MICALE, UM APRENDIZ, by Roberto Costa

Escrevo antes do jogo com a Dinamarca, concordando que em futebol são comuns as surpresas, mas incumbir o treinador Micale de conduzir a seleção olímpica, alimentando esperanças de conquistar o ouro, parece ter sido um despropósito.

Ficou evidente até agora, que a seleção não é um bloco coeso, organizado, onde as partes defesa, meio-campo e ataque se complementem e se harmonizem estrategicamente em busca de chegar com sucesso à meta adversária e da mesma forma impedir que os adversários façam o mesmo.

Micale não obteve dar uma cara de time de futebol ao grupo sob seu comando, o que pode ser reflexo de uma liderança tíbia. Os jovens e bons jogadores, todos atletas de destaque em suas equipes, não conseguem se entender, falarem todos o mesmo idioma. O problema é que cada qual procura resolver sozinho, os resultados não aparecem e o nervosismo toma conta de todo o time, agravando ainda mais o desastre.

Até agora foram decepcionantes as aparições do treinador Micale diante dos microfones. Muito mal de entrevistas, meio perdido, deixando a impressão de que aceitou colocar sobre os ombros uma responsabilidade pesada demais para o seu grau de experiência. Mostrou-se  incomodado com a visita do treinador Tite, frisando literalmente que ele, Micale, é o treinador, fato que por si só demonstra sua insegurança.

Liderança e larga experiência eram  predicados valiosos para a escolha do treinador. Vadão enquadrou bem o time das meninas, percebe-se que elas jogam à risca de um sistema, percebe-se o trabalho do treinador. 

Micale é ainda um aprendiz. Em futebol tudo é possível, a seleção pode hoje vencer a Dinamarca e deslanchar, mas, em sã consciência, é o que ninguém acredita. Ficamos em dúvida sobre os critérios utilizados pela CBF para a escolha do treinador, se é que critérios houve.

* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Foto acima: Ueslei Marcelino / Reuters