CERVEJA ENVENENADA, by RC
Dona Clotildes desce do ônibus agitada, Abimaelzinho, o filho mais novo, puxado pela mão. Ela quase corre; não fosse pelo pequeno, correria. Quer chegar rápido em casa, preocupada com o Nego.
Vencidos os cinquenta metros do ponto até sua casa, ela entra e, esbaforida, vai chamando:
- Nego! Nego! Onde é que tu tá?
Ele está diante da geladeira, abrindo a terceira Belco.
- Nego, pelamordedeus, joga fora essa cerveja!
- O quê? Tu tá louca?
- Que louca, coisa nenhuma. O assunto no ônibus era um só. Tem cerveja envenenada no comércio.
- Deixa de sê besta, tu acredita em tudo!
- Não Nego, tá todo mundo falando, diz que já morreu gente. Joga isso fora.
Nego pensa por uns segundos. Coloca a latinha na porta da geladeira e diz:
- Jogar fora? Sem uma investigação?... Não, de jeito nenhum. Ah, já sei. Vou ligar pro bar do Aranha.
Ele disca, o outro atende:
- Faaala meu freguês! Que é que te agita, qués mais Belco?
- Aranha, tás sabendo desse papo de cerveja envenenada? A mulher chegou em casa apavorada, querendo que eu jogue a cerveja fora.
- Liga não, meu bom. Isso aí é só lá em Minas. Diz pra tua mulher ficar tranquila e bebe as tuas Belco descansado.
- Viu? Ele disse que é pra tu ficá tranquila, que é só uma marca lá de Minas, que por aqui não tem perigo.
Ele vai à geladeira, pega a latinha ainda com meia carga, ergue-a como um troféu e diz:
- Benhê, pára dessa mania de te fazê de boba. Tu sabe muito bem que pra escolher cerveja pra beber e time pra torcer eu sou infalive! Quebra tudo Figueiraaaa!!!!
E entornou o conteúdo restante da latinha.
* Roberto Costa, o "RC", é associado do Avaí FC. Texto originalmente publicado em 15/01/2020. Foto acima: Internet
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