quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

É de sonho e de pó, by Felipe Matos

A noite do dia 08/07/1993, na Ressacada, foi de ansiedade, nervosismo e revolta. O torcedor avaiano mais uma vez havia atendido aos apelos da direção do clube e comparecido em bom número para a derradeira partida do campeonato catarinense que decidiria o rebaixamento ou não do clube, contra o Concórdia. 
 
Foram menos de 1500 pagantes, mas número expressivo para a patética campanha do clube no Estadual de 1993. O clima era de cobrança aos jogadores. Na entrada em campo, a torcida se dividiu entre a vaia e os aplausos. 
 
A noite foi histórica porque a vitória do Inter de Lages sobre a Caçadorense por 1 a 0 serviu para o rebaixamento de Avaí e Brusque, mesmo com a vitória avaiana de 3 a 1 sobre o Concórdia (relembre AQUI).

Pico (por onde anda) tornou-se o primeiro presidente a rebaixar o Avaí numa competição, fato só repetido em 2011, quando João Nílson Zunino tornou-se o primeiro presidente a rebaixar o Avaí numa competição nacional. 

Com o rebaixamento avaiano definido, a reação de parte da torcida foi jogar pedras nos jogadores, numa grande confusão que mobilizou a polícia militar e assustou dirigentes. Uma reação violenta que, de fato, não deve ser louvada ou incentivada.  

Mas, os vilões daquela noite não foram os torcedores, que viram o time estimado virar pó.

Estes, apenas cumpriram o seu destino: torcer, que nada mais é do que retorcer a realidade para que ela se encaixe em seu imaginário. Torcer é pegar o que está posto e manipulá-lo violentamente até conseguir outra forma, a forma dos sonhos de quem vive o futebol como a mais imprescindível das coisas prescindíveis. Torcer é retorcer, entortar, voltear, deslocar, contrair, desvirtuar, virar, desviar. É, pois, corrigir o rumo. Para isso, respondem com aquilo que as oportunidades da vida lhes deram: palavras, textos, vaias,  gritos de ordem, cantos de incentivo e, para alguns, pedras e sarrafos. (grifamos)

Há quem repita, simploriamente, que não se pode fazer futebol com ingressos a R$1. Torcedor não pede esmola, não espera de seu clube assistencialismos. Espera respeito pela instituição e por seu direito dela participar.  

Repito: aquele que não consegue enxergar a importância cultural e a dimensão popular do futebol, não pode avocar para si o papel de dirigente esportivo. Cabe a torcida voltar atrás para retorcer o futuro. (grifamos)
(Fonte: O Estado, 09/07/1993. Foto: Luiz Carlos Vieira.)
* Felipe "Melo" Matos é associado do Avaí Futebol Clube e proprietário do blog Memória Avaiana

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