Júlio Heerdt encerra mandato e diz: ‘Não sou o pior presidente da história do Avaí’
O presidente do Avaí, Júlio Heerdt, encerra o seu mandato de quatro anos neste último dia de 2025. A partir de 1º de janeiro o advogado Bernardo Pessi assume a presidência e a responsabilidade pelas decisões do clube. Em entrevista na sala de onde comandou o Leão, Heerdt recebeu a reportagem do portal ND Mais para uma entrevista exclusiva.
O 52º presidente da história do Avaí, que teve uma forte oposição da torcida por conta da ausência de resultados, sobretudo na Série B, encerra o mandato com o título do Campeonato Catarinense 2025 e respondeu questões que são de ampla discussão nas rodas avaianas.
Por sinal, Júlio Heerdt encerra o seu período desejando sorte a Pessi e reafirmando um posicionamento sobre a própria gestão.
"Eu não sou o pior presidente da história do Avaí e tenho certeza que agora o Bernardo vai ser um presidente melhor que eu. É isso que eu espero que aconteça. Se eu puder ajudá-lo, se ele quiser que eu colabore, eu vou colaborar. Sou agora um conselheiro nato, vou estar no conselho deliberativo, vou continuar morando em Florianópolis, indo ao supermercado, vou continuar indo de cabeça erguida aos lugares que eu tenho que ir. E ao jogo do Avaí também!”.
Confira a
entrevista com Júlio Heerdt, presidente do Avaí na gestão 2022/25
ND: Qual o
sentimento em que você está terminando o mandato?
Júlio: Quando eu assumi o clube disse que isso era uma
responsabilidade muito grande e também um privilégio muito grande. Estou saindo
com um sentimento de dever cumprido e orgulhoso do que fiz, do que estou
fazendo e do legado que eu vou deixar no clube. Então esse é o primeiro
sentimento. E segundo, é claro que não iria agradar todo mundo.
ND: Qual a diferença do clube que você pegou e do
que está deixando?
Júlio: O Avaí está numa situação de gestão econômica e financeira grave há muito tempo, não vem só do meu mandato. O que eu vou entregar para o Bernardo é uma situação melhor do que eu peguei. Se a gente for relembrar, nós tínhamos acima de R$ 100 milhões de dívida vencida, cobrável na Justiça. A Ressacada estava com um processo de penhora. Era uma situação que a gente precisava resolver, não dava para conviver com a dívida vencida, com as ações judiciais.
Além disso, tinha que fazer o dia a dia do
futebol, quarta e domingo tu tinha que ganhar o jogo. Começamos a desenhar uma
recuperação judicial. Eu estava com muito medo de pedir uma RJ porque eu coloco
o meu CPF em cima da sobrevivência do clube. Eu gosto muito de Florianópolis,
meus filhos nasceram aqui, minha família está toda aqui.
Eu não queria que os torcedores do Avaí
falassem: ‘Olha, aquele presidente foi o responsável por quebrar o clube’.
Tentei o regime concentrado de execuções, mas o remédio não era suficiente. A
gente conseguiu a aprovação do plano (da RJ) e a gente vem pagando o plano
rigorosamente, exceto novembro que tivemos um atraso. O pagamento de dezembro
tem que ser feito agora 31 e nós vamos fazer. Estou com dinheiro em caixa agora
para fazer o pagamento, vou pagar em dia.
Peguei um clube com mais de R$ 100 milhões de
dívidas vencidas e estou entregando um clube com mais de R$ 100 milhões de
dívidas com um plano para pagar em 15 anos.
ND: Qual a situação financeira atual do Avaí?
Júlio: Problemas financeiros de atraso de fornecedores e atraso de salário? Temos. Mas qual gestão do Avaí, qual o clube do futebol não tem? Vários clubes da Série B têm, vários clubes da Série A, e isso não é motivo para dizer que aquele presidente quebrou o clube. É claro que as decisões que eu tomei de contratação de jogador não acertei 100%, mas ninguém acerta 100%. Mas eu fiz sempre na melhor intenção, tá?
ND: Torcedores apontam para uma possível gestão
temerária no Avaí, procede?
Júlio: Estão coletando assinaturas de conselheiros
para abrir um processo contra mim de gestão temerária. Gestão temerária é um
crime, está no Código Penal – está inclusive dentro do estatuto do Avaí e fala
se ‘o gestor embolsar dinheiro do clube’. Quem está falando que cometi a gestão
temerária, está falando que eu roubei alguma coisa do clube.
Quem fala o seguinte que o ‘Júlio foi um mau gestor,
contratou o fulano de tal e errou”, às vezes eu posso ter errado mesmo. Isso
não é gestão temerária, isso pode ter sido uma burrice administrativa, uma
decisão errada, mas isso não é crime. A eleição acabou.
