O PLACAR ELETRÔNICO, by Roberto Costa
Era uma vez um Placar Eletrônico, que fora construído com
muito carinho, por uma agremiação. Uma vez pronto, pintaram-no com a cor
das trevas e instalaram-no num local elevado do estádio, razão pela
qual ele adquiriu um ar imponente, detalhe que fez aumentar o orgulho do
populacho afinado com a dita agremiação.
Entretanto, nem tudo eram flores para o pobre engenho,
ele tinha problemas insuspeitados, com os quais sofria e remoía
silenciosamente, haja vista que não tinha como queixar-se deles aos
técnicos que o haviam concebido. As limitações eram o seu fraco.
Invejava principalmente os robôs, que - a contrário dele, um equipamento
estático - podiam locomover-se.
Mas, com muito esforço, conseguira identificar o populacho
que o prestigiava, aquela turba agitada que reverenciava nas roupas a
cor preta, sua própria cor. Passou então a invejá-los, a sonhar com um
dia em que pudesse sambar no meio deles, pular, usar camisa
pornográfica, acender sinalizador e ter a mídia alugada a seus pés,
abafando suas mazelas. Mas isso era apenas sonho, sonho inalcançável,
ele não se deixava iludir, sabia-se definitivamente um artefato
estático.
Aos poucos, porém, foi se resignando e até encontrando
alegrias pelas meras atenções que recebia em dias de jogo e pelo simples
fato de sentir-se útil. Podia-se dizer que era quase feliz.
Eis que, numa semana de outono, a desusada movimentação no
estádio disse-lhe que algo especial estava por acontecer. Colocou em
estado de alerta todos os seus circuitos eletrônicos, todos os seus
chips, e conseguiu captar uma palavra que, de tão pronunciada,
pareceu-lhe muito importante: "Clássico". Forçou mais a atenção e captou
o total da mensagem importante: "Domingo é dia de clássico". Deixou-se
contagiar pela emoção reinante e, tocado de ansiedade, passou a torcer
para que o domingo chegasse logo, acreditando que nesse dia tão
especial, O DIA DO SEU PRIMEIRO CLÁSSICO, pudesse atingir um estado de
plena felicidade.
Então, o clássico chegou e ele encheu-se de júbilo. A
sua turba ocupava quase todo o estádio, o que confirmava a suspeita de
que estava diante de um acontecimento realmente especial. Sentiu,
no visor, acenderem-se o nome de sua agremiação e o do adversário e
sabia que ali seria registrado cada gol assinalado no jogo. Alguma
grande alegria estava perto de acontecer, ele acreditava. Mas os minutos
foram passando e nada de gol acontecer, até que aos 32 sai o primeiro, e
um comando elétrico irreprimível registra no seu próprio visor o
número um, cruelmente ao lado do nome do adversário. Ele procura
desesperadamente entre os recursos de seus chips uma forma de apagar
aquele incômodo dígito, ou de repassá-lo para sua agremiação, mas nada
encontra. Sonha com uma lagartixa na tomada, tenta ele próprio provocar
um curto circuito, um arakiri eletrônico, e nada. Do outro lado a turba
zebrada, enlouquecida e babando, quer quebrar tudo.
Como se não bastasse, minutos depois, um novo gol e o
impulso eletrônico, de novo, sem que ele possa impedir, registra o
número dois ao lado do nome do adversário. Seu visor se enche de
lágrimas e ele diz baixinho, com seus botões: - É triste admitir, mas O
PRIMEIRO CLÁSSICO, A GENTE NUNCA ESQUECE.
* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Mini-fábula escrita em 11/04/2008, motivado pela realização do primeiro clássico com placar eletrônico, recém inaugurado, no nosso salão, o clássico do CRÉU! Placar eletrônico pé frio!
20 Comentários:
E o último também!
Estádio Adolfo konder, o "campo DA LIGA", o famoso "pasto do bode", ano 1983, Avai 0 x 2 Figueirense.
Carlos Roberto fez um golaço genial ( vejam no you tube) e Albeneir lacrou as traves do estádio "da liga".
