O CLÁSSICO DA INCOMPETÊNCIA, by Floripa Discover

Quem cresceu em Florianópolis sabe bem o que significava perder um clássico. Era encarar o colégio no dia seguinte sob o deboche dos colegas torcedores do rival. Essa rivalidade moldou gerações de manezinhos, porque no fim das contas fazia parte do jogo, saudável, dolorido às vezes, mas sempre dentro das quatro linhas.

Hoje, porém, o futebol ficou em segundo plano. Não é mais preciso esperar por um clássico para ouvir provocações. A vergonha vem antes mesmo do apito inicial. Graças à incompetência de dirigentes que sequestraram Avaí e Figueirense, a disputa já não é pelo placar em campo, mas pelo título nada honroso de gestão mais desastrosa do futebol catarinense.

Do lado azul e branco, o Avaí conseguiu a façanha de acumular três meses de pagamentos atrasados aos jogadores. A ironia é cruel: o Leão da Ilha foi um dos times que recentemente embolsaram milhões de reais da Liga Forte União. Dinheiro que supostamente deveria garantir estabilidade.

No lado alvinegro, o Figueirense já caminha para o sexto ano seguido na Série C, e passou a maior parte deles lutando contra o fantasma da Série D. Técnico emprestado, demissão de CEO, saída de ídolos e pedido de pix para a torcida. Enquanto isso, os mesmos dirigentes e figurões seguem no comando do clube.

A narrativa é parecida em ambos: promessas de investidores, planos de recuperação judicial, soluções mágicas que nunca se concretizam. Mas a raiz é uma só: dirigentes atrasados, despreparados e movidos por interesses próprios, que tratam Avaí e Figueirense como negócios particulares. Quando a coisa aperta, passam meses sem aparecer ou prestar contas para as torcidas.

O resultado é devastador. Dois gigantes estaduais transformados em reféns de gestões desastrosas. Torcedores sendo forçados a assistir, impotentes, à lenta destruição de duas instituições centenárias.

O “Clássico da Incompetência” não tem gols, não tem dribles, não tem espetáculo. É apenas a constatação amarga de que o maior inimigo do futebol manezinho não está no rival, mas sentado nas cadeiras do poder.