ESSE AVAÍ FAZ COISA - II, by Rui Guimarães
Em 1995 o Avaí foi campeão da Copa Santa Catarina. O título seria importante porque o ganhador asseguraria uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte. Acabou não acontecendo. Mas o que vale é o valor da conquista e, principalmente, a forma como aconteceu.
Fui contratado no meio do ano depois de sete anos ausente do Estado. Nilton Dionísio era o presidente e me deu carta branca para que pudesse fazer dessa Copa um laboratório para futura competições. Com essa autonomia, e ao lado de Marcelo Pantera, preparador físico, e meu colega João Carlos Dias, começamos a empreitada!
Como não era novidade na época, o Avaí passava por enormes problemas financeiros e divergências políticas. Mas é a tal história: todo mundo critica, faz oposição, não compactua com a administração, mas ninguém pega no "chifre do boi". E assim, nesse calvário de restrições em todos os níveis de compreensão, fomos passando de fase em fase até chegarmos à final contra o Joinville.
Bruxo
Não posso deixar de registrar a semifinal contra o Marcílio Dias. O primeiro jogo em Itajaí foi 2 a 2. O jogo de volta na Ressacada só tinha uma preocupação: o técnico do Marinheiro era o competente e estrategista Lauro Búrigo, que além de ser meu amigo, é uma das maiores bandeiras do futebol catarinense de todos os tempos!
Como bom mineiro, precisava desestabilizá-lo. Combinei com o Nilton Rodrigues, fanático torcedor avaiano, para que azucrinasse o "Bruxo" durante o jogo. Ele chamou lauro de tudo, lembrando os bons tempos da Conselheiro Mafra, rua da Capital catarinense. O Búrigo, como não deixa passar nenhuma, saiu da área técnica e respondia à altura com todos os impropérios possíveis. O desequilíbrio passou para do banco para o campo e acabamos enfiando cinco no Marcílio.
Na condição de finalista, faríamos o primeiro jogo contra o Joinville na Ressacada. Empatamos em 1 a 1 e bastaria para o JEC um novo empate em casa para o time da Manchester ser campeão.
Sem dinheiro e sem presidente, chegou o dia da decisão, 23 de setembro, e os jogadores avaianos não queriam viajar porque, por incrível que pareça, o clube não tinha dinheiro nem para o jantar da volta. O capitão era Belmonte e, por mais que eu o demovesse da ideia, ele tentava me convencer de que aquilo era um absurdo e que eles nem pensavam em prêmio, caso conquistassem o título.
Nisso apareceu de repente o Dr. Gerson Basso, conselheiro do Avaí, que emitiu um cheque de R$ 1.800,00, para o doutor José Carlos Cardoso. Ato contínuo apareceu João Carlos Dias com o professor Nereu do Vale Pereira e, num discurso rápido, objetivo e de retórica irretocável, exaltando a instituição Avaí Futebol Clube, convenceu a todos. Belmonte ainda relutou e o professor Nereu puxou um Padre Nosso e uma Ave Maria.
Comoções à parte, subimos no ônibus às 18h30min e eis que o próprio quebra em São Miguel. Para nossa sorte, vinha o carro da TV Record atrás e o Serginho Alves, irmão do Roberto Alves, foi buscar socorro. Resolvido o problema, seguimos e chegamos no estádio em cima da hora. Fomos recebidos com ovo e mijo.
Freezer
Na preleção final eu disse para o Régis, que foi um dos maiores volantes com quem trabalhei, que se fôssemos campeões ele ganharia de mim um freezer. Vencemos por 3 a 1, para desespero de quase 15 mil torcedores do JEC. O vestiário de alegria, que antes não tinha nenhum presidente, agora tinha dois: Dionísio e Gerson Basso. O Régis ganhou o freezer e eu, para variar, entrei pelo cano.
Entramos no ônibus para a volta e quebramos na primeira esquina. A sorte que dessa vez foi em frente a um bar e ali comemoramos até às quatro da manhã esperando outro ônibus que foi alugado por um amigo do João Carlos Dias. Realmente, procede a máxima de que "esse Avaí faz coisa".
