24 anos do caso "Loebeling"
A Série B do Campeonato Brasileiro era um território
recém-descoberto pelas torcidas dos grandes centros do País em 2001 quando
Alfredo dos Santos Loebeling se aposentou como árbitro. Sua última partida
profissional coincidiu com a última rodada daquele torneio, que ficou marcada
pelas polêmicas da arbitragem e que foi fundamental em sua decisão de pendurar
o apito.
Loebeling foi escalado para apitar Figueirense x Caxias no Estádio
Orlando Scarpelli, pela sexta rodada do quadrangular final da Série B de 2001.
Os dois times tinham seis pontos, assim como Paysandu e Avaí. Em Belém, o time
paraense – que só precisava empatar – fez sua parte e conquistou o título do
torneio ao vencer o rival catarinense no Estádio da Curuzu por inapeláveis 4 a
0. Mas em Florianópolis…
Na capital catarinense, o Figueirense também fazia sua parte e vencia o
Caxias por 1 a 0 até os 46min do segundo tempo – Abimael, aos 16min da etapa
final, marcou. Os cerca de 22 mil torcedores no estádio não conseguiam conter a
ansiedade. Aí, cerca de 2 mil deles pularam os alambrados e invadiram o
gramado. Os jogadores começaram a comemorar o final do jogo.
Estava estabelecida aí a confusão entre os dois times, que só iria se
resolver no ano seguinte.
Quem explica o que aconteceu a partir daí é o próprio Alfredo Loebeling.
Segundo ele, a súmula da partida relatava a invasão antes do final do jogo, o
que custaria os pontos da vitória ao Figueirense e daria a vaga na Série A ao
Caxias. No entanto, por orientação do então presidente da comissão de
arbitragem da CBF, Armando Marques, o árbitro enviou à entidade um primeiro
relatório, dizendo que a invasão só aconteceu após o apito final. Depois,
enviou o relatório que, segundo foi explicado a Loebeling, valeria. No fim, a
CBF levou em consideração o primeiro relatório, que atendeu a pedidos de
Armando Marques, e promoveu o Figueirense.
“Eu tinha botado que a invasão foi antes de acabar o jogo, como de fato
aconteceu. Estava nos acréscimos, faltava um minuto e pouco para o fim dos
acréscimos. O Armando Marques falou que tinha que colocar no relatório que a
invasão foi depois de terminar o jogo. Aquilo manteria o resultado”, contou
Loebling ao blog. E por que Armando Marques fez pressão pela manutenção do
resultado? Para o ex-árbitro, por um motivo: política.
“O Rio Grande do Sul já tinha três times (na Série A do Campeonato
Brasileiro) – Grêmio, Inter e Juventude na época. O Caxias seria o quarto.
Santa Catarina não tinha nenhum time. Obviamente, foi uma decisão mais politica
do que técnica”, assegurou Loebeling, que descartou qualquer pressão do
Figueirense ou da Federação Catarinense de Futebol pela decisão em favor do
clube alvinegro.
Hoje aposentado, Loebeling lamenta os
desdobramentos daquela posição da CBF – em especial porque o árbitro abandonou
o futebol profissional justamente quando aparecia em uma posição de destaque no
quadro da entidade. O sonho de apitar uma Copa do Mundo ficou pelo caminho,
enquanto o Caxias – atualmente na Série C – busca desde então a volta à Série
A, de onde está fora desde 1979.
Confira a entrevista de Alfredo dos Santos
Loebeling:
Última Divisão – Aquele Figueirense x Caxias
no Estádio Orlando Scarpelli em 2001 foi seu último jogo, certo? Você se
aposentou ali, né?
Loebeling – Foi o último jogo profissional que eu apitei. Figueirense x
Caxias, última rodada da Série B de 2001.
Última Divisão – Você já estava decidido a se
aposentar naquele jogo? Ou aquela confusão te influenciou?
Loebeling – Eu tinha mais quatro anos pela frente, e tinha a expectativa de
apitar a Copa do Mundo. Mas depois do jogo, como as coisas aconteceram, eu
tomei a decisão de encerrar a carreira.
Última Divisão – Naquele jogo, houve uma
invasão no campo no final da partida, e a decisão do acesso de Figueirense ou
Caxias foi adiado. Você se lembra do que colocou no relatório daquela partida a
respeito da invasão?
