O futebol sobreviverá, by Daniel Amorim A. Neves

Um torcedor da Portuguesa, com doença em estágio muito avançado, queria uma camisa de seu clube de coração. Tinha dificuldade em conseguir porque a loja do clube no Canindé está fechada e nem sempre é fácil obter a camisa da Portuguesa nos grandes magazines.

A médica que cuidava desse paciente, ciente de que o médico não cuida só do corpo, mas também, e em especial, da alma dos doentes ao seu cuidado, partiu em uma busca desenfreada para adquirir a camisa da Lusa. A estória chegou ao conhecimento de um grupo de torcedores da Lusa que arrumou uma camiseta ao torcedor enfermo que nem conheciam, que a médica fez questão de comprar.

Há poucos minutos recebemos essa mensagem da médica: “Eu cheguei com a camisa, ele pediu para darem banho nele, vestiu a camisa e falou “agora estou pronto”, falecendo depois de 15 minutos”.

Essa estória não diz respeito ao esforço de uma médica para gerar algum conforto em um paciente em estado terminal. Bem poderia. Não se trata da paixão especifica de um torcedor pela Lusa. Bem poderia também. Ela trata da única razão pela qual não conseguirão matar o futebol: a paixão do torcedor.

Estamos todos indignados com a agressão covarde e injustificável sofrida por dois torcedores do Santos por bandidos ignorantes, que porventura são torcedores do Palmeiras. E existem tantas estórias como essa…

O torcedor da Lusa morreu. O torcedor do Santos está em coma, mas todas as pessoas minimamente de bem, independentemente de sua paixão clubística, estão torcendo por ele. Outros tantos morreram estupidamente pelas mãos de bandidos que se valem do futebol apenas para inutilmente tentar justificar seus odiosos crimes. Mas o futebol sobreviverá. Apesar dos assassinos trasvestidos de torcedores, apesar da CBF, apesar do STJD, apesar do 7×1, o futebol sobreviverá.

*Daniel Amorim Assumpção Neves é advogado e torcedor da Portuguesa. Extraído do Blog de Juca Kfouri.

Em tempo: O torcedor do Santos, citado no final do texto, faleceu ontem à noite.