É de sonho e de pó, by Felipe Matos
A noite do dia 08/07/1993, na Ressacada, foi de ansiedade, nervosismo e
revolta. O torcedor avaiano mais uma vez havia atendido aos apelos da
direção do clube e comparecido em bom número para a derradeira partida
do campeonato catarinense que decidiria o rebaixamento ou não do clube,
contra o Concórdia.
Foram menos de 1500 pagantes, mas número expressivo para a patética
campanha do clube no Estadual de 1993. O clima era de cobrança aos
jogadores. Na entrada em campo, a torcida se dividiu entre a vaia e os
aplausos.
A noite foi histórica porque a vitória do Inter de Lages sobre a
Caçadorense por 1 a 0 serviu para o rebaixamento de Avaí e Brusque,
mesmo com a vitória avaiana de 3 a 1 sobre o Concórdia (relembre AQUI).
Pico (por onde anda) tornou-se
o primeiro presidente a rebaixar o Avaí numa competição, fato só
repetido em 2011, quando João Nílson Zunino tornou-se o primeiro
presidente a rebaixar o Avaí numa competição nacional.
Com o rebaixamento avaiano definido, a reação de parte da torcida foi
jogar pedras nos jogadores, numa grande confusão que mobilizou a polícia
militar e assustou dirigentes. Uma reação violenta que, de fato, não
deve ser louvada ou incentivada.
Mas, os vilões daquela noite não foram os torcedores, que viram o time estimado virar pó.
Estes, apenas cumpriram o seu destino: torcer, que nada mais é do que
retorcer a realidade para que ela se encaixe em seu imaginário. Torcer é
pegar o que está posto e manipulá-lo violentamente até conseguir outra
forma, a forma dos sonhos de quem vive o futebol como a mais
imprescindível das coisas prescindíveis. Torcer é retorcer, entortar,
voltear, deslocar, contrair, desvirtuar, virar, desviar. É,
pois, corrigir o rumo. Para isso, respondem com aquilo que as
oportunidades da vida lhes deram: palavras, textos, vaias, gritos de
ordem, cantos de incentivo e, para alguns, pedras e sarrafos. (grifamos)
Há quem repita, simploriamente, que não se pode fazer futebol com
ingressos a R$1. Torcedor não pede esmola, não espera de seu clube
assistencialismos. Espera respeito pela instituição e por seu direito
dela participar.
Repito: aquele que não consegue enxergar a importância cultural e a
dimensão popular do futebol, não pode avocar para si o papel de
dirigente esportivo. Cabe a torcida voltar atrás para retorcer o futuro. (grifamos)
(Fonte: O Estado, 09/07/1993. Foto: Luiz Carlos Vieira.)
* Felipe "Melo" Matos é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Memória Avaiana
1 Comentário:
opa, valeu, andre! abs!
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