segunda-feira, 22 de abril de 2019

Campeão mais velho do Brasil, Geninho diz: "Provo para mim mesmo que posso"

O Avaí foi campeão catarinense nos pênaltis, sobre a Chapecoense. No banco de reservas, o técnico Geninho tornou-se o mais veterano dos treinadores a ganhar um estadual em 2019. Abel Braga tem 66 e conquistou pelo Flamengo. Felipão tem 70 e é o atual campeão brasileiro. Geninho tem mais idade do que os dois. Completará 71 anos no dia 15 de maio. Felipão faz aniversário em novembro.

Geninho também é o técnico brasileiro há mais tempo na Série A. Embora não dirija nenhuma equipe da principal divisão do futebol do país desde a Portuguesa, em 2012, sua estreia aconteceu na Francana, no Brasileirão de 1979. Fará 40 anos de Primeira Divisão no sábado, quando entrar em campo em Belo Horizonte para enfrentar o Atlético.

A história de Geninho é emocionante. Porque foi um goleiro discreto de clubes do interior de São Paulo, como Botafogo-SP e Francana. Sem marketing, chegou a campeão brasileiro pelo Athletico Paranaense e paulista pelo Corinthians. Nesta conversa, ele fala da carreira e do sentimento de estar vivo, ao ser campeão estadual pelo Avaí:

PVC – Você está fora da Série A desde 2012, mas é o técnico que estreou mais cedo no Brasileirão. Em 1979, pela Francana. Como se sente? 
GENINHO – Você falando agora é que me dou conta. Porque nos últimos seis anos, eu subi quatro clubes. Subi o Sport, em 2013, o Avaí em 2014, o ABC em 2015, fui bicampeão estadual pelo ABC também, e subi o Avaí em 2018. Não me dou conta de que estou fora da Série A todo esse tempo, porque estou trabalhando, ganhando coisas. Ser campeão estadual aqui em Santa Catarina, num clube que não ganhava havia sete anos, é importante.

PVC – Em que o futebol mudou nestes quarenta anos? 
GENINHO – Ah, mudou muito. O futebol era menos tático. O jogo se baseava mais na força de vontade. Tinha muita marcação, muito mais contato. Os árbitros deixavam encostar mais. Os campos não tinham a qualidade dos gramados de hoje nem havia divisões de base. Ou você era amador ou era profissional. Mas tinha uma qualidade técnica nata. O jogador já chegava com isso. Evoluiu o trabalho de base, o trabalho tático, os sistemas. Há trinta anos, já se trabalhava com técnicos muito bons. Com Ênio Andrade, Daltro Menezes… Gente que trabalhava a parte tática. Hoje, temos boa técnica, mas acho muito cerceada. Obriga-se jogador de talento a cumprir muita função. No Brasil, a gente sempre gostou de ataque. Sempre preferiu 5 x 3, 4 x 2, 5 x 4. Mesmo que sofresse gols. A gente importou a parte defensiva da Europa, mas regrediu na ofensiva.

PVC – Você é um dos cinco técnicos há mais de um ano no cargo. Acha que se houvesse mais estabilidade, haveria mais times buscando o ataque? 
GENINHO – Acho que sim. Porque tenho certeza de que muita gente gostaria de fazer seus times jogarem melhor. Mas nem todos têm a retaguarda do Abel, minha… Muita gente depende do emprego e quer se sedimentar na profissão. No futebol, tudo é treinamento. Tudo é repetição. Como não tem muito tempo para trabalhar, as repetições ofensivas diminuem. 

PVC – Como fazer para se manter em atividade e ser campeão depois de quarenta anos em times da primeira divisão do Brasileiro? 
GENINHO – Eu fui tentando me adaptar. Fui tentando ser bom aluno, sempre. Tento aprender até hoje. As pessoas têm separado os grupos de treinadores entre os "velhos ultrapassados" e "os jovens." Para mim, dá para fazer uma salada de frutas. Mais jovens podem buscar um pouco da experiência de quem trabalha há mais tempo e nós podemos buscar as novas metodologias, os novos jeitos de trabalhar. Acho que eu sou melhor hoje do que fui no passado. Consigo tirar mais do que cada jogador tem a oferecer. Por que isto é importante. A gente precisa extrair o que cada um tem de melhor. Por isso, trabalha-se com esporte em grupo. Eu também vejo coisas lá fora. Às vezes vou viajar, procuro um jogador que trabalhou comigo e hoje está no exterior. Sempre se abre a porta para ver um treino. Os técnicos europeus são bem abertos a isso.  

PVC – Você se acha melhor hoje do que era em 2001, quando foi campeão brasileiro pelo Athletico Paranaense? 
GENINHO – Até melhor do que era em 2001. Ali eu peguei um grupo que era muito especial. Mas acho que hoje eu conduzo melhor o grupo. Tenho mais paciência, não brigo mais com o juiz… Você vai aprendendo coisas também.

PVC – Acho que houve casos de técnicos mais velhos, como o Evaristo, talvez por ter sido craque, que pareciam ter perdido a paciência no final da carreira. O que faz ter mais calma? 
GENINHO – Talvez o Evaristo esperasse dos jogadores o que ele conseguia fazer. E nem todos fazem. Velho, se você não tem amor, se você não estiver com tesão. Se estiver nessa vida só por dinheiro ou só pelo glamour. Então sai fora. O grupo de jogadores percebe. Você vai para o campo e o grupo precisa entender que você está a fim. O meu grupo hoje às vezes pergunta se eu tomei alguma coisa. Eu digo a eles. Todos têm de provar que querem. Mas quem ganha são vocês, eu digo sempre.

PVC – Antes do Carille, você tinha sido o último campeão paulista numa final Corinthians x São Paulo, em 2003. Também foi campeão brasileiro pelo Athletico. Qual a diferença de ser campeão brasileiro, campeão como técnico do Corinthians e campeão aos 70 anos? 
GENINHOSer campeão brasileiro foi uma realização. Eu mudei de patamar, passei a ser visto como um dos melhores, melhorou meu salário, melhorou minha condição. Eu fui campeão no Anacleto Campanella, um estádio pequeno. Ser campeão no Corinthians, essa coisa de ser num clube de massa, é impressionante. Ser campeão aos 70 anos, há quarenta na ativa, é diferente. É provar para mim mesmo que eu posso. As pessoas não dizem que você está velho. Dizem que você está ultrapassado. Quando eu cheguei ano passado ao Avaí diziam isso. Então é diferente. Eu provo para mim mesmo que eu posso.

Fonte: Blog do PVC - UOL












Foto: Ailton Cruz/Gazeta

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