sexta-feira, 5 de julho de 2013

30 anos da enchente de 1983, by Adalberto Day

Por Adalberto Day/Cientista social e pesquisador da história

- A enchente de 1983 teve uma duração de 32 dias, do dia 05 de julho até 05 de agosto, atingiu a marca maior no dia 09 de julho, 15,34 metros. Criou-se daí em diante, um estigma de cidade das enchentes. Mas o tempo passou, e nem sempre a primeira impressão é a verdadeira. Hoje somos uma cidade alegre, com festas populares, turismos, e a nossa Oktoberfest criada em 1984 para levantar o animo dos blumenauenses. Povo ordeiro e trabalhador nunca se deixaram abater pelas intempéries da natureza, que impiedosamente castigou os Blumenauenses.

Nessa época trabalhava no setor de Recursos Humanos da Empresa Artex do Bairro Progresso, a empresa através de sua direção, colaborou dentro das possibilidades. Os funcionários atingidos, ou que moravam em locais de risco e de difícil acesso, podiam se ausentar ou sair mais cedo para se prevenir de uma eventual consequência. A residência do presidente da empresa Carlos Curt Zadrozny, foi violentamente tomada pelas águas, teve que ser resgatado pelo telhado. Certo dia, estávamos sintonizados direto com TV e rádios, quando em certa ocasião correu um boato que as barragens teriam se rompido, e que as águas atingiriam Blumenau em questão de poucas horas, a uma velocidade, que varreria tudo que estivesse a frente. Imediatamente os Empregados que moravam em área de risco, foram liberados. Nós aqui mais para o final do Bairro Garcia, Glória e Progresso não tínhamos maiores problemas, a não ser com o acesso e a falta de informações com parentes e amigos. 

- Como a prefeitura, onde também se localizava a defesa civil (A Defesa Civil de Santa Catarina foi organizada em 1973 e no mesmo ano, em 20 de dezembro, foi implantada em Blumenau a COMDEC - Comissão Municipal de Defesa Civil. Foi no governo Vilson P. Kleinubig em 1989 que foi criada A Defesa civil de Blumenau), estava tomado pelas águas, o então o Comandante do 23º BI Ten. Coronel Barreto, transferiu as instalações da defesa civil, para o 23º BI, no Bairro Garcia. A descida e decolagem de helicópteros eram constantes e os comentários os mais diversos tais como: que a cada vez que pousava uma aeronave, continham nelas vários corpos que eram estendidos nas dependências do Quartel. Os números comentados já passavam de 500 apavorando a população. 

- A ponte Adolfo Konder, que da acesso ao bairro Ponta Aguda, era alvo de especulações que estaria prestes a romper. - Também se ouvia das pessoas mais humildes, que parecia igual ao dilúvio bíblico, “o mundo inteiro estava tomado pelas águas”. Fato que realmente muitos acreditam, pois como na época do dilúvio, as pessoas viram ao seu redor tudo tomado pelas águas e imaginavam o pior, mas eram pessoas que não conheciam outros lugares, outros países, outros continentes. - A enchente de 1983 teve uma duração de 32 dias, do dia 05 de julho até 05 de agosto,atingiu a marca maior no dia 09 de julho, 15,34 metros .
Depoimento de Carlos Braga Mueller: 
Algumas gerações sofreram com as enchentes de 1880 e de 1911. A nossa geração amargou as cheias de 1983 e 1984, tragédia em dobro, uma atrás da outra.
A chuva e a névoa escura que se abateram sobre Blumenau durante quase todo o mês de julho de 1983 jamais sairão da minha memória. Na minha casa, na Vila Nova, eu podia ver e ouvir o barulho dos helicópteros da FAB que fizeram uma base na quadra de esportes da Cremer.

Todas as comunicações estavam cortadas e só rádio a pilha captava notícias. As emergências eram transmitidas pelos valorosos radioamadores. Foi uma alegria quando descobrimos que um telefone público estava funcionando! Ficava na Rua Engº Paul Werner, esquina com a Rua Daniel Pfaffendorf, em frente a um mercado que existia naquele local. Foi assim que pude tranquilizar minha mãe e minhas irmãs, que moravam em Curitiba e que não tinham notícias de nós. Graças ao solitário telefone, talvez o único que ainda funcionava em Blumenau, pude pedir que mandassem água mineral. Alcina, uma das minhas irmãs, disse que ia mandar laranjas.

Minha casa não pegou água, mas estávamos ilhados.

Éramos uma população flagelada!

Arquivo de Adalberto Day

3 Comentários:

Anônimo disse...

Adalberto, só pra contribuir.
A natureza não pune ninguém.
Nós, "humanos", que mau utilizamos as maravilhas que nos dão casa, alimento e satisfação.
Avaí, meu Avaí!
Lelo.

Adalberto Day disse...

André
Obrigado por publicar ou republicar nosso texto sobre a enchente de 1983. Trinta anos dessa tragédia para nós da região principalmente de Blumenau.
Lelo a natureza busca sim o que lhe pertence. Os espaços muito próximos às margens dos rios, ribeirões, encostas sendo indevidamente utilizados quando existe um limite de construção para que as águas nas cheias possam ter seu “espaço” que necessita quando de muitas chuvas, de locomoção normal. A natureza "pune" sim com quem faz as edificações desordenadas sem respeita-la, e por isso se o termo “pune” ou que impiedosamente castigou os blumenauenses. é para pegar na veia de nossos gestores públicos, aqueles que não obedecem.
Mas valeu pela contribuição, que acrescenta ao nosso trabalho.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

Unknown disse...

Se fala pouco da participação do 63º BI de Florianopolis na Enchente de 83. Eu era soldado naquele ano e fiquei 26 dias ajudando a distribuir alimentos, roupas e utensilios alem de fazer guarda nos supermercados e armazens de distribuição mas tambem salvamos varias pessoas das casas semi submersas. Não encontro nem uma foto ou artigo falando da nossa presença naquela fatidica catastrofe. Dinart Martins, soldado 328 da 2ª Cia do 63º Batalhão de Infantaria.

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