HELÊNICO, by Memória Avaiana
Adilson Heleno é minha lembrança mais antiga da Ressacada. É a lembrança daqueles 2 a 0 contra o Joinville, válido pela 3° rodada do hexagonal final do Catarinense de 1988.
O Leão enfrentava o octacampeão estadual e, se vencesse, daria um passo importante para a conquista do título. A grande preocupação era neutralizar Nardela e, de fato, durante o jogo quem oferecia mais perigo era o JEC, nos contra-ataques dos ponteiros Geraldo e Paulo Egídio. Nardela chegou a chutar uma bola na trave.
Àquela altura do segundo tempo o empate já era um grande resultado, tamanho o volume do jogo do adversário. Para completar o drama, nossa zaga ficou sem Sérgio Márcio, expulso aos 20 da etapa final.
Por volta dos 35 minutos alguns torcedores começavam a deixar a Ressacada para fugir do congestionamento. Meu pai foi um deles. Na época ficávamos no setor A e lentamente descíamos as escadas quando o Joinville cometeu uma falta na intermediária. Falta banal, corriqueira, longe do gol.
Mas, era falta para o Avaí e Adilson Heleno foi bater...
Quem viveu este período sabe o que isto significava. Não importava a distancia, não importava o local. Se há uma falta a seu favor e Adilson Heleno está no seu time, você para o que está fazendo e assiste. O estádio se magnetizava e até os cabelos se punham de pé para assistir, enquanto o seu nome ecoava pelo ar: “Adílson, Adílson, Adilson”...
O relógio já marcava 40 minutos. Adílson partiu para a bola, o tempo parou, suspendeu-se a respiração, o mundo ficou em silencio. O chute forte fez a bola bailar no ar numa trajetória impossível, entrando no ângulo superior direito do goleiro Rodolfo.
A torcida ainda comemorava o gol como se fosse a conquista do título do campeonato, a agitação fez meu pai me colocar “de cavalinho”, sobre seus ombros, para poder se locomover mais facilmente em direção à rampa de saída. Chegamos lá quando faltava um minuto para acabar o jogo. A razão nos mandava embora para não pegar fila, mas a emoção nos prendia e ficamos para espiar um último lance.
Não poderia ser mais simbólico. Adilson roubou a bola de Nardela como quem tomava a coroa do rei deposto. Correu na diagonal, em direção à grande área e chutou forte, de perna esquerda. A bola, caprichosa, ainda bateu no poste esquerdo de Rodolfo antes de entrar (os gols estão entre os 00:20 a 00:34 segundos no vídeo). A festa estava completa e na saída da Ressacada a torcida tinha apenas um nome nos lábios: “Adilson Heleno”.
Por mais criança que se possa ser, isso não se esquece.
Adílson Heleno, minha lembrança mais antiga da Ressacada.
Eu estava lá.
Pra assistir esse jogo fiz um monte de loucuras.
Eu estava numa reunião em São Pedro de Alcântara, que havia iniciado por volta de catorze horas. Ansiava que a reunião terminasse para poder chegar em tempo de pegar o início do jogo, não queria perder nem um minuto. E a reunião não acabava.
Assim que acabou calculei que chegaria tarde, mas resolvi tentar. Tinha um gol 1.8 que voava. Estrada de chão até à 101, irregular e cheia de cascalho.
Pisei fundo, entrando com tudo nas curvas, fazendo ultrapassagens perigosas, pedras saltando nos impactos com os pneus. Hoje tenho noção das loucuras que fiz, dos perigos todos que corri.
Enfim, cheguei, dirigi-me ao setor A, subi a rampa e assim que enxerguei o campo o pontapé inicial estava acontecendo. Como não aconteceu nada, valeu a pena, mas foi loucura. O jogo foi sensacional, o Adilson, como sempre, o destaque. RC
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