Não tinha a pompa dos "eletronicos" mas sem sombre de dúvidas este clássico fechou uma era e é talvel o mais importante de todos os tempos.
Jamais conseguirão apagar o clássico derradeiro da época mais charmosa da sossa linda cidade.
TUCA
Os 4x0 na Ressacada também foi lindo! Épico primeiro tempo, com o arbitro dando uns penaltes para o Avaí e anulando gols regulares do Figueirense.
E o ultimo na Copa do Brasil, 2x0, onde a mídia já dava como certa a classificação do Avaí. Foi lindo.
E a final de 99, foi muito gostoso.
Juca!
JUCA o assunto é placar eletrônico, mas tudo bem.
Dizem que aquele Avaí 11, Barbies 1, não pôde ser registrado no marcador daquela época, porque como não era basquete, só havia um algarismo 1, e precisariam dois pra fazer o onze, então registraram só até 10, rsrsrs. Graças a Deus, hein, Juca? - Roberto Costa
4x0 em pleno manguezal, esse nao tem preço.
JUCA, 2 a 0 pela Copa do Brasil, com doze em campo é sempre muito fácil. RC.
O que mais me lembro foi o de 2012 e a dança do Créu do Galego de forma esportiva no Scarpeli e o Hemerson Maria em cima do alambrado. Aquilo ali foi o top da década do esporte na ilha. Fernando Avaiano.
É, e o GALEGO, ou melhor PAQUITA DESLUMBRADA, vive dançando até hoje nas barras dos tribunais por seus ataques deslumbrados.
A paquita adora dancar, mas e o creu no remendao!!! Quanta magoa... a paquita faz as bichas sofrerem...haja conselheiros no tjd sc para amenizar as hemorroidas!!!
Figueirense 0 x 4 Avaí.... 4 gols de Bira Lopes!!!!!!!!!!
Márcio
Tuca,
Fizeste muito bem em lembrar o saudoso Adolfo Konder, onde íamos sem qualquer problema em relação as duas torcidas...
E como estamos falando em placar, vale lembrar que as 4 maiores goleadas do clássico foram aplicadas pelo Avaí. Em 22 de fevereiro de 1938, o Leão da Ilha fez 11 a 2 no Figueirense pelo Campeonato Citadino. Em 1942, o Avaí executou 10 a 2 no Figueirense também pelo Citadino. Depois, mais outros dois 9 a 3 em 1934 e 1944.
Que espetáculo!
Juca,
Vindo de ti, relembrar 1999 foi no mínimo imprudente...
Aliás, diria diferente: bem ao "estilo" de vocês...
RC,
Basquete? hehehehehehe
Boa!
Anônimo,
Será que teve o mesmo feito de 2012?
DU - VI - DO !!!
RC,
Com 12 é sempre mais fácil...
Fernando Avaiano,
O texto do RC foi justamente em função daquele clássico, onde inauguravam o placar...
Anônimo 2,
E até hoje estás magoado por dentro, se é que me entendes...
Damian,
Seguem magoadas!
Márcio,
Nem lembrado!
Eu comparo André com também com o Campeonato atual. Vai que o time alvinegro consiga reverter nos Tribunais, afinal o Vintão e sua Trupe são forte por lá, que graça vai ter. Nós conquistamos um título em 2012 dentro de campo, sem guerra como em 1999, estava lá e saí debaixo de pedrada com risco de vida já que invadiram o campo e vieram do nosso lado. Em 2012, foi só esporte, sem cueca, sem vestidinho, apenas vibração. Depois é claro, apagaram a luz do Scarpeli, o pessoal de lá não sabe perder. O Marquinhos fez festa, apenas isto, mas nada. Querem incutir na nossa cabeça que o Galego é violento, ele pode ser folgado, malandro no bom sentido, até meio assim com as palavras, mas violento ele não é. Agora joga muita bola, mesmo velhinho é o melhor jogador de SC disparado. Fernando Avaiano.
Fernando Avaiano,
Sim, não como como compararmos os títulos conquistados pelo Leão e o "doladelá"...
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