RIVELINO, by Roberto Costa

O falecido Armando Nogueira pode ser considerado o grande cronista do esporte brasileiro, em especial do futebol, esporte pelo qual era apaixonado.

Disse ele: " Um dia, há muitos anos, o pianista Arthur Moreira Lima encontra Rivelino, ambos de férias, numa praia de Santa Catarina. O Maestro, que adora futebol, leva um grande papo com o Riva. Pelas tantas, o craque faz uma revelação que é um primor de bom gosto! Antes de um clássico Corinthians-Palmeiras, o técnico chama Riva e recomenda-lhe que faça uma implacável marcação sobre Ademir da Guia.

- Eu quero que você cole no Ademir. Mas tem que colar mesmo.Você não pode deixar esse cara pegar na bola.

Rivelino responde, sinceramente:

- Desculpe, mas eu não vou fazer isso, professor. Não é justo. O Ademir é uma beleza, jogando futebol. O estádio está cheio exatamente para ver o Ademir. Eu também estou aqui louco pra ver ele jogar. Não leva a mal, não, mas dá essa missão pra outro...

"Um poema de Riva." - Concluiu Armando Nogueira.

Talvez o caso tenha um pouco bastante da criatividade do Armando Nogueira. Armando não cita o nome do treinador e é de se perguntar, qual treinador corintiano cometeria tal estultícia, dar uma função de marcador a um artista da dimensão de Rivelino? Acho que nenhum. 

Se tal fato realmente aconteceu o Riva não fez um poema, mas mostrou muita agilidade mental e qualidades de um gentleman, saindo com classe  de um encargo que não lhe competia. Rivelino era também um craque, tinha tesão pelo gol, pelo drible, pelo chute certeiro. Qual treinador poderia mandar Rivelino jogar marcando? Só alguém fora da casinha. O Argel, quem sabe?...

* Roberto Costa é associado do Avaí FC