MARADONA CONHECIA DO RISCADO, by RC
Abri, uns tempos atrás, o livro do Eduardo Galeano, em espanhol, sobre futbol. Fui apenas passando os olhos
sobre as páginas bem escritas, escolhendo os títulos.
Muitas coisas já sabidas, sobre o infeliz Barbosa, goleiro da Seleção de
50, por exemplo, sua origem humilde, a sua frustração, a sua imagem fixada de culpado.
Sobre Romário, e seus duzentos pares de sapatos, Ronaldo Fenômeno e a nebulosa
Copa da França. Também o domínio das empresas internacionais sobre os grandes
clubes da Europa, do Japão, etc. De passagem, fiquei sabendo que o Berlusconi é
proprietário do time do Parma, se não me engano, e simplesmente de mais 300
empresas, puta que o pariu! Também que a boleta que o Maradona tomou na copa foi
a efedrina.
Ainda jovem e solteiro, faz tempo, ah, como faz, eu estava passando uma
semana com gripe e tosse, e um médico prescrevera-me um Xarope à base de
efedrina, que eu sequer sabia o que era. Depois, esses xaropes foram tirados do
mercado.
Acontece que no fim dessa tal semana, teria um jogo por jogar no Abrigo
de Menores, no sábado. Sábado chegado, (gripe só impede de jogar a jogador
profissional) em obediência à prescrição médica tomei uma colher de sopa do
xarope e, chuteira na sacola de pano, saí para o Abrigo. Seu Rodolfo, meu
grande pai, decidiu ir junto, para distrair-se.
Meninos, que gripe, que nada! Eu voei sem asas. Eu sentia o ar
empanturrando meus pulmões de um mundo de oxigênio. Eu tinha a força de cinco
javalis, eu saltava mais alto que todos, eu corria mais que todos, eu chegava
sempre primeiro na bola, e sentia uma espécie de expansão imensa. Meio
encucado, não entendia o que exatamente acontecia comigo, mas sabia que algo
estava maravilhosamente fora do ponto.
Pra terem ideia, devo ter enchido os olhos do jovem sujeito que estava
se preparando para ser árbitro da Federação Catarinense, cujo nome não gravei,
e que apitou o jogo, pois no final aconselhou seu Rodolfo a encaminhar-me a um
dos times profissionais da capital pra fazer teste.
Muitos anos depois, após ter lido num consultório médico um artigo sobre
o efeito estimulante da efedrina, é que consegui entender o milagre do futebol
que joguei naquele dia. Maradona conhecia do riscado. – RC
* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Foto acima: EFE
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