A ALMA E O DIABO, by Alexandre C. Aguiar

Ocorre que, junto a isso, entrou a grana. Seria oferecida ao Avaí, com direito a contraproposta, uma fatia de 700 mil reais para mudar o mando de campo.
E foi por causa disso que a celeuma se estabeleceu. Na barbearia que frequento e onde tomo nota dos textos nas revistas para escrever meus próprios textos, o quiprocó foi generalizado. Os contra e os a favor entraram em ampla discussão. A vias de fato só não foram estabelecidas porque as navalhas estavam cegas. Tudo porque se insinuou que o Avaí venderia o jogo.
Obviamente, para quem acompanha futebol há anos como eu, discussão sobre pontos de vista nesta praia nunca foram com açúcar e com afeto. E até se entender o que estava ocorrendo, a guilhotina deslizou sobre pescoços e membros articulados.
É preciso, portanto, deixar clara uma coisa. Ou várias coisas. Em clubes crescidos como os do campeonato brasileiro, acordos entre eles são feitos daqui para lá e de lá para cá. Os presidentes, diretores e até jogadores em campo se entendem e se relacionam, como adultos. Raros são os que se rasgam com raivinha desta ou daquela postura, como os comentaristas de redes sociais fazem a rodo, por exemplo.
Muita gente, muitos torcedores, sem entender os contextos, saíram apontando dedos e impondo normas, como se a própria diretoria do Avaí não soubesse como fazer. Rasgariam carteirinhas, se o jogo fosse transferido, ou, como disseram, se o Avaí se vendesse. Você, caro leitor, já imaginou a estupidez de uma postura desta.
O Avaí, em vista de tudo e das reações intempestivas, deu uma resposta de cabra macho, negou uma grana que seria benéfica aos seus cofres e não se vendeu, como acusaram os mais apressadinhos. A diretoria azurra aproveitou a oportunidade e reverteu a seu favor toda a questão. E jogou nas costas dos inveterados seus desafetos a obrigação de ir ao estádio e apoiar sua conduta. Mostrou que tem alma e deu uma banana aos diabos, como devem fazer os adultos.
O Avaí perdeu uma boa grana, evidentemente, e eu não pensaria duas vezes em aceitar esta proposta. Mas, como sócio e parceiro do clube, respeito a decisão da diretoria.
Todavia, para compensar a perda, resta saber quantos torcedores que adoram emparedar a diretoria vão a este jogo, quantos convidados a mais vão levar e, se não forem sócios, quando farão seus cadastros na secretaria do clube nas próximas semanas. Porque, meu caro leitor, falar é fácil, muito fácil e o papel aceita tudo.
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC e proprietário do blog Força Azurra
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