A sensatez que nos falta, by Alexandre C. Aguiar

O Seu Amadeu Horn, quando decidiu fundar o Avahy Football Club, lá nos idos de 1923, deve ter ouvido um grilo falante dizer-lhe: “nascerás campeão, terás força e terás um time de raça e garra, um autêntico Leão, que se criará mansinho, mas depois mostrará as garras e dominará a presa. Porém, terás ao teu lado, torcendo pra ti, uma legião de chatos e insuportáveis corneteiros, além de jornalistas medíocres e fofoqueiros contumazes a desfazer elenco, camisas, teu estádio, tuas glórias e conquistas em quaisquer circunstâncias. Assim será”.

E assim tem sido.

Todos os times, em qualquer campeonato, estreiam claudicando e com jogadores capengas, em sua maioria. Exceto em casos excepcionais, grande parte entra travada e pedindo um gás no intervalo. Águas ainda rolarão por debaixo da ponte até os diversos grupos de jogadores se acertarem. E os resultados, quando exitosos, serão conquistados na força das ventas e não por ter havido um bom futebol. Isso tem sido assim desde que Moisés abriu o Mar Vermelho com uma canoinha de garapuvu, ou que Buda decidiu sair debaixo daquela árvore e fazer um regime.

O discurso messiânico do vamu vamu, fulano eterno, amor e paixão assim ou assado não é comigo. Gosto é do futebol bem jogado por qualquer time. E se for o meu time, melhor ainda. Dessa forma, não sou dado às badalações próprias do futebol. De olhar a ascendência, nome de família e cor dos olhos de um jogador e sair dizendo: esse é bom, esse é ruim. Assim, os momentos de cada time e de cada partida, além das circunstâncias de qualquer campeonato, devem ser pesados e avaliados. Não sou comentarista de resultado.

Por isso, sair apitando que o jogador fulano é ruim porque errou uma jogada e não presta mais, que o outro por ter uma barriguinha é pereba ou que se o “meu meia” não jogar então eu não torço com alegria, é opinião de fígado. É impressão de gente de mal com a vida. É expressão de um inconformismo rastaquera. Uma impaciência sem sentido e sem afinação com o bom senso. Ponderação, calma, prudência? Nada! Isso não existe em nosso dicionário.

O que se leu e ouviu de bobagens sobre este jogo do Avaí logo na primeira partida, ainda no primeiro tempo, jogando fora de casa contra o JEC campeão da Série B, com o time errando, mas se superando, foi algo que suplanta qualquer tentativa de compreensão da postura de torcedor. Ou mesmo de jornalistas. Está além dos limites da impaciência. Acredito até que seja patológico e requeira a ajuda de profissionais. Houve gente que já queria desmanchar o elenco e contratar outros jogadores para o lugar dos que estavam em campo. Algo patético, deprimente, incapaz de se analisar sob uma ótica lúcida.

Reza a lenda que a sensatez não acompanha torcedores de futebol. Mas os avaianos não precisam exagerar tanto.

* Alexandre Carlos Aguiar é associado do Avaí FC e proprietário do blog Força Azurra. Foto acima: Delcir Iguatemi da Silveira Júnior