segunda-feira, 18 de junho de 2018

TITE E O DESVIO DE FOCO, by RC

É certo que houve irregularidade no gol da Suíça que o árbitro  não quis apitar, ou não teve peito para tanto. O empurrão sobre o zagueiro Miranda foi visível. No entanto os discursos de Tite e de seus comandados, a respeito dos lances irregulares no jogo, foram no sentido do acatamento da decisão da arbitragem sem qualquer contestação. Com efeito, ninguém encostou no árbitro e tal passividade e conformação irrestrita com o esbulho ficaram ratificadas nas tíbias entrevistas ao fim do jogo. 

Nossos atletas emitiram discursos padronizados, apaziguadores, mas ficou-me a impressão de que da parte deles a ideia de deixar barato não foi bem digerida.

Na coletiva Tite postou-se contrário à sugestão de Miranda, quando o jogador aventou a hipótese de ter-se jogado ao chão para melhor caracterizar a falta que de fato ocorreu. Me pareceu interessante a ideia, creio que o árbitro ver-se-ia na obrigação de apitar. Mas Tite foi veemente, falou como um pregador religioso, seu foco mais na questão moral que no interesse de vencer. 

Ninguém aqui está a advogar a falta de ética, a vantagem ilícita, mas a malícia faz parte desse jogo e não faz sentido exigir-se de um jogador que resista à queda quando empurrado, se a queda vai lhe ser benéfica. No caso estará exatamente fazendo o jogo do adversário, do delituoso, como vimos acontecer.

Enquanto nosso treinador escolhe ficar pregando solitário no deserto, o árbitro estranha e definitivamente negou-se a fazer uso dos recursos técnicos para chegar a uma avaliação correta e aprimorada do lance, e foi conivente com o rodízio dos atletas da Suíça, se revesando nas seguidas faltas sobre Neymar, maneira de não serem expulsos.

No futebol estimulamos os atletas chamando-os de guerreiros, para que sintam-se motivados a brigar com denodo na defesa das cores de nossos clubes. O velho e arguto João Saldanha foi além, jornalista competente, conhecedor do valor das imagens, criou as suas emblemáticas feras, as quais compuseram uma seleção verdadeiramente aguerrida e vencedora.

Quero estar enganado, mas acho que o Tite, se realmente tem intenção de priorizar o politicamente correto no âmbito dessa coisa chamada futebol, poderá estar incorrendo num lamentável desvio de foco e moldando um time de moços apenas bem comportados, que não chegarão a lugar nenhum.

* Roberto Costa é associado do Avaí FC. Foto acima: Getty Images

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