Fonte: Santa Bola - Crônicas e contos do futebol / Rui Guimarães - Florianópolis : [ S.n.], 2011. (Florianópolis : Imprensa Universitária da UFSC), p. 69-71
Para adquirir o livro Santa Bola - Crônicas e contos do futebol, entre em contato direto com o autor Rui Guimarães: (48) 99673.3331
Fui contratado no meio do ano depois de sete anos ausente do Estado. Nilton Dionísio era o presidente e me deu carta branca para que pudesse fazer dessa Copa um laboratório para futura competições. Com essa autonomia, e ao lado de Marcelo Pantera, preparador físico, e meu colega João Carlos Dias, começamos a empreitada!
Como não era novidade na época, o Avaí passava por enormes problemas financeiros e divergências políticas. Mas é a tal história: todo mundo critica, faz oposição, não compactua com a administração, mas ninguém pega no "chifre do boi". E assim, nesse calvário de restrições em todos os níveis de compreensão, fomos passando de fase em fase até chegarmos à final contra o Joinville.
Bruxo
Não posso deixar de registrar a semifinal contra o Marcílio Dias. O primeiro jogo em Itajaí foi 2 a 2. O jogo de volta na Ressacada só tinha uma preocupação: o técnico do Marinheiro era o competente e estrategista Lauro Búrigo, que além de ser meu amigo, é uma das maiores bandeiras do futebol catarinense de todos os tempos!
Como bom mineiro, precisava desestabilizá-lo. Combinei com o Nilton Rodrigues, fanático torcedor avaiano, para que azucrinasse o "Bruxo" durante o jogo. Ele chamou lauro de tudo, lembrando os bons tempos da Conselheiro Mafra, rua da Capital catarinense. O Búrigo, como não deixa passar nenhuma, saiu da área técnica e respondia à altura com todos os impropérios possíveis. O desequilíbrio passou para do banco para o campo e acabamos enfiando cinco no Marcílio.
Na condição de finalista, faríamos o primeiro jogo contra o Joinville na Ressacada. Empatamos em 1 a 1 e bastaria para o JEC um novo empate em casa para o time da Manchester ser campeão.
Sem dinheiro e sem presidente, chegou o dia da decisão, 23 de setembro, e os jogadores avaianos não queriam viajar porque, por incrível que pareça, o clube não tinha dinheiro nem para o jantar da volta. O capitão era Belmonte e, por mais que eu o demovesse da ideia, ele tentava me convencer de que aquilo era um absurdo e que eles nem pensavam em prêmio, caso conquistassem o título.
Nisso apareceu de repente o Dr. Gerson Basso, conselheiro do Avaí, que emitiu um cheque de R$ 1.800,00, para o doutor José Carlos Cardoso. Ato contínuo apareceu João Carlos Dias com o professor Nereu do Vale Pereira e, num discurso rápido, objetivo e de retórica irretocável, exaltando a instituição Avaí Futebol Clube, convenceu a todos. Belmonte ainda relutou e o professor Nereu puxou um Padre Nosso e uma Ave Maria.
Comoções à parte, subimos no ônibus às 18h30min e eis que o próprio quebra em São Miguel. Para nossa sorte, vinha o carro da TV Record atrás e o Serginho Alves, irmão do Roberto Alves, foi buscar socorro. Resolvido o problema, seguimos e chegamos no estádio em cima da hora. Fomos recebidos com ovo e mijo.
Freezer
Na preleção final eu disse para o Régis, que foi um dos maiores volantes com quem trabalhei, que se fôssemos campeões ele ganharia de mim um freezer. Vencemos por 3 a 1, para desespero de quase 15 mil torcedores do JEC. O vestiário de alegria, que antes não tinha nenhum presidente, agora tinha dois: Dionísio e Gerson Basso. O Régis ganhou o freezer e eu, para variar, entrei pelo cano.
Entramos no ônibus para a volta e quebramos na primeira esquina. A sorte que dessa vez foi em frente a um bar e ali comemoramos até às quatro da manhã esperando outro ônibus que foi alugado por um amigo do João Carlos Dias. Realmente, procede a máxima de que "esse Avaí faz coisa".
Fonte: Santa Bola - Crônicas e contos do futebol / Rui Guimarães - Florianópolis : [ S.n.], 2011. (Florianópolis : Imprensa Universitária da UFSC), p. 69-71
Para adquirir o livro Santa Bola - Crônicas e contos do futebol, entre em contato direto com o autor Rui Guimarães: (48) 99673.3331
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