Loebeling – Eu tinha botado que a invasão foi antes de acabar o jogo, como de
fato aconteceu. Estava nos acréscimos, faltava um minuto e pouco para o fim dos
acréscimos. O Armando Marques falou que tinha que colocar no relatório que a
invasão foi depois de terminar o jogo. Aquilo manteria o resultado. Na época,
pelo que dizia o CBDF (Código Brasileiro Disciplinar do Futebol), relatando a
verdade, que a invasão aconteceu antes de acabar o jogo, o time cuja torcida
que causa a invasão perderia os pontos. Subiria o Caxias e não o Figueirense.
Última Divisão – Você colocou então, de
fato, que a invasão foi antes de acabar o jogo?
Loebeling – Faltava uns 50 segundos, houve uma invasão da torcida do
Figueirense.
Última Divisão – Por que então o Caxias não
subiu? Você lembra?
Loebeling – Quando o Armando Marques fez a pressão para eu colocar que a
invasão foi antes de acabar o jogo, eu denunciei ao presidente (Eduardo José)
Farah, da Federação Paulista (de Futebol). O Farah fez uma denuncia ao Tribunal
(Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o STJD), com o Luiz Zveiter (então
presidente do órgão). Foi para julgamento. Quando eu estava sendo pressionado
para mandar ao Rio de Janeiro a súmula do jogo via fax, do jeito que o Armando
queria, o Farah ligou para o Zveiter e perguntou: “o que ele faz?”. Ele falou:
“manda um fax do jeito o que o Armando Marques quer e traz na minha mão o
relatório do jogo”. Fizemos isso. Mandamos um fax do jeito que o Armando
queria, que o Luiz Zveiter falou que não teria valor legal por ser um fax, e eu
ia entregar na mão dele o relatório oficial do jogo. Eu levei ao Rio de Janeiro
do jeito que foi feito, e o Zveiter me denunciou, como se eu tivesse entregado
dois relatórios. Quando ele foi me julgar pelos dois relatórios, ao mesmo
tempo, ele estava definindo qual dos dois valeria. Segundo o Zveiter, segundo o
Armando Marques, segundo a CBF, como eu mandei primeiro o fax, valeu o fax.
Última Divisão – No fim, valeu o que o Armando
Marques pediu para constar, que a invasão foi depois do jogo.
Loebeling – Sim, valeu. Se for analisar bem, tem uma explicação logica para
isso. O Rio Grande do Sul já tinha três times – Grêmio, Inter e Juventude na
época. O Caxias seria o quarto. Santa Catarina não tinha nenhum time.
Obviamente, foi uma decisão mais politica do que técnica. A ideia era o quê?
Ter mais um estado, que você movimenta milhões, que você… É um outro conceito.
Por causa disso, acabou sendo uma decisão politica, e não técnica.
Última Divisão – Você sofreu alguma pressão –
do Figueirense, do Caxias, do Delfim (Peixoto, presidente da Federação
Catarinense de Futebol) – para formular o relatório?
Loebeling – Não. Em nenhum momento teve envolvimento de clube. O Figueirense
não me pediu nada, ninguém me ligou da Federação (Catarinense). Fui pressionado
pelo Armando, que me falou que, se eu não fizesse o que ele queria, ele me
tirava da Fifa, como realmente tirou. Ele me falou o seguinte: “se você fizer o
que eu estou mandando, sei que você é filho de alemão, a próxima Copa (do
Mundo, 2006) é na Alemanha”… Entendeu? Insinuando que, se eu fizesse o que ele
mandou, poderia apitar a Copa da Alemanha.
Última Divisão – Acabou pesando essa pressão
para você se aposentar, eu imagino…
Loebeling – Futebol é um grande negócio. Infelizmente, as pessoas tem que
entender isso. Naquele momento, interessava para a CBF, para o Armando, para o
sistema, que subisse o Figueirense e não e o Caxias. Alguém tinha que pagar o
pato. Fui denunciado, mas não me arrependo não.
Última Divisão – Ficou chateado de não ter
sido indicado para apitar a Copa de 2006?
Loebeling – Fiquei chateado porque me dediquei 12 anos à arbitragem. Gostava
muito. Encerrar a carreira dessa maneira porque as pessoas querem, porque não
querem o que é justo, é complicado. E também pelo que acontece depois – depois
que eles acabaram com o árbitro, precisaram acabar com o homem. De melhor
árbitro do Brasil por dois anos seguidos, recebendo prêmio e dando curso, virei
bandido, estelionatário. Eles precisavam fazer de um jeito que eu não voltasse.
Fonte: ÚltimaDivisão.com.br






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