Um dos maiores problemas do Avaí hoje é justamente essa
polarização política dentro do conselho deliberativo. Isso atrapalha muito.
Quando vem essas notícias assim de que o presidente cometeu gestão temerária,
eu tenho que conversar com o juiz da RJ para explicar.
ND: Como está a situação envolvendo os direitos de transmissão do clube com a
LFU (Liga Forte União)?
Júlio: Além dos recursos que nós tivemos que colocar
para pagamento da RJ e acertar dívidas, tivemos uma decisão do clube junto da
LFU que a gente recomprou 5% dos 20% que havíamos acordado. Então em 2025 a
gente tinha cerca de R$ 27 milhões para receber da LFU e a minha decisão foi de
abrir mão disso, porque a gente iria reduzir para 15% a questão da participação
do investidor nas receitas futuras de televisão do Avaí.
Por que tomei essa decisão? Porque achei que
era melhor para o Avaí. É melhor para o Avaí dentro dos próximos 48, 49 anos, a
gente ganhar mais 5% das receitas de TV em troca de R$ 25 milhões. Agora, se eu
pensasse só na gestão Júlio, depois de três aos e meio pagando em dia, era
melhor ter vendido. Trabalhei em benefício do futuro do Avaí e contra a minha
gestão.
ND: De que
forma o Avaí gastou na sua gestão os valores da Liga Forte União, superior a R$
60 milhões?
Júlio: Eu usei
efetivamente parte desse
dinheiro em 2023 e 2024, em 2025 não recebemos nada porque abri mão dos
5%. Esse recurso foi praticamente aplicado em pagamento de dívida, melhorias na
Ressacada, como gramado, construção dos campos do CFA, gramado sintético,
departamento médico com novos equipamentos, modernização de várias situações no
estádio. Antes nós tínhamos um campo de treinamento, mas hoje nós temos um
centro treinamento.
Tudo isso eu tinha submetido ao conselho deliberativo, que falou que
o recurso tem que ser aplicado pagamento de dívida, montagem de time
competitivo e melhoria estrutura. E assim foi feito.Então, quando eu montei o
time de 2022, que a gente caiu, eu tentei montar um time bem pé no chão. Trouxe
um treinador de primeira passagem, né? Que era o Alex. Vários guris da base,
sem investimento muito em jogadores.
O que aconteceu comigo em campo? Aí falei
assim: ‘agora vou receber um dinheiro da LFU, vou ter que salvar. Tanto é que
em 2023, o ano de centenário do Avaí, que a gente podia ter sido rebaixado, a
gente vira o turno entre os quatro da zona de rebaixamento. Eu trago o Barroca,
trago o Freeland e a gente consegue contratações. Parte do time da salvação de
2023 refletiu no time de 24.
Quando
percebi que o time de 24 faltava a liderança e tinha resquício daquele time,
‘limpei’ e afastei João Paulo, Pottker, Ronaldo Henrique, ou seja, pessoas que
estavam é influenciando não positivamente, porque às vezes talvez nem
negativamente, mas a gente precisava mexer.
ND: Foi uma
decepção a saída do Eduardo Freeland no meio da Série B 2025?
Júlio: Eu fiz um
esforço político forte para mantê-lo. No próprio pediram a cabeça do Freeland,
a própria imprensa, vocês colaboraram bastante para essa situação, né? Acredito
em trabalho, se a pessoa erra eu consigo corrigir, eu já sei os erros dessa
pessoa, mas conheço as qualidades dessa pessoa e eu posso aproveitar as
qualidades. Então eu prefiro trabalhar isso. Tem outros presidentes que
preferem entregar a cabeça.
Fiquei
frustrado pela saída do Freeland, acho que ele teria ajudado a gente nesse nessa
reta final. Assim como não fiquei satisfeito com a saída do Jair (Ventura), mas
futebol é assim. Esse ano eu tive três treinadores, mas não demiti nenhum.
ND: Qual o maior acerto e o maior erro da sua gestão?
Júlio: O maior
acerto é assim, é sempre aquilo que eu faço e o que eu acredito. Diria que o
meu jeito de gerir o clube, ouvindo as pessoas dando responsabilidades,
cobrando, foi um maior acerto. O maior erro ou arrependimento, que eu faria
diferente, é a questão política dentro do conselho. Eu poderia ter trabalhado
isso melhor, né?
De certa
forma acho que subestimei um pouco a força da oposição. As minhas decisões e
algumas coisas que eu falei magoaram pessoas que também se dedicaram como eu me
dediquei ao Avaí. A torcida do Avaí hoje não está muito feliz comigo. Eu talvez
não tenha conseguido trabalhar a minha a minha questão pessoal com a torcida.
Fonte: ND Mais / Jorge Jr.
Colaboração: Cláudio Cathcart e Heitor Machado
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Sem noção e cara de pau
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