OBERDAN, UM FOME DE BOLA, by RC
Passei grande parte da mocidade morando na rua Dom Jaime Câmara, paralela à Avenida Rio Branco, rua da Ultralitho.
Quando a rua, que chamávamos de nossa, foi cortada pela Avenida Osmar Cunha, cortando também dois ou três terrenos enormes, fechados, palcos de muitos de nossos folguedos eu era um adolescente. Faz tempo, realmente.
As máquinas surgiram truculentas, de repente, sem nos pedir licença, a nós, rapazes da rua que desfrutávamos a área todos os dias. Nossa ação, durante todo o período de confecção da rua resumiu-se em observar diariamente o barro revolvido, a vegetação que sucumbia sob a cruel lâmina
metálica. Mas, salvo em dias de chuva, em pouco tempo já conseguíamos utilizar a passagem como acesso até à rua Vidal Ramos, no centro, assim como os moradores do centro também acessavam mais rapidamente a então periferia.
Numa parte do enorme terreno aos fundos de onde eu morava, colocamos duas traves e fizemos um pequeno campo de pelada. O campo tinha uma característica marcante, de uma trave até o meio, era plano, do meio à outra trave era em aclive. Sim, uma rampa de sofrível escalada. Mas fazia nossa festa, ali buscávamos imitar nossos ídolos, Garrincha, Didi, Pelé, etc. Quem passava pela rua barrenta às vezes parava para observar nossas jogadas.
Certa feita, um amigo de nossa turma que morava no centro, começou a utilizar aquele via para ir tomar aulas com professor particular. No princípio parava, olhava, contagiava-se de nossa alegria com a bola e depois seguia seu trajeto. Mas era um fome de bola e dia houve em que não resistiu, tirou os sapatos, colocou os livros ao pé da trave, arregaçou a barra da calça jeans e mandou para o espaço as aulas que o pai pagava. Aceitou de imediato nosso convite para completar um dos times. Entrou, jogou o seu bom futebol, a sua forte pegada na bola. Seu nome, Oberdan Vilain, zagueiro ídolo de Coritiba, Grêmio e Santos, e que realizou o inimaginável para todos nós, ou seja, que alguém das peladas daquele tempo, da pacata Floripa, jogaria um dia com Pelé. Meu grande abraço ao Oberdan.
* Roberto Costa, o "RC", é associado do Avaí FC. Texto originalmente publicado em 12/05/2013. FotoS acima: Internet
Quando a rua, que chamávamos de nossa, foi cortada pela Avenida Osmar Cunha, cortando também dois ou três terrenos enormes, fechados, palcos de muitos de nossos folguedos eu era um adolescente. Faz tempo, realmente.
As máquinas surgiram truculentas, de repente, sem nos pedir licença, a nós, rapazes da rua que desfrutávamos a área todos os dias. Nossa ação, durante todo o período de confecção da rua resumiu-se em observar diariamente o barro revolvido, a vegetação que sucumbia sob a cruel lâmina
metálica. Mas, salvo em dias de chuva, em pouco tempo já conseguíamos utilizar a passagem como acesso até à rua Vidal Ramos, no centro, assim como os moradores do centro também acessavam mais rapidamente a então periferia.
Numa parte do enorme terreno aos fundos de onde eu morava, colocamos duas traves e fizemos um pequeno campo de pelada. O campo tinha uma característica marcante, de uma trave até o meio, era plano, do meio à outra trave era em aclive. Sim, uma rampa de sofrível escalada. Mas fazia nossa festa, ali buscávamos imitar nossos ídolos, Garrincha, Didi, Pelé, etc. Quem passava pela rua barrenta às vezes parava para observar nossas jogadas.


Esta reapresentação do texto me dá ensejo para mais um comentário.
Nos meus quarenta e alguns anos, eu jogava futebol aos sábados num sítio em Cacupé, de propriedade da família Polidoro Santiago, mais conhecido como campinho do Dodó.
Num desses sábados o evento foi honrado com a presença do Oberdan, já aposentado do futebol profissional.
Em dado momento do jogo, tendo eu a posse da bola e de costas para o gol, pressenti que algum marcador aproximava-se por trás. Ensaiei uma ginga para a esquerda e saí com a bola pela direita. Então ouvi Oberdan dizer, com humildade, mas com essa humildade que vem da grandeza de espírito: "Bolão Beto!"
É possível que o craque nem se recorde deste pequeno incidente. Entretanto, ficou gravado nas minhas reduzidas memórias de peladeiro.
Roberto Costa, ou Beto Rápido, como eu era conhecido na época desse evento.
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