sábado, 11 de abril de 2020

PÉROLAS DO PRESIDENTE DIONÍSIO - II, by Rui Guimarães

Normalmente, um dia antes dos jogos, eu reunia os jogadores do Avaí para a preleção referente aos trabalhos da semana e sempre pedia a presença do presidente, até mesmo, sem nenhuma maldade, para que os jogadores se deleitassem com suas tiradas. Numa dessas, lhe concedi a palavra e ele não perdeu a chance. Pediu muito empenho aos jogadores e salientou : "Vocês têm que trabalhar mais. Lembem que o trabalho danifica o homem". Alguns jogadores se entreolharam mas, por questão de respeito, não se manifestaram. Ao contrário do nosso supervisor de futebol, João Carlos Dias, que sabendo de antemão que alguma canelada seria dada, se escondia dentro da rouparia, ao lado do Duca, enquanto nosso preparador físico Stélio Serafim anotava as pérolas à medida em que elas pipocavam, para depois serem repassadas para mim. Enquanto isso João Carlos, escandaloso como sempre, não se aguentava de tanto rir.

Ousadia

Já disse outras vezes que Dionísio poderia ser ignorante no trato com as palavras, mas era ousado em algumas iniciativas. Tanto que trouxe para a Ressacada o jogo Flamengo x Grêmio, pela Super Copa dos Campeões. O jogo terminou 2 a 2 e teve desfile de grandes craques como Romário, Edmundo, Sávio, Adilson Batista, Paulo Nunes, e outros. Não resistiu, e, num encontro, após a partida, comentou comigo e com o João Carlos:

- Olha, escondendo as proporções, o Avaí não perde nada para esses caras.

De outra feita, comecei a ter muitos problemas com relação aos treinamentos por causa da chuva e do vento sul e, como o Avaí ainda não tinha campo suplementar, comentei meio desanimado:

- Poxa, tá difícil, esse tempo não ajuda.

Para variar, e não perder o gancho, mais do que depressa, Dionísio soltou:

- Rui, precisa de acostumar. Você não sabe que esse tempo é sempre 'estrábico'?

Comecei a imaginar: "Já vi tempo firme, chuvoso, instável, nublado, frio, ameno, quente, mas vesgo e zarolho é a primeira vez!".

Com muita paciência, expliquei a ele que aquela palavra não fazia o menor sentido como justificativa ao mau tempo. Se, se fazer de rogado, contra-atacou magistralmente, dizendo que eu estava certo e que o tempo em Floripa estava sendo "inconformado". Aí, me conformei e começamos a planejar a viagem para Caxias do Sul, para cumprirmos mais um compromisso pela Série C contra o Caxias.

Lâmpada vermelha

Em 1994, nosso gênio tinha voltado dos Estados Unidos, onde foi assistir à Copa do Mundo. Fomos de ônibus até a Serra Gaúcha e, estrategicamente, o João Carlos me colocou ao lado dele, na poltrona da frente e, malandramente, sentou na poltrona de trás para não perder nada. Seguimos viagem e eis que Dionísio pega na bolsa muitas fotos tiradas a Copa e começa a me mostrar. Eu sou meio desinteressado por fotos, mas uma delas, dentro das minhas intenções maquiavélicas, chamava atenção. Ele estava ao lado de um carro muito bonito defronte a um grande prédio. Perguntei:

- Onde que é isso e que carro é esse?

Incontinente, respondeu:

- Esse é um 'Pontic' que aluguei e esse prédio é a prisão de 'cinquentinha' onde ficou preso aquele famoso bandido da 'lâmpada vermelha'.

Em tempo: o carro era um Pontiac, a prisão era de San Quentin e o criminoso era Caryl Chesmam, conhecido mundialmente como o bandido da luz vermelha. Tem razão quem disse que "a ignorância é atrevida".

Fonte: Santa Bola - Crônicas e contos do futebol / Rui Guimarães - Florianópolis : [ S.n.], 2011. (Florianópolis : Imprensa Universitária da UFSC), p. 69-71

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