SOBRE RENAN E A GRIFE, by Alexandre C. Aguiar

Assistir a um jogo do Avaí, hoje em dia, nos enche de prazer e orgulho, não pelos resultados, que ultimamente têm sido bicudos, mas por apreciarmos a um bom futebol de um garoto, volante, marcador, mas que também tem técnica e habilidade. É inegável que os torcedores do Avaí tem um gosto único, uma preferência compartilhada, uma unanimidade inteligente, que é a admiração pelo futebol deste garoto acima da média chamado Renan, o Renanzinho.

Ainda não vi um que tenha opinião contrária, e olha que temos gente chata no meio da torcida.

Diante de brucutus e singelos topetudos jogadores do futebol brasileiro, enfrentando times muito mais fortes deste campeonato e candidatíssimos ao título, ele se destaca, como se na sua carreira já houvesse enfrentado os mais cascudos personagens do futebol mundial. Como joga este menino!

E menino mesmo, não tendo ainda 18 anos. Ainda não pode tirar carteira de motorista, sabias disso?

Ele chegou assim na humildade, aos pouquinhos, estreou ainda no catarinense e não saiu mais. Fez-se pouco alarde pela sua estréia, quase não foi dada muita atenção ao que viria a ser, vindo de mansinho e comendo pelas beiradas. Mas na primeira bola, no primeiro toque, no primeiro passe viu-se a diferença. A imposição de jogo, a marcação firme, a colocação no lugar certo do campo já o credenciou como bom jogador.

Daí para frente foi apenas confirmação e encanto. A torcida se agradou do menino.

Mas eu fico imaginando quantos Renans passaram pelo nosso time e que não tiveram a mesma felicidade? Qual foi o grau de paciência para qualquer outro jogador que, apesar de não ter estreado bem, era bom, mas foi vaiado consistentemente já no segundo jogo? Vaiado já no aquecimento, eu diria, pois já vi isso. Até o jogador sair. Até ir embora e fazer boa figuração em outro lugar.

É dito como verdade absoluta que um time para ser bom tem que ser bem montado. Mas o que é, raios, um time bem montado? É o que traz jogadores com grife, com currículo de ter jogado em grandes clubes do nosso futebol? Com nome famoso? É aquele que custa um cifra de seis dígitos? Até hoje eu nunca soube. Se vier da Europa, então, é capaz de lhe estenderem um tapete vermelho.

Normalmente, em começo de campeonatos, cria-se aquela expectativa coberta de ansiedade para se saber quais jogadores serão contratados para a temporada. A avaliação segue quesitos tais aos que se usa pra comprar cavalo ou carro. Uma espécie de check list corre em meio à torcida para se dar o aval ao jogador que virá defender nossas cores. Na maioria das vezes, quando os nomes não saíram ao menos duas vezes em matérias do Globo Esporte, o jogador é rejeitado de cara. Nem bem assinou o contrato e já é mandado embora. Nem jogou e se decreta que aquele não serve, que a diretoria é burra e incompetente, que não traz jogadores de peso, que faremos um péssimo campeonato, ó, vida, ó azar, e blábláblá…

Renanzinho veio, justamente, para acabar com essa pauta subjetiva e complexo de inferioridade. Para o bem dele (e nosso!), estreou às escondidas. Porque se fosse contratado agora, com a recomendação de ter nascido em Rondônia, ter vindo de um clube do interior do Paraná e ter, apenas, 17 anos, e ainda ocupar a vaga de Eduardo Costa, certamente não duraria 2 jogos, sendo vaiado na metade do primeiro.

Dizem por aí que cada clube de futebol tem a torcida que merece. Como o nosso é tachado de amador e fracassado, a conclusão é sua.

Disse alguma mentira?

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC e proprietário do blog Força Azurra. Foto acima: Avaí FC / Divulgação