Sport. No jogo São Paulo versus Fluminense um pênalti vergonhoso em favor do time carioca não foi apitado, agarrão dentro da área, continuado, até o adversário ser jogado ao chão, semelhante àquele sobre Eduardo Costa no clássico. 

Entre nós, já referi em texto muito anterior, o lateral Cereseda, do Figueira, num jogo ganhou cartão amarelo, fez outra falta desclassificante e ganhou advertência oral, fez outra e ganhou nova advertência oral. É claro, à luz da nova e coercitiva postura das arbitragens, nenhum adversário encorajou-se de aproximar-se do árbitro e "lembrá-lo" de que o cartão vermelho já era mais que devido.

Desconheço se os atletas profissionais de futebol têm uma associação que os represente. Em caso positivo, é hora de mexerem-se, porque são os artistas do espetáculo, haja vista que ninguém sai de casa motivado pra ver árbitro apitar e as novas normas estão limitando sempre mais, robotizando sempre mais, estragando sempre mais a grande festa do brasileiro, que é o futebol limpo e bem jogado.

* Roberto Costa é associado do Avaí FC