Quinta-essência - Mais uma da Granja

Texto de Alexandre Carlos Aguiar (blog Força Azurra)
Charge de Mauro José Pereira, o Mausé (blog Manja Tempo)

Os bichos-cricri da famosa Granja Comigo Boi Não Dança, ou mais conhecida pelas iniciais CBN-D, a Raposa Felpuda, malidicente e ardilosa, o Sapo Duende, encrenqueiro e eterno inconformado, o Bode Espanhol, velho, muito velho e carcomido, o Ratão do Banhado, que não deu certo em lugar algum e acabou dando na Granja e o Morcego Moicano, que posa de intelectual pra fazer gênero, estavam eufóricos, pois o Papagaio do Circo do Deba, o Van Twitter, iria dar mais uma quentinha pra turma.

- Vocês não me divulguem isso antes do tempo, hein! - Dizia o Papagaio Van Twitter. - Eu não posso perder essa boquinha.

- Mas o que é isso, Van Twitter? - Perguntava o Bode Espanhol. - É alguma revelação, algo novo? Lá na Espanha quando a gente revela algo novo, faz uma festa medonha.

- Por falar em festa, tu fostes convidado pra uma festa no Circo, o ixtepô. - Fez troça o Sapo Duende, quase deixando a dentadura ir ao chão. - Dizem que te tornastes agora um verdadeiro membro do Circo.

- Ah, depois que eles enxotaram a Bucica Babona, agora só uns poucos é que se tornaram membros verdadeiros do Circo. - Completou o Bode.

- Que história de Bucica Babona é essa? - Quis saber a Raposa Felpuda.

- Ah, dás um banho! Não sabes quem é a Bucica Babona? É a cadela velha que vive rondando o Circo do Deba pra ver as apresentações do Leão. Ela lambe e cheira o Leão o tempo todo, mima demais o bichinho e toda a vez que ela aparece ele fica tão faceiro, que faz apresentações magistrais. Mas o dono do Circo enxotou a Bucica e declarou que só uns estrangeiros é que podem assistir às apresentações do Leão. São chamados, agora, de verdadeiros apreciadores do Leão. Eu sou um deles, claro, já que sou espanhol. Mas tem carioca, paranaense, português. Dizem que vem até uns americanos por aí.

- Buááá! - Esganiçou-se em choro a Raposa.

- Que é que houve, rapaz? - Preocupou-se o Ratão do Banhado.

- Não me fale em americano que eu choro.

- Ah, já sei! Hahaha! - Riu-se o Sapo, quase deixando cair mais uma vez a dentadura. - Por falar nisso, lá na Granja do Vizinho dizem que a coelhada anda comendo brócolis, é verdade?

- Pois é, se continuar assim - completou o Morcego Moicano - logo, logo vai ser igual à baleia de Laguna: vai nadar e morrer na praia.

- Buááá! Buááá! - A Raposa não se continha em lágrimas.

- É, o discurso de quem nada é um e de quem morre na praia é outro. - Completou o Sapo Duende, recuperando a dentadura. - E tu aí, o dois de paus. É, tu mesmo, Papagaio. Que é que viesse contar pra gente?

- Ah, sim. Mas olha, não espalha.

- Tá, rapaz, conta logo.

- É que eu fiquei sabendo que o quero-quero Otávio vai embora.

- O quê? - Surpreendeu-se a Raposa. - És um monstro. Não era a grande contratação do Circo esse ano, que ia ajudar o Leão do Circo a se erguer?

-E, mas parece que o Otávio ficou brabo, depois que o outro quero-quero amigo dele, o Caminhãozinho de Areias foi embora. Era o único que dava bola pra ele.

- E esse aí, o Caminhãozinho de Areias, não era outro apreciador verdadeiro do Leão? - Quis saber o Morcego Moicano.

- Era, - completou o Papagaio Van Twitter - mas ele queria montar uma gaiola maior do que o Circo comporta e convidar outros apreciadores lá da Espanha.

- O non disse! O non disse! - cuspiu-se o Bode.

- E aí a Bucica latiu tanto que ele foi embora, amuado. E o Otávio quer ir também. Mas, por favor, não divulguem antes de se confirmar, hein! - E foi embora.

- Eu sou meio desconfiado com esse papagaio. - Revelou o Sapo, depois que ele saiu.

- Porque, Sapo? - Surpreendeu-se a Raposa. - Afinal, ele presta um serviço tão bom, trazendo todas as novidades quentinhas lá o Circo pra gente.

- É, mas tem a boca maior do que a minha. Aí não dá, né, ô!