segunda-feira, 30 de junho de 2014

A fada dos dentes, by Alexandre C. Aguiar

Desde tempos imemoriais o futebol é jogado com os pés. Se o leitor não sabe, fut (foot) significa pés e bol (ball) é bola. Tá, eu sei, fui pedante, mas a brincadeirinha com a língua do antigo império britânico é um reforço necessário. Um outro esporte chamado futebol que não é jogado com os pés é coisa dos americanos do norte e seus vizinhos canadianos. Assim, futebol é o esporte jogado com os pés e que o mundo inteiro conhece e admira.
Dessa forma, qualquer coisa diferente do “bola nos pés” nos causa estranhamento. É preciso rever uma jogada “estranha” ao futebol ou diferente das regras do “jogar com os pés” para a gente se situar no que está vendo. E aí tomar uma decisão.
Por isso os impedimentos, os pênaltis e as faltas, quando duvidosos, são comentados e discutidos à exaustão, mesmo que no lance os jogadores tenham usado os pés como convém às regras do futebol.
Pense, então, o leitor, quando no lance duvidoso foi esquecido o pé e o jogador usou a mão. Ou, pior ainda, quando se usou o cotovelo no rosto alheio para sobressair numa jogada. Intermináveis discussões afloram quando estas coisas acontecem.
- Que punição se deve dar? – perguntam os entendidos do esporte da bola, de qualquer área e de qualquer time.
Imagine, então, quando um jogador resolve dar uma mordida num adversário, categorizado agora como um oponente a ser batido e não mais um jogador do outro time. Já pensou nisso?
Não se está mais discutindo uma falta, um impedimento, um pênalti mal marcado ou não marcado. Nem é mesmo um gol onde a bola entrou/não entrou. É uma mordida! O sujeito se aproxima do adversário/oponente/cruel inimigo e lhe crava os dentes, como um leão na jugular de uma gazela, um lobo sobre um cervo.
Os pés só servem agora para firmar adequadamente o predador no solo. A bola, objeto buscado por jogadores de futebol no mundo todo, nem aparece mais no foco da ação futebolística. O que temos agora é um ato selvagem, uma agressão antropofágica, uma arremedo às práticas da civilização que abandonou há muito tempo o canibalismo e todas as variantes usadas para este fim.
O atacante do Uruguai, nesta Copa versão a melhor de todas, se excedeu no simples ato de fazer uma falta no seu adversário e foi às vias de fato, no quesito morder a bola. Mordeu o que não devia, por certo. Luizito Suárez foi com unhas e dentes, muito mais com os dentes, mas extrapolou na vontade, ultrapassando os limites da civilidade. Por isso, foi devidamente punido. Não poderia ser diferente.
O curioso da história é ver pessoas que se mostram indiferentes às más práticas do futebol, moralistas de plantão a tudo que de ruim ocorre neste mundo da redondinha, este onde se joga com os pés, contemporizar, relativizar ou aceitar como normal tal atitude do atacante uruguaio. Isso tem limites, meu filho! E quem passa dos limites merece punição tão intensa quanto o ato em si.
Não gostou? Tá mordido com a atitude da FIFA? Dá o dedinho pro Luizito morder, dá!
* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC, proprietário do blog Força Azurra e um dos colaboradores do portal Todo Esporte SC. Foto acima: Reprodução TV

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