OS MESMOS VELHOS VÍCIOS, by Roberto Costa

Vemos encerrar-se um dos principais campeonatos de futebol do mundo, o Campeonato Brasileiro de Futebol, primeira divisão. E muito diferentemente do que seria de se esperar, não vai encerrar-se com o brilho organizacional que merece um futebol tantas vezes campeão mundial, não vai orgulhar dirigente algum, se é que algum deles esperava orgulhar-se de alguma coisa.

Imaginei que as medidas coercitivas sobre os responsáveis pela crise ética que vive o país, sobre a própria CBF e sobre as principais entidades dirigentes do futebol mundial, com prisões de figuras antes intocáveis, trariam reflexos positivos para a moralização já do campeonato deste ano, mas enganei-me.

Se na parte de cima da tabela as melancias se ajeitaram de forma razoável segundo os méritos de cada clube, o Corinthians brilhando indiscutivelmente como o melhor, na ponta de baixo a batalha pela sobrevivência na primeira divisão vem sendo disputada a força de condenáveis artificialismos, coisas que não deviam ter cabimento mais no mundo do futebol profissional deste País.

Por exemplo, o Vasco, entre outros, vem usando do artifício de retardar jogos para colher vantagem. Outro dia retardou em dez minutos e hoje alongou para vinte minutos o intervalo do seu jogo contra o Santos. Alguma penalidade precisa ser aplicada a essa lei de Gerson.

Outra coisa, o pênalti presenteado ao Vasco da Gama no jogo de hoje frente ao Santos, e que resultou na vitória do time carioca, foi ridículo. Foi ridículo também o comportamento do árbitro Leandro Pedro Vuaden, que visivelmente economizava cartões para determinados jogadores vascaínos. 

Também a disputa paralela de mais de um certame, com jogos entremeados entre um e outro campeonato, vem desnaturando a verdadeira competição do Brasileiro, onde clubes fazem-se representar em determinados jogos por suas equipes secundárias, guardando seu melhores jogadores para decisões do campeonato de seu maior interesse. O Coritiba foi sensivelmente favorecido por esse esquema, obtendo duas vitórias muito decisivas em dois jogos, sobre times enfraquecidos, desfalcados. Isso acarreta danos ao real equilíbrio de forças da competição, com prejuízos imprevisíveis para determinados clubes, na tabela e no financeiro. 

Em resumo, encerra-se mais um campeonato eivado dos mesmos velhos vícios. Não satisfeitos, os mandatários vão piorar mais as coisas. Programam um novo campeonato, a tal taça "Sul, Minas, Rio", a ser disputada ano que vem. Vem aí um ano com aumento do número de lesões de atletas e mais disputas desnaturadas.

* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Foto acima: blog Fim de Jogo