ESSE AVAÍ FAZ COISA - I, by Rui Guimarães
Histórias do Ceará
Nos nove meses à frente do Avaí, tive a oportunidade de conhecer notáveis avaianos. Eram dirigentes, jogadores, funcionários que eventualmente apareciam na Ressacada. E sempre naquelas "rodinhas", após os treinamentos, ouviam-se histórias curiosas, especialmente contadas pelo querido Ceará, muito espirituoso e e bem humorado, que administrava com muito esmero o estádio da Ressacada.
Como sempre gostei muito de histórias ligadas a clubes, jogadores, mídia esportiva e dirigentes, não perdia oportunidade e instigava para que fossem contados novos causos. Dentre tantos, meu amigo Ceará fazia questão de ressaltar e enfatizar causos do José Amorim, que na sua época de Avaí, acumulava múltiplas funções: presidente, técnico, tesoureiro, além de ter sido um grande jogador.
Saí do Avaí e depois de muitos anos voltei para dirigir o clube por mais duas ou três vezes na década de 90. Já não encontrei mais o Ceará, que gozava merecidamente sua aposentadoria.
As bolas do Carneiro
Por incrível que pareça, só fui conhecer o José Amorim em 2006, no sepultamento do Pico. Não perdi tempo e pedi para ele contar uma das suas. De pronto, me disse que a extinta CBD, na década de 70, baixou um decreto em que todos deveriam ter duas bolas novas. Pegou todo mundo no contra-pé.
Como ele dava até nó em pingo de éter e era mais liso que quiabo, mandou pintar duas bolas com a tinta Gato Preto, própria para pintar sapatos. O jogo era num domingo e o árbitro, examinando as bolas, não deu condições de jogo, perguntando onde estava o carimbo de fábrica. Instaurou-se o impasse. Só tinha uma saída. Amorim e Cavallazzi correram até a casa do Seu Carneiro, na Avenida Hercílio Luz, e o fizeram abrir sua loja na Conselheiro Mafra. Pegaram duas bolas novas, saíram ligeiros, mas antes ouviram os gritos do Seu Carneiro:
- E o pagamento?
Amorim, mais rápido que sua saída, soltou:
- Se nós não "pagamo", o borderô paga.
Seu Carneiro:
- Quem é esse tal de borderô?
- É um novo empresário que chegou à capital! - completou o dirigente.
Se pagou ou não, até hoje eu não sei, mas o importante é que foi realizado o jogo, no antigo estádio Adolfo Konder.
Fonte: Santa Bola - Crônicas e contos do futebol / Rui Guimarães - Florianópolis : [ S.n.], 2011. (Florianópolis : Imprensa Universitária da UFSC), p. 40-41
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